quinta-feira, julho 26, 2007

Equação

Os acidentes de trânsito representam a principal causa de morte entre os brasileiros. O caos aéreo acentuou-se de tal maneira nos últimos meses que o próprio Presidente da República revela ao povo ter medo de voar. Se o medo de avião já está levando os brasileiros a trocarem os céus pela estrada, o transporte rodoviário conduzirá um número cada vez maior de brasileiros. Mais brasileiros nas estradas, mais vítimas de trânsito. Se o governo, incompetente para solucionar o caos aéreo, manda o povo viajar de carro ou de ônibus, o que dirá quando voltarmos a nos dar conta que o caos no transporte rodoviário é muito maior?

101 anos depois

101 anos após o vôo do 14 Bis em Paris, marco da história da aviação e maior feito da ciência brasileira em toda a história, a incompetência e a desfaçatez institucionalizam, no Brasil, o medo de voar. Quando o Presidente da República revela ao povo que tem medo de avião, dizendo que "toda vez que fecho a porta, entrego minha sorte a Deus", assina um atestado de pusilaminidade e sentencia enfaticamente que voar nos céus brasileiros se assemelha a uma tentativa de suicídio. Com essa declaração, bem ao estilo "Lula no poder", o Presidente na verdade diz aos brasileiros que: "Não se preocupem, eu compartilho do mesmo medo que vocês. Voar em nossos céus é perigoso, clamem a Deus para que ele resolva o caos aéreo, pois eu também estou com medo". Declaração nesse teor, feita pelo homem que deveria agir para solucionar um problema que a mais de ano expõe a risco de morte milhões de brasileiros, já tendo levado a morte algumas centenas destes, significa que o governo está lavando as mãos e entregando o problema a Deus. Aos crédulos, rezem. Aos ateus, viagem de ônibus.

quarta-feira, julho 25, 2007

Investigação

Dois pilotos que conduziram o Airbus-A320 da TAM nos dias 15 e 16 de julho disseram à Polícia Civil de São Paulo que o avião estava em perfeitas condições, e que seria possível a aeronave frear com apenas um reverso funcionando. Atribuíram o acidente às condições da pista. Técnicos da Infraero, por sua vez, relataram que fizeram apenas inspeção ocular da pista - sem equipamentos - para detectar se a lâmina d´água no asfalto tinha mais de 3 milimetros, o que, segundo eles, não foi constatado.

terça-feira, julho 24, 2007

Brasil,Brasil,Brasil...

O governo anunciou hoje uma solução mágica para acabar com os problemas do transporte aéreo. A medida anunciada consiste no aumento das tarifas. Isso mesmo: aumento das tarifas! Não é piada não. Acredite! Brasil, foda-se ou deixe-o. É mais ou menos o lema do brasileiro. Apenas um adendo é necessário: deixe-o, mas não vá de avião...

Incredulidade

Idoso advogado surpreende-se ao saber que colega defendera cliente movido tão-somente por espírito solidário. No sistema vigente, a solidariedade gera desconfiança e incredulidade. Os solidários, desprovidos de interesse estritamente material, são tachados de idiotas. Nestes tempos de acentuado contraste entre riqueza e pobreza, parece não haver espaço para a solidariedade. Idiotizemo-nos todos.

Apagão

A pira acesa com a tocha dos jogos pan-americanos apagou hoje pela manhã. A causa do inusitado "apagão" do fogo seria a chuva. Os jogos pan-americanos acabam domingo. O circo será desmontado, a alegria esportiva voltará a dar lugar às tragédias do cotidiano.

Caos

Matéria do site Espaço Vital (www.espacovital.com.br) revela que gerentes da GOL têm alertado clientes vips da empresa, em Brasília e outros estados, para que evitem viajar até a próxima segunda-feira. O clima de insegurança que paira sobre o transporte aéreo brasileiro também levou centenas de pilotos a fugirem do trabalho valendo-se de licenças médicas e até mesmo pedidos de demissão. A conclusão sobre as causas do acidente da semana passada está longe de acontecer, enquanto isso somos submetidos a uma sucessão de desculpas esfarrapadas, negligência das autoridades e a utilização da tragédia como arma política.

