quinta-feira, dezembro 27, 2007

Os Condores

Segundo os documentos oficiais examinados até hoje, a participação do Brasil na Operação Condor não consistia em cometer assassinatos. No entanto, os mesmos documentos - grande parte relatórios da CIA - revelam que militares brasileiros participavam diretamente na captura, no sequestro e na entrega de opositores aos diversos regimes militares da época. Se não "sujavam as mãos" executando as vítimas, os militares as entregavam aos vizinhos aliados, os quais, por sua vez, encarregavam-se de assassiná-las. Além de fornecer informações aos governos vizinhos, e sequestrar os "subversivos", os militares torturavam friamente os capturados.

Vozes de peso, como as dos ex-ministros do STF Francisco Rezek, Carlos Veloso, e do atual Ministro Marco Aurélio Mello, afirmam que os pedidos de extradição dos 11 indiciados pela Justiça italiana não deverão prosperar. Rezek afirma ainda que os crimes em que foram enquadrados (tortura, homicídio e desaparecimento) já estariam prescritos. Para penalistas de renome, como o advogado Belisário dos Santos Jr., os crimes de tortura, além de submeterem-se à jurisdição internacional, são imprescritíveis. Alguns especialistas invocam a Lei de Anistia como fundamento para a inimputabilidade dos 11 indiciados. O presidente da OAB, Cézar Britto, embora compartilhe da opinião de que os indiciados não podem ser responsabilizados penalmente, opina que a Lei da Anistia não pode impedir a abertura de processos que servirão como censura às condutas criminosas praticadas durante o regime. Na comarca de São Paulo tramita uma ação cível, cuja pretensão é a obtenção de provimento jurisdicional que declare que o ex-general reformado Carlos Alberto Ustra praticou crimes de seqüestro e tortura durante a ditadura militar.

Ainda que a extradição dos 11 indiciados seja inconstitucional e que a instauração de processo semelhante no Brasil seja improvável, a iniciativa da Justiça italiana é louvável, na medida em que sacode o tapete e revela um pouco da sujeira que ainda está escondida. Temos o direito de obter acesso à toda e qualquer informação referente às barbáries praticadas pelos condores brasileiros. A insistência em manter lacrados os arquivos de um dos períodos mais negros da nossa história é uma ofensa ao povo brasileiro.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Justiça italiana inicia devassa na Caserna brasileira

A BBC Brasil divulgou a lista dos 11 milicos que tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça italiana por co-responsabilidade no desaparecimento de cidadãos italianos durante o regime militar. O governo brasileiro, por intermédio do Ministro Tarso Genro, afirmou que não poderá colaborar com o pedido de extradição. A Constituição Federal, tão vilipendiada durante os anos de chumbo, acaba servindo de escudo para os generelíssimos, uma vez que o Brasil não pode autorizar a extradição de brasileiros para responderem a processos no exterior.

Eis a lista:

Carlos Alberto Ponzi - ex-chefe do SNI em Porto Alegre

Agnello de Araújo Britto - ex-superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro

Antônio Bandeira - ex-comandante do 3º Exército

Henrique Domingues - ex-comandante do Estado Maior do 3º Exército

Luís Macksen de Castro Rodrigues - ex-superintendente da Polícia Federal no Rio Grande do Sul

João Leivas Job - ex-secretário de Segurança no Rio Grande do Sul

Átila Rohrsetzer - ex-diretor da Divisão Central de Informações

Marco Aurélio da Silva Reis - ex-diretor do Dops no Rio Grande do Sul

Octávio de Medeiros - ex-ministro do Serviço Nacional de Informações

Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho - ex-diretor e comandante da Escola Superior de Guerra e irmão do ex-presidente Figueiredo

Edmundo Murgel - ex-secretário de Segurança no Rio de Janeiro


Procuradas pela imprensa, as vozes da Caserna mantêm-se em silêncio sepulcral.

terça-feira, dezembro 25, 2007

A Raiz de todo mal?

Chuvinha gostosa, calorzinho suportável, preguiça pós ceia de Natal, distância geográfica, solidão inevitável...clima propicio para cometer o sacrilégio de curtir o ócio assistindo ao documentário The Root of Evil?, do biólogo e militante ateísta Richard Dawkins.

Antes de analisar as opiniões externadas por Dawkins, é preciso analisar o contexto em que são produzidas.

Nenhuma outra nação ocidental vive sob o jugo do fundamentalismo cristão como os Estados Unidos da América. Na verdade, os EUA são cria de um grupo de fundamentalistas protestantes que rumaram para o Novo Mundo com a firme convicção de que eram os escolhidos de Deus para a tarefa de construir a Terra Prometida. Há mais de 300 anos, essa idéia não soava de maneira tão maluca. Ocorre que hoje, esse tipo de pensamento, verdadeiro delírio coletivo que assola mais de 75% do povo norte-americano, é um grave problema. Mais de 135 milhões de norte-americanos acredita na existência do Inferno, dentre eles o Presidente. Pior do que acreditarem que o pecado conduz ao inferno, é achar que a purificação proposta pelas centenas de seitas neopentecostais lhes assegurará um lugar cativo no Paraíso; e que tudo o que aqui fizerem, desde que freqüentem os cultos e sigam a doutrina, lhes salvará.

O fundamentalismo cristão é um problema gravíssimo, verdadeira epidemia que assola as terras do Tio Sam. Uma nação em que as escolas, a grande maioria delas, execra a teoria da evolução e tem no Gênese a única fonte capaz de revelar a verdade sobre a origem da vida, padece de uma assustadora doença, carecendo de forte oposição em termos pedagógicos.

Para 80% dos norte-americanos, o Universo foi criado há menos de 6 mil anos. A Teoria da Evolução é uma falácia, um sacrilégio que reduz os filhos de Deus à meros animais.

É contra esse tipo de alienação que Dawkins se insurge, ferrenhamente, pregando que a religião é a raiz de todo o mal.

Dawkins discorre a respeito do fundamentalismo islâmico (fonte dos homens-bomba) e mosaico. Mas mais tempo a derrubar os dogmas cristãos.

Ao se dispôr a enfrentar tamanha batalha, contrapondo a luz da ciência às trevas da fé, Dawkins acaba, de forma paradoxal, pregando uma espécie de fundamentalismo científico.

Embora agnóstico, discordo que a religião, strito senso, seja a raiz de todo o mal. O fundamentalismo, sim, é uma das tantas raízes do mal reinante.

Religião e ciência, fé e razão, são formas diferentes de tentar descrever o homem, a vida, o Universo.

A religião se torna maléfica quando se apresenta como a dona da verdade, das verdades primeiras e últimas. Reconheço que a grande maioria delas se propõe a isso; mas existem muitas, todas elas de origem oriental, que se restringem a procurar ajudar as pessoas a buscar o auto-conhecimento. Não se preocupam em pregar verdades, mas ajudar as pessoas a encontrá-las, tudo em nome de uma finalidade única: viver segundo preceitos de solidariedade, de respeito e amor ao próximo e a si próprio.

À ciência incumbe a tarefa de descrever as regras do Universo. De contemplar e descrever. De se questionar ao infinito, sobrepujando teorias obsoletas e chegar o mais próximo possível da compreensão do todo - que se um dia acontecer, representará o seu próprio fim.

Não cabe à ciência provar ou negar a existência de Deus. Assim como não é tarefa da religião dizer como, quando e porque o Universo e a vida foram criados.

Quando cientistas e religiosos se conscientizarem a respeito de suas tarefas, e muitos o são, não haverá lugar para os fundamentalismos.

3 Filmes sobre a História da Irlanda

Domingo Sangrento (Bloddy Sunday), 2001, direção de Paul Greengrass

Em Nome do Pai (In the Name of the Father), 1993, direção de Jim Sheridan, com Daniel Day- Lewis, Pete Postlethwait e Emma Thompson

Michael Collins, 1996, direção de Neil Jordan, com Liam Neesson, Stephen Rea, Aidan Quinn e Julia Roberts

Irlanda


Antes de sua adesão à União Européia, ocorrida em 1973, a Irlanda era um país extremamente pobre, predominantemente agrícola, atividade desenvolvida de forma rudimentar, incapaz de propiciar o necessário desenvolvimento econômico.