segunda-feira, julho 23, 2007

A morte do Coronel

A morte de ACM, ocorrida na última sexta-feira, nos motiva a escrever algumas palavras sobre um dos maiores expoentes do coronelismo brasileiro. Antônio Carlos Magalhães, conhecido também pela apropriada alcunha de Toninho Malvadeza, foi uma das mais bem-sucedidas crias da ditadura militar. O grande mérito de ACM foi ter conseguido, junto com outras poucas criaturas do regime, se manter no poder após a "redemocratização" do país. Parido, construído e alavancado politicamente graças à seu forte laço de afeição aos militares, ACM alcançou a glória política, como tantos outros coronéis nordestinos, valendo-se sobretudo do privilegiado acesso a concessões de rádio e televisão. Segundo dados divulgados pelo Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (www.fndc.org.br), ACM, junto com sua família, era proprietário da Rede Bahia, que domina todos os segmentos de comunicações do Estado; de 6 geradoras de TV aberta e de 311 retransmissoras (todas filiadas à TV Globo); uma TV UHF; parte de operadora de TV a cabo de Salvador, abrangendo também Feira de Santana,; parte de uma operadora MMDS com outorga também na capital e em 3 cidades do interior da Bahia e em Pernanmbuco, afiliadas da NET TV; duas emissoras e uma rádio FM;um selo fonográfico; uma editora musical;um jornal diário; uma gráfica e uma empresa de conteúdo e entretenimento. Soube como poucos utilizar o poder político para obter concessões, e através dessas concessões dominar a mídia de seu Estado, retroalimentando sua sanha pelo poder. Proprietário desse vasto império, soube reciclar-se com maestria quando os militares se auto-defenestraram do poder, utilizando a mídia como instrumento de lobotomia, por meio da qual construiu subliminarmente uma imagem carismática perante seus eleitores. Foi no comando do Ministério das Comunicações, no governo Sarney (85-88), que o finado Toninho construiu a sua imagem de Malvado, utilizando a máquina estatal em proveito próprio, expandido seu poder desmesuradamente. A morte de ACM representa o fim de um ícone do coronelismo eletrônico. Para os defensores da democratização das comunicações, o 20 de julho poderia transformar-se em uma data comemorativa. No entanto, sabemos que nenhum coronel morre sem deixar sucessores. A dinastia malvadeza já se prolifera pelos escaninhos do poder, contaminando a vida pública brasileira por meio do uso da mídia como instrumento de deformação e conspurcação da liberdade de pensamento dos eleitores. A realidade é mais forte que a esperança. A realidade brasileira nos faz lamentar a deturpação do princípio da liberdade de imprensa. A democracia ainda é uma realidade longínqua nestes pagos.

quarta-feira, julho 18, 2007

Coincidências da vida

O Jornal TVCom narrou uma história fantástica ocorrida ontem no balcão da TAM, no Aeroporto Salgado Filho. Um cidadão que havia comprado sua passagem pela internet (bilhete eltrônico), foi impedido de embarcar no vôo 3054. A funcionária que fizera o atendimento, recusara-se a autorizar o embarque pelo fato de o cidadão ter esquecido o número do bilhete. Os jornalistas lembraram que no checkin é desnecessário dizer o número do bilhete, bastando apresentar a identidade. Por uma dessas inexplicáveis coincidências da vida, a funcionária foi intransigente quanto à negativa de autorização, provocando exaltados protestos por parte do consumidor, que não admitia a proibição do embarque.

Dúvida

O que farão, concretamente, a Infraero e a ANAC para solidarizar-se com os familiares das vítimas? O que farão, de fato, para evitar que a história se repita?

ANAC

ANAC lamenta e se solidariza com familiares das vítimas do acidente da TAM

A diretoria e os funcionários da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) lamentam e se solidarizam com os familiares e amigos das vítimas do acidente ocorrido terça-feira, 17/07, com o avião da TAM (JJ 3054) no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A ANAC também presta sua solidariedade aos familiares dos funcionários da companhia aérea mortos no exercício de suas funções no prédio atingido pela aeronave.

A ANAC está em permanente contato com a companhia aérea para fiscalizar a assistência que a TAM dará aos familiares das vítimas. A ANAC, em sintonia com os demais envolvidos nas investigações e apurações, acompanhará e fiscalizará as ações com objetivo de melhor informar aos familiares e a sociedade sobre a tragédia ocorrida.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), do Comando da Aeronáutica, iniciou prontamente os procedimentos de investigação do acidente. A ANAC está participando da “sala de crise” instalada no Aeroporto de Congonhas juntamente com o CENIPA, Infraero, representantes de todos os órgãos que trabalham no episódio, como IML, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil, além do Gerenciamento de Crise da TAM.

Infraero

Nota estampada no site da Infraero:

NOTA -Acidente em Congonhas


A Infraero lamenta profundamente o acidente ocorrido ontem às 18h50 com o vôo TAM 3054, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo e manifesta sua solidariedade aos familiares e amigos dos passageiros, tripulantes e vítimas em terra, colocando-se à disposição para o apoio que o momento requer. A empresa ressalta que todas as providências para o esclarecimento do acidente estão sendo tomadas pelos órgãos competentes e que são prematuras quaisquer hipóteses sobre o sinistro, sendo prudente aguardar-se as devidas investigações sobre o caso.







Enquanto isso....

A tragédia de ontem caiu bem para o Senador Renan Calheiros. Nas manchetes dos principais portais da rede, nenhuma palavra a respeito do Renangate. Se os jogos pan-americanos já haviam contribuído para desviar os holofotes das falcatruas do Senador alagoano, a queda do avião da TAM fez a mídia esquecê-lo um pouco. No site do Senado, para nossa surpresa, encontramos o senador na manchete: "Renan se solidariza com famílias das vítimas". Teria coragem o Senador de solidarizar-se pessoalmente com os familiares das vítimas?

MPF

O Ministério Público Federal, há 6 meses, ajuizou uma Ação Civil Pública postulando o fechamento do Aeroporto de Congonhas, face ao risco social representado pelo deficiente sistema de drenagem da pista. A Ação Civil Pública foi extinta após a Infraero e a Anac terem apresentado informações que atestariam a inexistência do risco alegado. Nesta quarta-feira, após o acidente de ontem, o MPF ajuizou nova ação, utilizando como causa de pedir as sucessivas derrapagens de aeronaves, bem como a não-conclusão da instalação das ranhuras, essenciais para auxiliar o sistema de frenagem das aeronaves. Quando inaugurado o aeroporto, o seu entorno era um local ermo e desabitado. Hoje, as inúmeras residências situadas nas cercanias da pista e, sobretudo, os sucessivos incidentes e acidentes dão plausibilidade às alegações de risco social.


Ouro


O Brasil conquistou sua 10ª medalha de ouro no Pan. Após as conquistas de ontem, o Brasil já aparece no quadro de medalhas em terceiro lugar, com apenas uma medalha de ouro a menos do que Cuba. Cinco medalhas de ouro vieram com a natação. Acima, Rebeca Gusmão, primeira nadadora brasileira a conquistar uma medalha de ouro em jogos pan-americanos.

Negligência

Em seu blog, o jornalista Fernando Rodrigues destaca que, segundo informações "preliminares", o avião da TAM teria tocado no ponto correto da pista e prosseguido em linha reta e alta velocidade. Tais fatos, se confirmados, descartam a hipótese de erro na operação de aterrisagem, bem como de aquaplanagem da pista. A maior dúvida é quanto ao porquê de o avião, embora sem erros na operação, nem seofrido efeitos da aquaplanagem, não teria conseguido reduzir a sua velocidade. Em outro post, o jornalista, com base em informação anônima, dada por funcionário público, consultor em finanças públicas e finanças públicas, levanta suspeita de negligência da Infraero ao receber e aprovar a obra da pista de Congonhas. A obra estaria incompleta, desrespeitando o contrato, tendo em vista que a instalação das ranhuras da pista não teria sido feita. O link do blog é http://uolpolitica.blog.uol.com.br/#2007_07-17_23_55_18-9961110-0 .

terça-feira, julho 17, 2007

Remo


O Remo brasileiro conquistou duas medalhas de bronze no dia de hoje. Acima, foto de Marcelo Marcili, principal remador brasileiro, atleta do Grêmio Naútico União, bronze no skiff simples. Marcilli tem dedicação exclusiva ao esporte, fato raro no esporte amador brasileiro. O remador, inclusive, reside na sede do GNU, em Porto Alegre.

Ouro gaúcho


Primeira medalha de ouro do esporte gaúcho no Pan do Rio.