Como membro da União Européia, a Irlanda vivencia um boom econômico, fruto da modernização econômica e da grande modernização tecnológica.

Durante séculos, a Irlanda foi o derradeiro recanto da cultura celta, que antes abrangia a França e a Inglaterra. No século V, foi convertida ao cristianismo por St. Patrick. Desde o século XII, quando o rei normando-inglês Henrique II resolveu ocupá-la, os irlandeses passarem a sofrer severos martírios sob o jugo da espada inglesa.

No século XVI, quando da Reforma Protestante, mais especificamente com o rompimento de Henrique VIII com Roma, que culminou na fundação da Igreja Anglicana, os irlandeses, de arraigado catolicismo, rebelaram-se corajosamente contra o domínio inglês. Como estratégia para "amansar" os rebeldes irlandeses, Henrique VIII editou a Lei da Cedência e Devolução, através da qual transformava todas as terras da Irlanda em propriedade pessoal sua, do Rei. Somente os proprietários que jurassem fidelidade ao rei inglês teriam devolvidas as terras expropriadas. Cada motim irlandês era reprimido com o aumento do confisco de terras. Em 1570, a rainha Isabel I proibiu o comércio de lã, que rivalizava com a produção inglesa. Medidas idênticas foram tomadas contra a produção de tabaco e de algodão, o que lançou a ilha num estado de pobreza crônica. Os ingleses, não satisfeitos em aniquilar a economia irlandesa, passaram a reprimir as manifestações culturais celtas, proibindo sua língua e seus trajes, num dos maiores etnocídios da história da Europa.

Ao longo dos séculos, a luta entre ingleses e irlandeses apenas se intensificou. No século XX, o domínio inglês determinou ao povo irlandês que se alistasse para lutar pela Inglaterra na 1ª Guerra Mundial, fato que levou o genial poeta W.Yeats a escrever que o destino do povo irlandês é "guerrear a quem não odiavam e proteger a quem não amavam".

Em 1916, aproveitando o enfraquecimento inglês, fruto do envolvimento na primeira grande guerra, um grupo de militantes da Irmandade Republicana irlandesa (predecessora do IRA), organizaram um levante que redundou na proclamação da República Irlandesa.

A principal força rebelde irlandesa, o IRA, fundado por Michael Collins, passou a protagonizar uma série de ações espetaculares, que levaram a decretação de Lei Marcial em solo irlandês. Em 1920, como represália a morte de 14 oficiais ingleses, um grupo de forças especiais a serviço da Inglaterra (Blacks and Tans) invadiram um estádio de futebol em Dublin e abriram fogo, covardemente, contra os espectadores, culminando em 12 mortos e centenas de feridos. O episódio ficou conhecido como Bloody Sunday.

Em 6 de dezembro de 1921, os irlandeses, liderados por Michael Collins, assinaram o Tratado Anglo-Irlandês, que assegurou a indepedência parcial da Irlanda, na medida em que, ao norte, 6 províncias do Ulster, predominantemente protestante, permaneceriam ligadas à Inglaterra.

Neste século, o IRA aceitou baixar as armas. Em troca, os ingleses passaram a respeitar os 3/4 do território como independentes. A economia irlandesa vem dando um salto significativo, e no campo cultural fala-se em um "renascimento gaélico". Após mais de 800 anos servindo de laboratório para as mais abomináveis atrocidades perpetradas pelo imperialismo britânico, hoje a Irlanda parece ter conseguido, após tanto heroísmo e bravura, alcançar a paz.


Pesquisa: História por Voltaire Schiling (http://educaterra.terra.com.br/voltaire/index.htm)

Como tudo funciona

Já havia indicado o site Como tudo funciona (link na lista ao lado) quando me meti a fazer uma breve descrição sobre a origem e o funcionamento dos buracos negros.

O site foi criado em 1998, por um professor da Universidade Estadual da Carolina do Norte. Se você é curioso, garanto que vai se deleitar com as informações nele contidas. Os assuntos são divididos por tópicos e subtópicos, como ciência (ciências da vida, ciências naturais, ciências da Terra, engenharia, espaço e sobrenatural) e sua casa (coisas da casa, comida, segurança da casa, reforma doméstica, home office, no jardim). É possível descobrir desde como consertar uma geladeira até como se dá a partida nos motores a jato dos aviões.

Num feriado chuvoso como o de hoje, em que não estamos a fim de nos desgastarmos com maiores preocupações, é uma excelente pedida para passar o tempo.

Natal na Caserna

Alguns "generalíssimos" brasileiros receberam um presente de Natal bastante indigesto. A justiça italiana expediu mandado de prisão contra 13 militares brasileiros, protagonistas da Operação Condor, espécie de "Mercosul do Terror" posto em prática pelas sanguinárias ditaduras que assolaram o continente dos anos 60 ao final dos 80. Os nomes dos milicos brasileiros ainda não foram revelados, e as ordens de prisão têm por fundamento a necessária punição dos responsáveis pelo desaparecimento de 22 cidadões italianos durante os anos de chumbo. D. Aloísio Lorscheider parece ter tido uma conversa ao pé-do-ouvido com o Onipresente, tão logo desembarcou no andar de cima. Infelizmente, parece que somente por iniciativa do Judiciário do Velho Continente é que os bandidos que aterrorizaram a América Latina durante os governos militares poderão sofrer alguma punição. Chile, Argentina e Uruguai nem tanto, mas em nosso país, os crimes da ditadura estão longe de merecerem a devida punição pelo Estado. É constrangedor o pacto de silêncio que os governos brasileiros, mesmo quando exercidos por próceres do combate aos governos militares, insistem em impor à sociedade brasileira.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Rádio Blog:U2

Pela próxima semana, disponibilizaremos clipes dos geniais irlandeses do U2. Acabei de postar os clipes e tive a decepção de constatar que o clipe da música Vertigo está falhando. Espero que o problema seja na minha conexão. Se vocês compartilharem a mesma falha, informo que após escolher um dos clipes, é possível assistir a outros. Os recursos do blogger ainda não permitem que façamos uma seleção, portanto as músicas aqui disponibilizadas são selecionadas aleatoriamente pelo you tube. Espero que sejam do agrado.

U2


Enquanto as ruas de Dublin sangravam na resistência contra o poderio britânico, no hoje longínquo ano de 1976, um grupo de 5 jovens irlandeses (Larry Mullen Jr., Paul Hewson, Dave e Dick Evans e Adam Clayton ) resolvem se unir para formar uma banda de punk rock, o Feedback. Dezoito meses depois, o Feedback se transforma no The Hype. Em março de 1978, com a baixa de Dick Evans, inspirados no nome de uma avião espião norte-americano derrubado em território soviético, surge, em definitivo, o U2.

A última grande banda de rock nasceu em um solo que, até então, em matéria de música, nos legara o blues celta de Van Morrison, e, em matéria de literatura, nos brindara com Joyce, Wilde, Yeats e Beckett.

O U2 reinventou o rock, de uma maneira que poucos da sua geração conseguiram. Gestada no cenário musical punk, a voz e a poesia de Bono e a guitarra de Edge elevaram a banda ao panteão dos grandes conjuntos do século XX; e talvez o último grande grupo de rock da história.

O cunho político das letras, reflexo direto das experiências vividas em meio aos sangrentos conflitos entre católicos e protestantes, são a marca registrada do extraordinário Bono Vox - ícone pop somente equiparado a John Lennon.

A preocupação com as grandes questões da humanidade, desde a luta pela liberdade até o esforço em prol da redução das desigualdades, acabou sujeitando Bono a muitas acusações de oportunismo.

A endiabrada, mas ao mesmo tempo minimalista, guitarra de The Edge é outra marca registrada da banda.

De The Unforgatable Fire a How to Dismantle An Atomic Bomb, uma sucessão de obras-primas tornam difícil a tarefa de escolher a melhor. Como gosto de dar palpite nesse tipo de coisa, para este blog, até hoje, The Joshua Tree ainda é insuperável.