Tragédia


Alteração nos planos salva delegação gremista de tragédia
Pelaipe revelou que o vôo 3054 iria levar o Grêmio para São Paulo

ClicRBS 19H55min


Acidente

Parece que o vôo da TAM teria saído de Porto Alegre. A notícia, embora ainda não confirmada, entristece os gaúchos. Ainda não há confirmação, mas parlamentares gaúchos estariam a bordo da aeronave.

Noite de terça

A noite de terça-fria é fria e feia aqui em Pelotas. Em São Paulo, uma nova tragédia cobre de luto a aviação civil. Parece que 170 passageiros estavam no avião da TAM que se acidentou agora há pouco no aeroporto de Congonhas. No Rio de Janeiro, a ginástica artística se consolida como uma das nossas mais vitoriosas modalidades esportivas. São quatro medalhas de ouro no total. Duas com Diego Hipólito (saltos e solo), uma com o gaúcho Mosiah Rodrigues (barra) e uma com Jader Barbosa (salto sobre o cavalo). Foram mais duas medalhas de prata e quatro de bronze, num total de 10 medalhas. Prolatei que os jogos pan-americanos não teriam maior relevância esportiva. Para reconhecer que me equivoquei no comentário da semana passada, espero que a repercussão desses resultados positivos produza resultados em forma de incentivo público e privado em modalidades esportivas até então pouco apoiadas.

domingo, julho 15, 2007

A realidade e a fantasia

Mais algumas palavras a respeito do Diogo Silva. O UOL revela que o atleta recebe somente 600 reais por mês da Confederação Brasileira de Taekwondo. Quantia essa que, além de pífia, é paga frequentemente com atraso. Atraso de 3 meses, em média. Além disso, ele perdeu uma bolsa de 2500 reais que recebia do governo federal porque, no período de renovação, estava disputando uma competição no exterior e perdeu o prazo. Para competir e treinar na Europa, teve de desembolsar 5 mil reais do próprio bolso. Dinheiro que vinha poupando há anos para comprar uma automóvel para sua mãe, manicure em Campinas. Essa é a realidade do esporte brasileiro. O futebol é uma ilha da fantasia em meio a um mundo de sofrimento e esforço sobre-humanos. A grande vitória do esporte brasileiro na tarde de hoje não foi a conquista da Copa América, nem a do hepta na liga mundial de vôlei. A grande conquista foi a do Diogo Silva. Um herói que a mídia até então ignorava, assim como muitos outros brasileiros que sobrevivem à crua realidade de nosso país.

Sobre a lógica

Pretendia começar este texto dizendo que agora há pouco mais uma vez o futebol subverteu a lógica. Mas percebi o equívoco em que estava incorrendo. A vitória da seleção brasileira observou com rigor a lógica do esporte. Lógica esta que reza que no esporte e na vida vence o bom e o que tem vontade de vencer. Não basta ser bom. Não basta apenas ter vontade de vencer. O vencedor, sempre, precisa preencher concomitantemente esses dois requisitos. E para consegui-lo, precisa observar um outro elemento, sem o qual os outros dois nunca poderão ser conectados: a competência. Qualidade e vontade, ligados pela competência, sempre redundarão em vitória. A conquista brasileira na Copa América, sobretudo neste jogo final, ocorreu por que a equipe adotou com rigor essa fórmula. Fórmula esta que, para desconforto dos críticos cariocas e paulistas, tem a marca do Dunga. O título da Copa América, assim como a conquista do tetra em 94, têm a cara do Dunga. Cara essa que não víamos na seleção brasileira desde a Copa de 2002, quando o Felipe nos trouxe o penta. O Brasil venceu porque adotou a humildade e desceu do panteão dos campeões por presunção..por antecipação. Desde 2002 não via uma seleção brasileira jogar com raça, com vontade. Desde 2002 não via uma seleção tão comprometida com a vitória, tão alheia às máscaras dos que se auto-intitulam deuses inconstestes do esporte. Desde 2002 não víamos uma seleção composta por atletas tão cientes da sua capacidade, mas ao mesmo tempo conscientes de que a qualidade não é o suficiente. Se bastasse a qualidade, seria a Argentina a campeã. Riquelme, Messi, Verón, Tevez, Aimar, Mascherano...como comparar esses jogadores aos nossos Júlio Batista, Vágner Love, Josué, Mineiro? Abissal diferença que se viu subtmamente subjugada dentro de campo. Os argentinos que não erravam passes, que tocavam sempre de primeira, que demonstravam uma técnica e uma consciência tática insuperáveis repentinamente não entraram em campo. O Riquelme nunca errou tantos passes, nunca bateu faltas com tamanha imprecisão. O Verón, o maestro argentino, parecia um apoplético meio-campista. O genial Messi foi completamente anulado pela marcação brasileira. Mascherano perdia todas as divididas. Os argentinos simplesmente levaram um chocolate do Brasil. A marcação imposta, a raça incansável, mas sobretudo a vontade de vencer nos deram o título. A Argentina se consolida como um histórico freguês do Brasil. Confesso, por fim, que antes da partida prolatava aos quatro cantos o meu entusiasmo e a minha admiração pelo futebol jogado por essa seleção argentina. Mais uma vez me equivoquei, assim como muitos também se equivocaram. Difícil é enfrentar o México, a Argentina é uma barbada. Como é bom ganhar da Argentina.