Em Rattle and Hum, o U2, sem pudores, fez uma ode aos virtuoses da música norte-americana: de Billie Holiday (Angel of Harlem) a Bob Dylan (All ALong the Watchtower). O disco, ao invés de reconhecimento, recebeu impropérios proferidos por invejosos que o tacharam de pretensioso. Boatos sobre o fim da banda percorreram os bastidores da música pop. Com Achtung baby, visionário disco em que descreviam o futuro pós queda do Muro de Berlim, os irlandeses mostraram mais uma vez a sua singularidade em meio a um mundo em que o comercial predominaria.

O U2 foi o meu primeiro grande grupo de rock, e depois dele, só culivei maior apreço a bandas que o precederam. Depois do U2, o rock acabou. Mas enquanto eles estiverem na estrada, o rock ainda viverá.


Para deleite deste roqueiro quase-órfão.


Feliz Natal a todos!

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Macacos e norte-americanos

O irmão ao lado é um macaco reso, macaca mulatta para os íntimos. Os resos são originários da Ásia, tendo se separado da linhagem que deu origem aos seres humanos há cerca de 25 milhões de anos. Apesar dessa separação, o DNA deles é 93% idêntico ao nosso; por isso resolvi chamá-lo de irmão. Pois bem, nosso irmão vem nos prestando grandes serviços há vários anos. Foi utilizando-o como cobaia que cientistas descobriram o fator Rh do sangue, essencial para fazermos transfusões. Nos testes de vacinas contra a AIDS e a gripe, nosso irmão é o principal alvo.

Acontece que agora descobrimos que nosso irmão é tão bom com números quanto nossos outros irmãos, os universitários norte-americanos. Em um teste com 14 estudantes da Universidade Duke, nos States, os cientistas constataram que os resos se mostraram capazes de fazer adições mentais tão bem quanto os norte-americanos, digo, quanto nós, humanos.

Após a descoberta, capitalistas do mercado financeiro estão arregimentando macacos resos para trabalhar em suas agências; pois além de serem tão bons com números como os humanos, não sabem reclamar os seus direitos trabalhistas.

Sobre a pena de morte

A notícia de que a ONU aprovou resolução que pede o fim da pena de morte, muito embora saibamos que as normas por ela promulgadas geralmente carecem de eficácia, merece todos os louvores. Ainda que algumas pessoas, dentre elas o Diogo Mainardi, manifestem opinião favorável à pena capital, somos totalmente desfavoráveis à medida. Os brados favoráveis costumam trazer como fundamento a alegação de que a pena de morte é eficaz na repressão ao homicídio, valendo-se de dados como a redução do índice de crimes contra a vida no estado do Texas graças à instituição da cadeira elétrica. Praticar crimes contra a vida é da natureza humana. Para reprimir o homicídio, a única medida eficaz é assegurar a estrutura de que carece a polícia para o exercício da investigação e, sobretudo, contar com um Judiciário eficiente, norteado pelos princípios universais da razoabilidade, da proporcionalidade e da proteção à dignidade humana.

Os que citam a redução dos homicídios no Texas como fato legitimador da adoção da pena de morte, se omitem quanto ao fato de que a criminalidade em Nova Iorque caiu a patamares ínfimos após o forte investimento estatal na estrutura policial. Em Nova Iorque, não foi preciso adotar a pena de morte para reduzir os homicídios. A única finalidade da pena de morte é legalizar a vingança privada, executada por meio do Estado e da sociedade. Somente para isso se justifica a pena de morte, medida ineficaz para a consecução da verdadeira finalidade da pena: a repressão - desnecessário falar que tal espécie de pena não serve ao escopo pedagógico de toda punição.

Não é o tamanho da pena, mas a certeza da impunidade, como nos dizia Beccaria há 300 anos, que alivia o temor do criminoso. Condenar às bestas humanas à morte é um retrocesso civilizatório; verdadeiro atentado aos princípios universais do direito.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Buraco negro

A imagem revela o jato de um buraco negro de uma galáxia atingindo outra galáxia.

Um buraco negro é o resultado do colapso de uma estrela. As estrelas consistem em corpos imensos de gás, cujo núcleo é uma imensa bomba atômica que tenta explodi-la. Do equilíbrio entre as forças gravitacionais e as reações de fusão do núcleo, é definido o tamanho da estrela.

Com a morte da estrela, a fusão nuclear é interrompida, resultado do consumo total do combustível que a alimentava. Ao mesmo tempo, a gravidade atrai a matéria para o interior e comprime o núcleo. À medida que vai sendo comprimido, o núcleo se aquece e cria uma explosão, ejetando a matéria e a radiação para o espaço. Desse fenômeno resulta um núcleo altamente comprimido e extremamente maciço, cuja gravidade é tão grande que nem a luz consegue dele escapar. Essa intensa gravidade do núcleo faz com que não possa ser captado pela visão, constituindo-se num verdadeiro buraco na estrutura do espaço-tempo. A esse objeto a ciência denomina buraco negro.

Essa definição bastante didática de um buraco negro foi extraída do interessantíssimo site WowStuffWorks - como tudo funciona, cujo link é http://www.hsw.uol.com.br. Vale a pena acessar.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Desinformação

A Veja, em sua edição desta semana, estampa na capa a imagem de um leão piscando um olho, com uma toca de Papai Noel e um medalhão escrito CPMF. O título é o seguinte: Fim do Imposto do Cheque, O LEÃO VIROU PAPAI NOEL, Um presente de 40 bilhões para os brasileiros. De há muito que a revista perdeu total credibilidade em matéria de informação, não escondendo o seu firme propósito de fazer as vezes de panfleto tucano. Quando folheamos a revista e chegamos na reportagem de capa, impossível conter a náusea: uma foto bizonha, estampando os líderes tucanos no Senado e o título: À CPMF, ELES DISSERAM...BASTA! Subtítulo: E, ao fazê-lo, deram nova vida ao Congresso.

Desnecessário ler a matéria para perceber que o propósito da revista é repercutir os brados tucanos: PSDB tira a democracia do limbo.

Não me incluo dentre aqueles que pensam que a liberdade de imprensa exige neutralidade dos veículos de comunicação. Corolário da liberdade de imprensa é o incentivo ao debate de idéias. Para tanto, necessário se faz externar opiniões, expressar opiniões. Só um espírito policialesco impediria a manifestação da opinião da revista. Mas o credo dos editores deveria ceder espaço, nas reportagens, à razoabilidade, ao contraponto entre os fatos apurados. Não é o que se vê na revista Veja. Da capa à última página do espaço destinado ao noticiário político, o que se vê é uma sucessão de agressões à situação, e uma franca e indecorosa tentativa de dar voz à oposição. No episódio CPMF, mais uma vez a ideologia tucana da revista serviu ao propósito de desinformar, de bitolar o leitor.

Fosse a Veja uma revista séria, ciente de suas responsabilidades como veículo de informação, não teria elaborado tão vergonhosa matéria. Ao invés de fazer eco ao cretino discurso tucano, teria apontado os verdadeiros aspectos negativos da prorrogação da CPMF. Ao contrário de fazer uma edição comemorativa à vitória oposicionista, teria elaborado uma inteligente reportagem na qual apontaria que o grande mal da CPMF não era o impacto da mesma sobre o bolso da população, mas sim a desvinculação da receita por ela gerada aos fins para os quais foi criada. O único trecho realmente informativo da reportagem é o gráfico estampado no rodapé da página 63, na qual mostra que a receita da contribuição era destinada num percentual de 40% para a saúde e de 38% para o pagamento de juros da dívida pública. Esse era o grande malefício do chamado imposto do cheque: alimentar os juros ao invés de reverter para a necessitada saúde pública. Pecou também a revista ao não reservar ao menos uma linha para explicar que a CPMF, na realidade, fora criação tucana. Cria tucana, usada pelo governo tucano durante todo o governo FHC.