Ouro

Saiu a primeira medalha de ouro do Brasil nos jogos pan-americanos. Os resultados esportivos conduzem ao ufanismo, e dessa forma nos desenvergonhamos um pouco do circo. O ouro veio através de Diogo Silva, no taekwondo. O esporte nasceu em solo coreano, por volta de 1400 a.C. O medalhista é negro. O adversário batido, um índio peruano. Interessantíssima combinação. Diogo Silva beliscara a medalha de bronze nas Olimpiadas de Atenas, ocasião em que ingressou no tatame (os especialistas que me corrijam se estou denominando corretamente a área de combate) usando luvas pretas dos Panteras Negras, num protesto pela falta de apoio do esporte no país. Não esqueçamos do fato de hoje: Diogo Silva, medalha de ouro no taekwondo, categoria até 68Kg, Pan-Americano de 2007. Mas não se esqueçam, sobretudo, que Diogo Silva é um herói do esporte, um medalhista sem apoio, cujo mérito da vitória se deve única e exclusivamente à persistência e dedicação ao esporte que escolheu.

"O balão subiu"

A Folha On Line publicou agora há pouco interessante artigo a respeito de novos detalhes raltivos à famosa operação "Brother Sam" - arquitetada pelo então embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon - , através da qual os Estados Unidos dariam apoio logístico aos militares golpistas de 1964. Os novos dados foram extraídos de correspondência enviada pelo embaixador ao governo norte-americano, no qual solicitava o envio de munição, gás lacrimogênio, aviões-caças e navios com mísseis teleguiados. As armas e munições seriam enviadas à noite, por meio de submarinos. O plano acabou chancelado pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, e só não foi efetivado pela vitória tranquila das forças golpistas. Além dos detalhes da operação de apoio, os documentos revelam que os EUA adotariam uma atitude "construtiva e amistosa". O termo "construtiva" denota o firme propósito do governo-norte americano de, junto com os milicos brasileiros, promoverem uma reconstrução do governo brasileiro. Mais ou menos como tentaram fazer, à época, no Vietnã e, hoje, no Iraque. Vivíamos (menos este que ora escreve) então os tempos paranóicos da Guerra Fria, onde a ideologia dominante nestes pagos temia, e proliferava esse medo em meio ao povo, que o Brasil se tornasse uma nação comunista.

A operação "Brother Sam" acabou abortada por meio de mensagem enviada por Lincoln Gordon ao governo norte-americano, na qual informava o sucesso do golpe, com as seguintes palavras: "O balão subiu".

Não são poucos os historiadores que manifestam a opinião de que o caminho da ditadura, à esquerda ou à direita, era inevitável em 1964. Alguns sugerem inclusive uma ditadura sindicalista, de viés esquerdista, logicamente, como denotava o comportamento de João Goulart na época. Se nos tornaríamos uma Cuba ou uma União Soviética é difícil de prever. Mas a história nos mostra o que os anos de chumbo nos legaram: longo período de terrorismo institucionalizado, endividamento externo, aumento da subserveniência aos EUA, extermínio da cultura democrática e institucionalização do saque ao erário público.