Veja está a serviço da guerra entre grupelhos iguais nas atitudes e no modo de governar. Veja presta um desserviço à tarefa de informar e ajudar a formar a opinião dos brasileiros a respeito do que realmente se passa na vida da nação.

domingo, dezembro 16, 2007

Campeão Mundial

Após o baile de Kaká, o Milan sagrou-se tetracampeão mundial interclubes. Sim, tetracampeão, apesar de o Joseph Blatter declarar que a FIFA reconhece apenas os títulos dos campeonatos por ela organizados. Para a instituição futebol, não é a decisão estapafúrdia do colorado Joseph Blatter que vai revogar o título mundial conquistado, por exemplo, pelo Santos de Pelé. Também não é a declaração do Blatter que vai fazer com que passemos a considerar o Milan campeão, quando sabemos que ele é tetra. O atual campeonato mundial de clubes, organizado pela FIFA em apenas 4 oportunidades, não tem nada de diferente em relação aos mundiais anteriores. Não é o fato de a disputa envolver, além do campeão sul-americano e do europeu, os campeões da Oceania, da África, da CONCACAF e da Ásia (este na realidade escolhido do confronto entre um time japonês, país sede, e o campeão asiático), que torna este torneio mais valoroso do que aqueles realizados sem a organização da FIFA. Isso fica claro pelo simples fato de que, no final das contas, sempre o título mundial acaba sendo decidido pelo campeão da Libertadores e pelo da Liga dos Campeões. Salto de qualidade daria o torneio se fosse organizado nos moldes da Copa do Mundo, com a presença de mais representantes europeus e sul-americanos, únicos coninentes capazes de montar equipes de melhor qualidade técnica.

Portanto, o Milan é tetracampeão mundial, e Porto Alegre continua sendo a sede de dois clubes campeões mundiais de futebol - digam o que disserem tanto os colorados, como o Jospeh Blatter.

sábado, dezembro 15, 2007

Jimi Hendrix


Integrante da tríade mais famosa de anti-heróis do rock norte-americano, James Marshal Hendrix veio ao mundo em 1942, na histórica Seatle, ingressando no panteão dos deuses da música do Século XX após uma overdose de barbitúricos, em Londres, dois meses antes de completar 28 anos.

Jimi Hendrix recebeu a oportunidade que todo músico busca após ter conquistado a aprovação de Paul MacCartney, transformando-se em ícone da contra-cultura após tocar no Festival de Woodstock - em cujo show, depois de interpretar Purple Haze, improvisou uma versão pacifista do hino norte-americano, permeada de explosões e gemidos alusivos aos tormentos da Guerra do Vietnã.

Are you experienced?, Purple Haze, Hey Joe, Little Wing, Wild Thing, Voodoo Child, Fire, Bold is a love, Foxy lady, All Along Watchtower, são alguns dos clássicos que Hendrix nos legou, sendo que, na opinião deste blog, o álbum Eletric Ladyland constitui-se na sua obra-prima.

Rádio Blog: Jimi Hendrix

Na Rádio Blog desta semana, apresentamos uma amostra da genialidade de Jimi Hendrix. Assista aos clipes no menu à direita.

IGF

A cretina oposição tucana segue refastelando-se na derrota que impingiu ao governo Lula após a rejeição da PEC que prorrogaria a CPMF. Com a estupidez que lhes é peculiar , os próceres do PSDB, capitaneados pelo boçal Arthur Virgílio, entusiasmados com a vitória recente, proferem alertas infantis ao Executivo, ameaçando com a rejeição da prorrogação da DRU. Se no Brasil a política fosse um instrumento a serviço do bem governar, e não um contínuo jogo de interesses puramente privados, o Congresso, ao invés de simplesmente rejeitar a PEC, teria se esforçado paraforçar o Executivo a aplicar a receita da CPMF na modalidade de despesa para que foi criada.

Para quem, assim como este blog, não aguenta mais o festival de besteiras e creticines protagonizadas de igual forma tanto pela situação quanto pela oposição, recomendamos a leitura do excelente artigo a respeito do "cuidadosamente esquecido" Imposto Sobre Grandes Fortunas ( art. 153, VII da CF), de autoria do Procurador da Fazenda Nacional, Almir Teubl Sanches, na edição desta sexta-feira da Folha de São Paulo. Em respeito aos direitos de reprodução da Empresa Folha da Manhã S/A, nos eximimos de transcrevê-lo.









quinta-feira, dezembro 13, 2007

Náusea

A rejeição da PEC que estendia a cobrança da CPMF foi um verdadeiro soco na boca do estômago do governo Lula. Por 4 votos, o Congresso mostrou ao governo - não que ele não soubesse - que a arte da política é feita de cinismo e hipocrisia. Na expectativa de obter a aprovação da proposta, dentre outras negociatas, senadores governistas votaram pela absolvição de Renan Calheiros no processo em que era julgado pela compra de rádios através de laranjas. Em troca, Renan renunciou à presidência do Senado e seus comparsas prometeram a Lula que votariam pela aprovação da proposta de prorrogação da contribuição. Ontem à noite o blefe veio à tona e o governo se escabelou com a notícia de que a receita programada com a arrecadação do tributo se esvaíra pelo ralo. Congressistas que quando eram da situação ajudaram a criar e prorrogar a cobrança da contribuição gritaram "Viva o povo brasileiro!" - impossível resistir à náusea.

domingo, dezembro 09, 2007

Rescue Dawn (O Sobrevivente)

A história tem início em 1965, quando a Guerra do Vietnã vivia a sua fase embrionária.






O Sobrevivente
é Dieter Dengler (Christian Bale), alemão naturalizado norte-americano, piloto da força aérea em missão no Laos. Dieter é abatido pelas forças vietcongues, cai na floresta e vira prisioneiro. Na prisão, encontra-se com outros prisioneiros, todos civis, derrubados quando voavam em um avião de carga que levava mantimentos para a região.

O inferno da guerra é igual para todos. Demônios são demônios e vítimas são vítimas, independente de nacionalidade .

O filme é de um realismo chocante, marca registrada de Werner Herzog. Sofremos com a luta desesperada de Dieter pela sobrevivência, e nos comovemos com a habilidade e a superação por ele empreendida para preservar o nosso bem mais sagrado: a vida.

Rescue Dawn é um manual de sobrevivência, sem clichês apelativos, que nos transmite a certeza de que mesmo quando tudo parece perdido, quando até mesmo a razão parece querer nos deixar, superar a dificuldade é possível.


8 de dezembro


Há 27 anos, John Lennon era assassinado na porta de casa.










Há 13 anos, a música brasileira perdia Tom Jobim.












Hoje à noite no Maracanã, o Paralamas do Sucesso provou mais uma vez que brasileiro sabe fazer rock de qualidade. Qualidade que, em se tratando de Herbert Viana, parece aumentar a cada dia que passa. A dor parece que tornou a sua guitarra mais pesada, mas ao mesmo tempo lhe permite cantar te forma ainda mais bela.








O que o Police fez logo depois foi demonstrar que o rock não envelhece. Aliás, envelhecer parece uma palavra estranha quando vemos Sting no palco. Summers, embora fisicamente velho, revelou uma espantosa jovialidade na guitarra. Já Copeland, nem tão velho, nem tão " jovem", segue sendo o mesmo endiabrado baterista e percussionista de antigamente.


8 de dezembro e música.

sábado, dezembro 08, 2007

Rádio Blog: The Doors

Desde ontem, a Rádio Blog homenageia The Doors. Acesse os links dos clipes e leia o post publicado na noite de ontem.

"Sobre a escrita e o estilo"


"Antes de tudo, há dois tipos de escritores: aqueles que escrevem em função do assunto e os que escrevem por escrever. Os primeiros tiveram pensamentos, ou fizeram experiências, que lhes parecem dignos de ser comunicados; os outros precisam de dinheiro e por isso escrevem, só por dinheiro. Pensam para exercer sua atividade de escritores...É por isso que sua escrita não tem precisão nem clareza. Desse modo, pode-se notar logo que eles escrevem para encher o papel..."