Impossível negar o quanto a ditadura militar foi determinante para chegarmos ao caos institucional em que hoje nos encontramos.


sexta-feira, julho 13, 2007

O vergonhoso Pan 2007

Hoje à tarde todos os holofotes estarão direcionados para a abertura dos Jogos Pan -Americanos. A mídia, capitaneada pela Rede Globo, tenta instaurar um clima de euforia sobre os brasileiros. Não temos por que criticar a atitude da mídia. É o papel dela, papel até elogiável, pois representa uma tentativa de evitar um grande fiasco. Analisar o evento esportivo que se inicia na tarde de hoje - na verdade, desde ontem já começaram os jogos - requer que adotemos dois pontos de vista: o econômico e o esportivo. Do ponto de vista econômico, o Pan é uma vergonha. Orçado incialmente em 400 milhões de reais, o custo final do evento resultou em mais de 3 bilhões. O atraso na conclusão das obras, os vários casos de calote perpetrados pelos organizadores, além do prometido e não cumprido investimento em infra-estrutura na cidade do Rio de Janeiro - que ia desde obras de prolongamento do metrô a um aumento na destinação de recursos para a segurança pública - transformam o evento em um desastre. Desastre esse que também é constatado sob a ótica específica do esporte. Em um país onde o dinheiro se concentra apenas no futebol, motivo pelo qual os resultados positivos nas demais modalidades esportivas transformam os responsáveis em verdadeiros heróis, face à total ausência de apoio; além da notória falta de repercussão de conquistas em esportes como o iatismo, o hipismo e o judô, fazem com que essa atenção da mídia sobre o evento soe como alarde passageiro. Um circo sem maior importância para o contexto esportivo nacional. Por outro lado, os jogos pan-americanos nunca receberam maior atenção da mídia:Você sabe qual país ganhou a medalha de ouro no futebol ou no vôlei nos últimos jogos?. É inegável que no Brasil as atenções sobre o esporte dito amador restringem-se aos jogos olímpicos. Nunca sobre os campeonatos mundiais, muito menos sobre eventos como o pan-americano. Ademais, o prenúncio de um fracasso na organização dos jogos que se iniciam na tarde de hoje pode representar o sepultamento definitivo do sonho de sediarmos uma Copa do Mundo ou uma Olímpiada num futuro próximo. O pior é que, face à intrínseca desorganização brasileira, a frustração desse sonho pode não representar um lamento, mas sim um alívio. Espero estar errado.

Confisco

O Ministério da Fazenda informou, extra-oficialmente, que o percentual da carga tributária sobre o PIB brasileiro foi de 34,5% no ano passado. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconhece que o peso dos tributos sobre o bolso dos brasileiros representa uma injustiça. Apesar disso, e muito embora concorde que é necessária a redução desse percentual, o ministro não abrirá mão da CPMF, contribuição cuja vigência está prevista para terminar no próximo mês de dezembro. A excessiva carga tributária brasileira excede não apenas os padrões verificáveis em outros países latino-americanos, mas também os de muitos países desenvolvidos. Se ao menos os elevados valores que o contribuinte é obrigado a pagar ao Estado retornassem em forma de serviços públicos de qualidade, haveria uma justificativa para a sanha arrecadadora do FISCO. No entanto, o retorno recebido pelos contribuintes é pífio, evidenciando que o Estado transfere apenas os ônus da alimentação da máquina, sem qualquer bônus minimamente proporcional. Se não bastasse o verdadeiro confisco ao qual são submetidos os brasileiros, o Estado ainda desrespeita os ditames legais que vinculam a arrecadação de certos tributos à finalidades específicas, como no caso da CPMF. Além de onerar o bolso dos contribuintes, a escorchante carga tributária representa um fator de estagnação da economia, levando as empresas brasileiras a adotar a sonegação sob pena de paralisação de suas atividades. No Brasil, sonegação não poderia ser considerada atividade ilícita, mas necessário ato de desobediência civil. O ônus tributário também acarreta outro fato negativo, levando alguns brasileiros, empregadores, a esbravejar contra os direitos trabalhistas, como se o custo de manter empregados derivasse destes e não da voracidade do FISCO.

quarta-feira, julho 11, 2007

Exoplaneta

A imagem acima foi capturada pelo Telescópio Espacial Hubble. Trata-se do planeta HD 189733b, o mais recente exoplaneta descoberto, situado a cerca de 60 anos-luz da Terra. Pesquisadores detectaram a presença de vapor d´água em sua atmosfera.

A propósito, o Senador Renan Calheiros, com medo dos cartões vermelhos que seriam exibidos por senadores do PSOL, desistiu de presidir a sessão de votação da LDO.

Corrupção

Em relatório do Banco Mundial divulgado hoje, dados apontam que na categoria "controle de corrupção" o Brasil apresentou seu pior nível desde o primeiro levantamento, feito em 1996. A categoria é conceituada como "a medida da extensão com que o poder público é exercido para ganhos privados, incluindo tanto pequenas quanto grandes formas de corrupção, assim como o "seqüestro" do Estado por elites e interesses privados". Desde que o estudo começou a ser realizado, o Brasil teve melhoras nos períodos de 1998, 2000, 2002 e 2003. As estatísticas divulgadas hoje anulam as melhorias verificadas em anos anteriores. O responsável pelo relatório diz que o "mercado da corrupção", em todo o mundo, representa um custo de um trilhão de dólares.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1107200709.htm

terça-feira, julho 10, 2007

Os submarinos e a energia limpa

Li no portal do UOL: Lula admite atraso e destina R$1 bi a projeto nuclear da marinha. Um bi reais! Um bi reais pra Marinha brincar de farbicar submarinos. Submarinos com propulsão nuclear. "Energia limpa", diz o Lula. A moda da energia limpa em questão começou com os milicos, no final dos anos setenta. Milico adora energia limpa. Torraram milhões de dólares com os elefantes-brancos de Angra, suspenderam o projeto, nos relegaram dividas monstruosas. Dívidas monstruosas em um regime monstruoso.Desde a época do Openheimer, desde Hiroshima. Energia limpa. Fissura do núcleo de átomos de urânio para fins bélicos. Foi assim que começou. Brincaram de fabricar a bomba e a jogaram em Hiroshima e Nagasaki. Um ministro japonês foi demitido há poucos diz ao manifestar a opinião de que as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki foram medidas inevitáveis para acelerar o fim da guerra. Sim, um ministro japonês foi quem disse. Foi demitido. Liberdade de expressão. Liberdade de falar bobagens como essa. Esquecera-se o ministro que o Japão já estava com a rendição assinada quando os americanos resolveram brincar de jogar o sol sobre a Terra do Sol Nascente?Talvez eu que não saiba nada de História. Um bi pra marinha. Lula destina um bi pra Marinha, e pede desculpas pelo atraso. Lula está certo, o Brasil precisa de muitos submarinos nucleares.

A pizza e a morte do chinês corrupto

A China executou hoje um ex-ministro condenado por receber proprina da indústria farmacêutica. A pena de morte aplicada em agentes políticos corruptos é medida utilizada pelo governo chinês com o propósito de agradar a sofrida grande maioria da população chinesa, alijada das benésses que muitos poucos chineses desfrutam nesta era de opulência econômica. Somos intransigentemente contrários à pena de morte, mas não podemos deixar de louvar as estatísticas chinesas de dura repressão à corrupção; mazela que lá, como aqui, é acentuada. Não existem governos incorruptíveis. Mas governos que, além de maculados pela corrupção, sejam tão coniventes com ela como o brasileiro, são poucos no mundo minimamente esclarecido. Nossa corrupção é endêmica, endemia esta que somente poderia ser combatida se a certeza da punibilidade fosse uma constante em nosso país. No entanto, neste dia da pizza, deveríamos homenagear os nossos governantes lenientes e corruptos com bombardeios de pizza. Deveríamos bombardeá-los com pizzas reais, suculentas, numa tentativa democrática de fazê-los sentir na cara, na cabeça a nossa ojeriza a essa metafóra sórdida que já estamos cansados de engolir. Bombardeá-los com pizzas de verdade, já que bombardeá-los com as leis penais parece uma utopia nestes tempos de roubalheira generalizada e não punida.