Arthur Schopenhauer, A arte de escrever, L&PM pocket

sexta-feira, dezembro 07, 2007

The Doors


Certos garotinhos imaturos, pretensos comunistas de plantão, ingênuos estudantes ludibriados por estúpidas ideologias autoritárias, burlescamente auto-intitulados inimigos do imperialismo e defensores dos desvalidos, ovelinhas cooptadas por sanguinários fascistas disfarçados de marxistas - sem sequer terem lido a orelha do primeiro volume de O Capital - dentre tantas patologias, tendiam a abominar tudo o que era produzido nos Estados Unidos da América. Bestializados, execravam até o que de melhor a América sempre produziu: arte de qualidade.

Tive a felicidade de nunca conviver com essa espécie de alienados. Sempre admirei o que de melhor os Estados Unidos da América legaram à humanidade.

Dentre os meus ícones norte-americanos, um espaço significativo reservei aos Doors.

Nascida no ano de 1967, em solo californiano, regado a muito ácido e embebido no melhor da contracultura - beatniks, jazz, Blake, Huxley -, The Doors, conduzida pelo entorpecente órgão deManzarek e pela poesia loucamente genial de Jim Morrison têm um lugar cativo no panteão dos grandes músicos do século XX.

As "viagens" de Morrison, lisergicamente construídas a partir de cultos xamanistícos e remissões diretas aos grandes poetas da língua inglesa - sobretudo William Blake -, conduzem-nos ao universo paralelo aberto pelas portas de uma percepção bloqueada pelo superego - portas que Aldous Huxley abriria para adentrar em um mundo hipersensível aos desejos mais recônditos da alma humana, muito embora para isso tenha necessitado recorrer ao LSD.

Ouvir os Doors é um exercício de transcendência inigualável.

Morrison, como nos mostrou Oliver Stone, não conseguia transcender sua existência auto-destrutiva sem recorrer às drogas. Não sabia que com o seu talento seria capaz de provar que a química artificial não é o único meio de abrir as portas da percepção.


terça-feira, dezembro 04, 2007

Ditador?

Paulo Santana postou o seguinte comentário em seu blog, no dia de hoje: "Se perdeu o referendo, Chávez não é um ditador. Porque os ditadores, quando permitem que se realizem eleições, ganham as eleições porque as fraudam. Nunca perderam eleições decisivas quaisquer ditadores".
Ao respeitar o resultado do referendo - mais até do que ao submeter-se a ele - , Hugo Chávez demonstra mais uma vez que sabe como ser um líder populista. Todo ditador sabe que mesmo que detenha o monopólio da força, para permanecer no poder necessita de um mínimo de legitimidade. Por isso todos os ditadores da história sempre estimulam um verdadeiro culto à sua imagem: necessário apelo à idolatria.
Ao respeitar o resultado do referendo deste fim de semana, submetendo-se ao resultado das urnas, Chávez se curva à vontade popular. Tal atitude não é suficiente para modificar a sua imagem de ditador-populista, revela apenas que ele compreende que por mais autoritário que seja, comprando briga com a vontade popular estará fadado ao ostracismo.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Vitória

O anúncio da vitória do "Não" no referendo sobre o projeto de reforma constitucional proposto por Hugo Chávez na Venezuela representa uma grande vitória para a democracia sul-americana. Mais do que o fato de a população rejeitar um projeto que representaria uma maior concentração de poderes nas mãos de um chefe do Executivo, o resultado do referendo, aparentemente a ser respeitado por Chávez, revela que apesar de certas manchas volta e meia causadas por demagógicos líderes populistas, ainda sob o beneplácito dos coturnos, a democracia encontra-se consolidada na América do Sul.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Resistência

Assim que os barcos que conduziam a corte portuguesa rumaram em direção ao Brasil, milhares de cópias de uma mensagem escrita por D. João VI ao povo português foram espalhados pelas ruas de Lisboa. No texto, o príncipe justificava a fuga e orientava a população a receber os soldados franceses com cortesia, sem resistência armada, para evitar o inevitável banho de sangue. As recomendações joaninas não foram acatadas por um signficativo número de portugueses, os quais, assim como fizeram os espanhóis tão logo anunciada a deposição do rei Carlos IV, protagonizaram uma brava resistência às tropas francesas.

Em Portugal, a resistência teve como um dos tantos cenários a Universidade de Coimbra, cujo laboratório de química foi utilizado como arsenal militar. O próprio Napoleão, em seu diário, reconheceria mais tarde que a sua derrocada teve origem nas chamadas guerras peninsulares, episódio muito bem denominado por Laurentino Gomes como o Vietnã de Napoleão. As tropas napoleônicas, imbatíveis nos combates em campo aberto, não estavam preparadas para a guerra urbana, marcada por muito bem arquitetadas emboscadas. A inépcia do General Junot (foto à direita) é apontada como outro fator determinante para a sangrenta derrota dos franceses, após 6 anos de confronto.



Dos 29 mil soldados franceses que invadiram Portugal, só 22 mil voltaram para casa, tendo os restantes 7 mil sucumbido ante a forte resistência lusitana. Na Espanha, como reflexo da brutalidade das tropas franceses (retratada no quadro Os fuzilamentos da Moncloa, de Goya, acima à esquerda), o forte ressentimento popular acabou se transformando em uma heróica resistência, culminando com a capitulação de 20 mil franceses, em 20 de julho de 1808.


Assim como Hitler na Segunda Guerra, Napoleão cavou a sua derrota ao empreender uma irascível tentativa de conquista da Rússia, desguarnecendo as suas tropas à oeste.


A imagem da corte fugindo para o Brasil não pode ser utilizada como uma prova de covardia dos portugueses. A resistência heróica do povo lusitano contra as tropas de Napoleão merece ser reconhecida como uma das principais causas da derrota de um dos maiores gênios militares da história da humanidade.















quinta-feira, novembro 29, 2007

Pink Floyd


Enquanto os bares de Londres eram arrasados por uma avalanche de pedras que rolavam produzindo músicas nas quais expressavam sua Sympathy for the Devil e quatro besouros alçavam vôo desde as docas de Liverpool com sua música que gritava Help e, segundo eles, tornava-os mais populares do Jesus Cristo, quatro malucos de Southampton (Syd Barret, Roger Waters, Rick Wright e Nick Mason) fizeram a fusão de dois bluesmans do Mississipi criando o Pink Floyd, banda cujo "rock lisérgico", com influências da música erudita e do jazz, remetendo os fãs para um Universo Paralelo, sem necessariamente apelar para a ingestão de uma boa "dose" de ácido lisérgico.

O Pink Floyd desvendou a Saucerful of Secrets, ao mesmo tempo em que slides eram projetados no fundo do palco, marcando o início da era dos efeitos especiais em shows musicais - hoje uma banalidade, presente em qualquer show de música brega.

As contínuas experiências de Barret com LSD levaram-no a uma viagem sem volta para the dark side of the moon , viagem cantada pela banda no disco homônimo, o qual, para este blog, é a obra-prima da banda (tocado em pleno espaço sideral por astronautas russos).

O espaço não era o limite, e os ingleses malucos (nem tanto), com o genial David Gilmour suprindo a baixa de Sid Barret, desceram ao inferno para musicar o sofrimento dos pompeanos petrificados pelas lavas do Vesúvio, na perturbadora Echoes.

A mente depressiva de Waters criou a genial ópera-rock The Wall (dirigida por Alan Parker, no cinema), cujos tijolos eram colocados, música por música, representando as neuroses do Kafka do rock. "Acalme-se filhinho, não chore/mamãe fará tudo para seus pesadelos se realizarem/ Mamãe colocará todos os seus temores dentro de você/ Mamãe o manterá aqui sob suas asas..." dizia a Sra. Waters a seu filho na edipiana Mother.

A morte do pai durante a Segunda Guerra Mundial foi cantada por Roger Waters em The Final Cut :"E o velho Rei George mandou um bilhete para mam~e/Quando soube que o papai tinha morrido.../E meus olhos umedecem quando me lembro.../Quando os tigres se libertaram.../E ninguém da companhia Real de Fuzileiros sobreviveu.....Foi assim que o Alto Comando tirou meu pai de mim!"

Foi em The Final Cut que o conflito entre os egos de Gilmour e Waters pôs um ponto final na fase mais genial do Pink Floyd. Após uma ferrenha batalha judicial, Gilmour ganhou o direito de seguir usando a marca Pink Floyd junto com Wright e Mason. Waters seguiu carreira solo, produzindo apenas um disco capaz de reviver a qualidade musical do passado (Amused to Death). Após gravarem The Division Bell, a banda nunca mais produziu, limitando-se a fazer shows cujos pontos altos eram justamente as antigas canções dos tempos de Waters.

Há dois anos, num evento beneficente, eles voltaram a se reunir em um show em Londres. Roqueiros não deveriam envelhecer.

Rádio Blog:Pink Floyd

Na Rádio Blog de hoje, apresentamos cinco clipes do Pink Floyd. Clique nas imagens e bom deleite.

Rádio Blog

Com o propósito de compartilhar com os leitores o eclético gosto musical deste blog, passaremos a disponibilizar uma pequena amostra de clipes musicais. Basta clicar na imagem à esquerda da tela e aguardar o carregamento do vídeo.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Sob a batina

A Superinteressante deste mês estampa na capa uma polêmica reportagem sobre os escândalos sexuais que abalam as estruturas do catolicismo. Os constantes casos de pedofilia envolvendo padres católicos nos últimos anos é motivo de forte constrangimento para a cúpula da Igreja Católica, cujo número de fiéis decresce exponencialmente em virtude do maior apelo representado pelas seitas neopentecostais. Por outro lado, os freqüentes abusos sexuais perpetrados por padres contra crianças alimenta a discussão em torno do celibato imposto pela Igreja aos clérigos há mais de mil anos.

Que a imposição do celibato dá margem ao desencadeamento de fortes transtornos psicossexuais é incontestável. O problema não é a abstinência sexual em si, mas a obrigação de abdicar dos prazeres do sexo. Embora em percentual ínfimo, a opção deliberada pela abstinência sexual acontece, sem maiores repercussões psicológicas, como atesta o psicanalista entrevistado na matéria da revista. A reportagem apresenta interessante hipótese para aventarmos uma possível explicação para a relação entre o celibato e a pedofilia. Não seria a abstinência sexual a fonte direta do desenvolvimento das perversões sexuais, mas sim uma espécie de fuga que pessoas com fortes conflitos sexuais encontram para acobertar essa tendência que reconhecem mas têm receio de questionar, muito mais de expor. Sob a batina, esses sujeitos sentir-se-iam protegidos para exercer as suas mais recônditas perversões, acreditando estarem imunes de todo e qualquer questionamento ou punição da sociedade.


O "sistema do Vaticano" alimenta esse tipo de pensamento.Desde a década de 60, muito embora condene abertamente toda e qualquer forma de perversão sexual (na realidade, oficialmente o condena o sexo por prazer), além de repudiar o homossexualismo, o Vaticano orienta seus clérigos para que, na hipótese de flagrarem um "colega" em situação de pecado, não devem denunciá-lo à polícia, mas sim à própria Igreja. Para o Vaticano, casos como esses devem ser punidos segundo os trâmites administrativos, e não pelas leis "externas".


O certo é que a manutenção de certos dogmas medievais, enaltecidos sobretudo sob o pontificado atual, a batina tende a continuar servindo de armadura para a prática de crimes como a pedofilia.


Amém.

terça-feira, novembro 27, 2007

Há duzentos anos


Quinta-feira completar-se-ão 200 anos da fuga da corte portuguesa para o Brasil. Não foi apenas a corte, mas todo um bando de empresários e profissionais liberais, "as elites lusitanas", que, naquele 29 de novembro de 1807, lançou-se numa desesperada travessia do Atlântico para fugir das tropas francesas, lideradas pelo General Junot, que invadiram Portugal como represália pela petulância de Dom João VI em negar-se à acatar a ordem de Napoleão para que respeitasse o bloqueio comercial imposto à Inglaterra.

Em 1808, Como uma rainha louca, um princípe covarde e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil, Laurentino Gomes, em um excelente livro-reportagem, nos revela pormenores da mais espetacular fuga de um rei europeu para uma colônia do Novo Mundo.

Dom João VI, o pusilânime princípe português que assumira a regência da nação portuguesa após o enlouquecimento da Rainha Maria ( A Louca), e da morte de seu irmão mais velho, herdeiro natural do trono e vítima da varíola, teve que superar a indecisão crônica e resolver escolher uma das alternativas que o contexto histórico lhe apresentara: ficar e combater, ao lado dos ingleses, o maior gênio militar da história; acatar o decreto de Napoleão e interromper as relações comerciais com a Inglaterra; mudar a corte para o Brasil, sob a escolta da armada inglesa.

Imagine quão tormentosa a tarefa de resolver tão grave questão para um sujeito que se revelava hesitante para tomar as decisões mais mundanas, como a de aconselhar o filho (Laurentino Gomes nos conta que até mesmo para dar conselhos para seu filho, D. Pedro I, o monarca apelava para seus conselheiros reais). Afora as dificuldades advindas de sua personalidade, Dom João VI teve de enfrentar as opiniões de seus próprios conselheiros, uma vez que estes se mostravam divididos entre os partidários da Inglaterra e os da França.

Fato que desconhecia foi que Dom João VI blefou enganando Napoleão. Até o momento do embarque para o Brasil, Portugal mantinha uma falsa guerra declarada com a Inglaterra, tendo inclusive prendido e expropriado todos os cidadãos ingleses residentes em solo português.

Os ingleses, para dar um basta à indecisão do princípe português, utilizaram uma estratégia infalível: deslocaram sua feroz armada para o Mar do Norte e bombardearam cruelmente a capital dinamarquesa, Copenhague, que insistia em manter-se neutra em relação ao conflito França-Inglaterra.

Foram esses os incidentes que antecederam a fuga da corte portuguesa para o Brasil. Cinquenta e quatro dias depois, a corte corrupta chegava ao Brasil. A corrupção já graçava por estas bandas, desde a instituição das capitanias hereditárias. Mas há duzentos anos podemos dizer que se consolidava no Brasil a tendência à misturar o público com o privado.

domingo, novembro 25, 2007

História de Pelotas

O Fotoblog da Fabi (http://photofabi.blogspot.com/) divulga desde ontem uma belíssima mostra de fotografias sobre um dos pontos turísticos mais importantes da cidade de Pelotas: o Museu da Baronesa. Com seu extraordinário talento, a fotógrafa nos revela novos ângulos desse patrimônio histórico do nosso Estado. Confira.

American Gangster

No final dos anos 60, Frank Lucas, um jovem negro do interior dos Estados Unidos, busca em Nova Iorque a oportunidade de acensão social que o sistema segregacionista lhe negava. No Harlem, encontra um velho gângster, com quem aprende todas as "técnicas" necessárias para se tornar um grande "empresário" do tráfico.

O filme é a história da ascenção e queda de Frank Lucas, interpretado pelo execlente Denzel Washington, bem como a luta de um policial honesto, Richie Roberts (Russel Crow, igualmente em excelente interpretação) para combater a criminalidade do tráfico em meio às tentações da corrupção da polícia de Nova Iorque.

Depois de Blade Runner, na minha opinião é o melhor filme de Ridley Scott. Com forte conotação social, Scott conduz de forma brilhante uma história real, na qual aborda a corrupção na polícia, no exército durante a Guerra do Vietnã e as verdadeiras causas e consequências sociais do crime.

Richie Roberts é uma ilha de honestidade em meio ao mar de corrupção da polícia nova-iorquina. Sem recorrer a sacos ou empalações, o policial consegue vencer o crime.


Retrato da Caserna

Na edição que chegou às bancas neste final de semana, a revista Veja mostra o resultado de pesquisa realizada junto com o instituto Sensus a respeito da opinião dos militares sobre temas como o combate da criminalidade nas ruas, os investimentos armamentistas da Venezuela e o sucateamento das Forças Armadas.