sexta-feira, julho 06, 2007

Sobre a Índia e os Cartões de Crédito

O Herald Tribune noticia que os indianos estão revoltados com as tarifas e taxas cobradas pelas administradoras de cartão de crédito no país. Insurgem-se contra o crescimento estratosférico do saldo devedor na hipótese de pagamento mínimo. A conscientização dos consumidores indianos é forte, redundando numa diminuição acentuada do uso do "dinheiro de plástico". Esse crescimento exponencial deriva de um mecanismo que, como disse certa vez um desembargados meu conhecido, "é da natureza do contrato de cartão de crédito". Essa natureza se chama agiotagem oficial, escamoteada para o consumidor no momento da assinatura do contrato (na verdade, mera adesão, sem assinatura), quando o consumidor é ludibriado e incentivado com a falsa promessa de que basta efetuar o pagamento mínimo constante da fatura para amortizar o saldo devedor em pouco tempo e sem incomodação. Lá, como cá, os efeitos são os mesmos. Se o direito posto não se preocupa em adequar as condutas sociais a patamares justos, resta ao consumidor evitar a diabólica tentação do crédito fácil e não entrar no conto do dinheiro de plástico.

Estatística

Deu no blog do Fernando Rodrigues: sob a égide da Constituição de 1988, dos 130 processos que tramitaram contra políticos e altas autoridades no STF, nenhum resultou em condenação, e 46 processos sequer foram analisados - restornaram à 1ª instância em virtude do término do mandato dos réus . Já no STJ, desde 1989 (ano de criação do tribunal), das 483 ações penais, apenas 5 resultaram em condenação, enquanto que 11 redundaram em absolvição. A Associação dos Magistrados Brasileiros foi a fonte dos dados.

terça-feira, julho 03, 2007

Leitura obrigatória

Sob o domínio dos bancos, por Bernardo Kucinski

www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3648

domingo, julho 01, 2007

Bancada podre

Em sua coluna de hoje na Folha de São Paulo, Clóvis Rossi observa que 85% da bancada do PMDB no Senado está envolvido em pendengas judiciais. Ou seja: apenas três dos vinte senadores da maior bancada da casa passam incólumes a um exame de credibilidade ética. Importante dar nome aos bois. São eles: Pedro Simon, Paulo Duque e Geraldo Mesquita. Considerando que o presidente Lula manifestou a intenção de que, na hipótese de Renan Calheiros ser defenestrado, a presidência do Senado deverá ser ocupada por outro peemedebista, a escolha só pode recair sobre uma dessas três "freiras do prostíbulo", como os denominou o articulista. No entanto, ao que parece, a casa deverá ser presidida por Sarney ou Marco Maciel. Tal fato apenas corrobora o que já sabemos: na política brasileira, o quesito idoneidade ética foi de há muito mandado às favas.

Os arquivos

A abertura dos arquivos secretos da CIA, levada a cabo nos últimos dias, mais do que revelar a atuação e ingerência do governo norte-americano sobre a América Latina, marcada por tentativas de assassinato de líderes de esquerda à elaboração de relatórios investigativos permeados de imprecisões interpretativas, serve de escopo para que reflitamos mais uma vez sobre a omissão do governo brasileiro em abrir os arquivos secretos da ditadura militar.

A grande mídia, embora de forma ocasional, tem se insurgido contra esse verdadeiro atentado ao direito de informação da sociedade brasileira. Esta, por sua vez, talvez em decorrência da overdose de escândalos noticiados cotidianamente pela imprensa, não tem demonstrado grande disposição em lutar pelo direito que lhe assegura tanto a Constituição quanto a legislação infraconstitucional. Afora aqueles que tiveram familiares diretamente vitimados pelo regime, a maioria dos brasileiros não parece nem um pouco interessada em conhecer maiores detalhes sobre o que ocorria nas masmorras dos anos de chumbo.

Não obstante a omissão do Executivo, o Ministério Público e alguns setores da sociedade civil têm clamado pela abertura dos arquivos, sem, no entanto, obter grande sucesso.

Não se trata simplesmente de elogiar o forte respeito dos norte-americanos pela liberdade de informação – o qual de fato existe, embora severamente mitigado nestes tempos de governo Bush -, mas sim de exigir do governo brasileiro que acabe logo com essa injustificada omissão.

Vozes autorizadas afirmam que a omissão do governo brasileiro tem como propósito preservar a honra e a imagem de militares e de políticos, de esquerda e de direita, que ainda conservam o status de homens públicos.

É a velha tática de varrer a sujeira para baixo do tapete. Cabe à sociedade civil repensar a sua atitude para com essa omissão e perceber que a sujeira acumulada durante tantos anos sob o tapete guarda íntima relação com a de hoje. E que sem remover o tapete, toda essa sujeira histórica não poderá ser definitivamente varrida.