A reportagem revela que a maioria dos militares é contrária a uma proposta de intervenção do exército para combater o tráfico nos morros cariocas, muito embora a população civil entrevistada manifeste opinião favorável a tal estratégia. Afora reconhecerem a inaptidão do exército para exercer funções de polícia, alguns militares crêem que eventual disposição do governo em levá-los para combater o tráfico nos morros teria o propósito de desmoralizar instituição, além de expô-la ao risco de sofrer recaídas ante ao jogo de sedução dos líderes do narcotráfico.

Causa espécie a revelação de que muito embora a maioria dos civis entrevistados aprovem o uso de técnicas como as mostradas no filme Tropa de Elite contra os bandidos, os militares se mostrem contrários àquele tipo de ação, apesar de percentual significativo aprovar o uso da tortura como técnica de investigação de crimes comuns.

A radiografia feita pela Veja mostra números do ascentuado sucateamento do Exército desde 1995, muito embora demonstre que a inoperância da caserna se deva em grande parte à recalcitrância de velhos generais em se verem privados das regalias propiciadas pela alocação em localidades como o Rio de Janeiro. O contingente militar no Rio de Janeiro é muito superior ao da Amazônia, muito embora a proteção desta seja uma das principais justificativas para o investimento militar no país. A pesquisa revela que os oficiais não estão dispostos a trocar a água de côco pelas agruras da selva amazônica, demonstrando darem pouca relevância à missão de proteção da soberania nacional.

Com relação ao aumento dos investimentos militares feitos por Hugo Chávez, a Caserna não esconde forte preocupação. A dúvida é se a preocupação é real ou se não passa de jogada de marketing.

A grande informação trazida pela revista, embora não seja nenhuma novidade, é de que os militares não se revelam nem um pouco dispostos a reviver os golpes de Estado do passado. Os oficiais reconhecem que os 22 anos de governo civil têm dado conta da administração da Nação, afirmando inclusive que a população de hoje não apoiaria um golpe militar.

A caserna vem empobrecendo nos últimos anos, mas isso não é motivo para que os coturnos se disponham a marchar novamente para o poder. Louvável a auto-crítica manifestada pelo exército na reportagem da revista.

sábado, novembro 24, 2007

Caricato


A história nos mostra que o exercício da governança, muitas vezes, fica a cargo de figuras caricatas. No mundo de hoje, limitando-nos apenas ao continente americano, percebemos uma sucessão de governantes que se revezam entre a estupidez, a canastrice e a vilania. Desses governantes, no futuro, três servirão como modelo para a construção do estereótipo do governante americano: Bush, Chavez e Morales. Do primeiro, os livros de história destacarão a vilania, o fundamentalismo religioso e a idiotia; do segundo, a canastrice, a truculência e a ignorância; do terceiro, a imbecilidade e a cegueira.

Sobre Bush não é preciso falar mais nada. Os próprios norte-americanos, a duras penas, parecem estar reconhecendo o erro que cometeram ao reelegê-lo ( não chegaram a elegê-lo, pois chegou ao poder através de um golpe de Estado sacramentado pela Suprema Corte).

Chávez, por sua vez, parece ter saído de uma comédia. Uma comédia no sentido histórico, na medida que com a sua verborragia patológica, causa mais riso do que medo - é claro, falo como brasileiro, pois as suas demonstrações de autoritarismo e desrespeito aos universais valores democráticos vem causando forte temor entre os venezuelanos.

Ao atacar o clero venezuelano, após este tecer contundentes críticas à tentativa de reforma constitucional, Chávez revela os aspectos mais repulsivos do típico e caricato governante americano: a truculência, o autoritarismo, o desrespeito a tudo e a todos que não coadunam com o seu mentecápito senso de governança.


terça-feira, novembro 20, 2007

Como combater a violência do tráfico?

O resultado da enquete foi alentador. Era grande o receio de que a alternativa vencedora fosse "é impossível combatê-la". Dos frustrantes 7 votos, 4 apontaram que a melhor solução é uma maior intervenção social; opinião compartilhada por este blog. Questões complexas exigem soluções complexas? Não existem soluções complexas, como nos mostra a história do mundo. Talvez o pouco número de votantes justifique a ausência de voto na alternativa "legalização das drogas".

A violência do tráfico de drogas é talvez o problema mais grave sobre o qual se debruçam praticamente todos os governantes de todos os países do globo. A alternativa da legalização das drogas, embora tenha me seduzido outrora, não me parece a melhor. Se deu certo nos Estados Unidos dos tempos da Lei Seca, redundou em tremendo fracasso nas nações européias que legalizaram a venda de alguns psicotrópicos nos últimos anos. Ademais, descriminalizando a venda, que garantia teríamos de que um mercado negro, estilo camelô, não continuaria alimentando a indústria da violência que está por trás do comércio de entorpecentes?

A solução mais eficaz, não temos dúvida, seria uma campanha maciça do Estado em prol da saúde, da educação e da inclusão social dos desfavorecidos. Não somos ingênuos a ponto de pensar que somente os "marginais" comercializam drogas. O ecstasy é um produto altamente lucrativo para muitos abonados comerciantes, ocupantes do topo da pirâmide social. Mas tal fato não pode ser utilizado como premissa de um argumento que refute a forte influência da desigualdade social sobre a indústria do tráfico. A falta de oportunidades, de salutares oportunidades de ascensão social, sem sombra de dúvidas é a maior causa da violência do tráfico de drogas. Ocorre que para a grande maioria das pessoas - não das que votaram na enquete - o tráfico exige soluções imediatas, a curtíssimo prazo. A alternativa vencedora exige tempo, longo prazo para surtir efeitos. Em razão do imediatismo, a maioria acaba preferindo buscar formas de retaliação ao invés de encontrar solução para o problema.

segunda-feira, novembro 19, 2007

"O Horror!O Horror!"


O cartaz do Apocalispe Now estampa a parede do meu quarto há vários anos. O filme do Coppola cativa a minha predileção cinéfila desde que assisti ao filme pela primeira vez, quando tinha uns 15 anos de idade. Costumo ser atacado severamente em função do meu gosto cinematográfico. Um dos ataques mais ferozes que recebi foi do meu padrinho, justamente em meio a uma sessão do Apocalipse Now.

Não deixo de dar razão ao meu padrinho: digerir as mais de duas horas de projeção do filme não é um exercício de entretenimento. No entanto, o propósito do Coppola não foi dar ao público uma obra de simples deleite. Muito antes pelo contrário, Apocalipse Now é um filme feito para incomodar, para ferir os sentidos. O Apocalipse simbólico do filme é o ápice da jornada em direção ao coração das trevas, o encontro de Marlow com o enlouquecido Coronel Kurtz.

Marlow é o nome do personagem que narra a jornada pelas selvas do Congo no livro que inspirou o filme: Coração das Trevas.

Devorei o livro no dia de hoje, enquanto ia e vinha de Bagé.

A obra foi escrita pelo genial Joseph Conrad, no início do Século XX. Ao contrário do filme, que se passa no sudeste asiático, Coração das Trevas se passa no continente africano. Se Coppola pretendeu criticar a loucura da Guerra do Vietnã, Conrad nos remete aos horrores perpetrados pelo colonialismo europeu em solo africano. Nos transporta para as trevas criadas pelo tráfico de marfim. No Coração das Trevas, pela narrativa de Marlow, o capitão do barco da Companhia Mercantil inglesa, somos apresentados à enigmática figura do Sr. Kurtz (General Kurtz, no filme), espécie de gerente do tráfico nos confins da selva africana.

O horror de que nos fala Kurtz, seja no filme como no livro, é o horror perpetrado pelo contraditório processo civilizatório. O horror que reveste a tentativa hipócrita de civilizar a barbárie. Hipócrita porque esconde os verdadeiros interesses que mobilizam tal processo. Interesses materiais, espoliadores, como o dos norte-americanos no Oriente Médio deste início de século XXI.

O horror vislumbrado por Kurtz, o horror que o enlouquece, o horror sobre o qual não podemos nos furtar de refletir.







terça-feira, novembro 13, 2007

Abstrações concretas

Busco a essência encoberta.
Caminhos vertiginosos de uma terra absurda
Suor no rosto, arder na pele
Sol-lua intermitente
Revogo todos as leis, legisladas por conveniências inconvenientes
Irromper de vozes sem bocas.
Demiurgos de plantão.
Absorvo tudo que se esvai pelas frestas
Dos palácios voam aves estranhas
Sorrateiramente vigilantes à beira dos penhascos
Sussurros indiscerníveis
Automóveis em alta-velocidade.
Jazz.
Lábios sedutores
Cabelos longos luxuriantes.
Do concreto não quero nada
Busco a essência que se esconde
Se não tivesse teu amor, viveria absorto em meio ao caos.

domingo, novembro 11, 2007

Frases de Norman Mailer

Se alguém não é talentoso o suficiente para ser romancista, não é esperto o bastante para ser advogado e suas mãos são muito trêmulas para ser cirurgião, então, ele se torna um jornalista.


Queria escrever um romance que Dostoiévski e Marx, Joyce e Freud, Stendhal, Tolstói, Proust e Spengler; Faulkner e até o velho e mofado Hemingway quisessem ler.


Há, entre os norte-americanos, uma certa tendência em destruir a masculinidade.

Fim

Para este blog, encerrou-se na noite de hoje a temporada 2007 do futebol brasileiro. O nível do Brasileirão, em franca descendência nos últimos 3 anos, chegou ao fundo do poço nesta temporada. Este foi o Brasileirão mais medíocre que já acompanhei. A equipe do São Paulo conquistou o título com louvor. Num campeonato marcado pela mediocridade vergonhosa dos competidores, o São Paulo conseguiu ser o menos medíocre. Em razão disso conquistou o título. A ruindade dos atletas em atividade nos gramados brasileiros é estarrecedora. Reflexo direto da desorganização da CBF e da incompetência e penúria financeira dos clubes, o nível técnico dos jogadores em atividade no futabol brasileiro é medonho. Do 2º ao penúltimo colocado, não há signifcativa diferença de qualidade.

O Grêmio, no momento em que o sobrenatural deixou de agir, caiu na realidade e termina melancolicamente a sua participação no certame. O sonho de retornar à Libertadores no ano que vem terminou com a vergonhosa atuação contra o São Paulo. Se o plantel inteiro for modificado no ano que vem, não sentirei saudade de nenhum atleta. O treinador, na minha opinião, também já pode arrumar as malas. Enquanto a sorte o ajudou, conseguiu tirar o máximo daquele grupo lamentável de esforçados (alguns nem tanto) jogadores. Agora esgotou-se a sua capacidade de fazer mágica. Não consigo arriscar qualquer nome para treinar o Grêmio no ano que vem. Muito menos sugerir atletas para integrarem o elenco de 2008. Resta esperar, sem grandes expectativas, para saber quais medíocres substituirão os atuais.


sábado, novembro 10, 2007

Glória do desporto nacional...

Preciso confessar em altos brados que agora há pouco, pela primeira vez nos meus vinte e nove anos de existência gremista, vibrei com uma vitória do Internacional. A vitória colorada mantém o Grêmio ainda mais vivo na disputa pela vaga na Libertadores do ano que vem. Resta esperar que amanhã à tarde, lá no Morumbi, casa do bi-campeão brasileiro, o Grêmio volte a incorporar a velha e já saudosa alma castelhana.

Norman Mailer


A literatura amanheceu de luto neste sábado. Morreu Norman Mailer, um dos ícones do new jornalism. Estilo marcado pela mistura de reportagem e ficção, teve como um dos precursores Truman Capote, com seu genial A Sangue Frio.


Aguardava com ansiedade o lançamento em português da mais recente obra de Mailer, "The Castle in the Forest", romance no qual descreve 3 gerações da família de Hitler. Nessa obra ele destaca a infância do genocida alemão, cuja família descreve como permeada por relações incestuosas.

É sempre triste abrir um grande livro de um grande escritor e saber que aquele será o último que teremos a oportunidade de ler.



A Tropa de Elite

Há algumas semanas atrás expus a minha leitura do filme Tropa de Elite. Assumi ter vislumbrado forte conotação fascista na obra. Talvez tenha me equivocado: fascista é o BOPE, e não necessariamente o filme. A notícia de que a Tropa de Elite do Rio matou 38 pessoas e prendeu outras 45 até o dia 15 de outubro último corrobora a minha opinião . Sei que o grupo atua em situações extremas, de verdadeira guerra civil. Ocorre que o BOPE é uma equipe policial, não é um exército. As favelas no qual se dão os "combates" não são zonas de guerra declarada, mas redutos urbanos dominados por verdadeiras milícias do crime. O Estado não deixa à população das favelas outra opção senão a de residir naquelas regiões. Em razão disso, legitimar o vale-tudo no combate ao tráfico é instituir tacitamente um estado de excessão. Legitimar a forma como o BOPE atua nas favelas é mais uma demonstração de que no Brasil os fins justificam os meios. Mas afinal, qual a real finalidade do combate ao tráfico? Essa finalidade é exterminar fisicamente todos os traficantes? Você acha que isso é possível? No combate ao gravíssimo problema do tráfico de drogas a única solução encontrada pelo Estado é pôr em prática a solução final? Invadir favela matando tudo o que se mexe, única e exclusivamente porque é local dominado por bandidos, é um meio de ação louvável?

quarta-feira, novembro 07, 2007

O Mito da Monogamia

David P. Barash é doutor em zoologia e professor de psicologia na Universidade de Washington, em Seattle. Judith Eve Lipton é uma renomada psiquiatra especializada em questões envolvendo a mente feminina. Além de serem casados a 30 anos e terem dois filhos, escreveram um interenssantíssimo livro entitulado O Mito da Monogamia: Fidelidade e infidelidade entre pessoas e animais.

A obra é rica em detalhes sobre a vida conjugal de um sem-número de espécies animais, além, é claro, de revelar uma série de dados coletados por inúmeros estudiosos sobre o comportamento sexual entre os seres humanos.

Sob o ponto de vista puramente biológico, e daí o título da obra, a monogomia é um fato raro no reino animal, antinatural inclusive entre os humanos. Descambando para uma explicação religiosa, podemos afirmar após ler o livro que Deus nos criou com uma peculiar e quase invencível propensão ao sexo extraconjugal: poliandria, entre as fêmeas; poliginia, entre os machos.

Característica inata a todos os seres animais, neles incluídos nós, humanos, a fidelidade é um fenômeno raro na natureza. Embora rara, ela existe, e os autores da obra discorrem sobre uma sucessão de possíveis fatores que justificariam a escolha (difícil, quase impossível de ser posta em prática) pela cópula intrapar em detrimento da cópula extrapar, esta a mais comum e naturalmente sugestionada entre as pessoas e os animais.

Dá para resumir o livro em uma certeza, revelada tanto pela biologia como pela psicanálise, de que o fazer sexo é a atividade suprema, o instinto mais forte seja de um besouro quanto de um ser humano. A finalidade: a propagação e a preservação da espécie. Para as fêmeas, a qualidade. Para os machos, a quantidade. As primeiras preocupadas em gerar filhos com as qualidades genéticas que reputam mais importantes. Daí a necessidade de não se furtarem em buscar cópulas extrapar, submetendo-se a se transformarem em campo de batalha da competição entre a miríade de esperma com que são fecundadas pelos machos das mais variadas características genéticas. Qualidade, é o que elas buscam. Já os machos, sem critérios, buscam realizar o maior número possível de cópulas, para fecundarem o maior número possível de ovos, e assim proliferarem as suas sementes.

Essa a explicação biológica, apresentada pelo livro.

Mas a grande questão do livro, cujas tentativas de resposta nos remetem a uma vastidão de teorias interdisciplinares, é: por que monogamia?

Da filosofia de Platão, segundo a qual todos temos uma alma gêmea - avassaladoramente questionada em função do improvável encontro - , à explicação sociológica de que a promiscuidade da fêmea não é encarada com bons olhos por todas as sociedades humanas, passando pelo vatícinio da antieconomicidade da opção pelo harém, além, é claro, do vazio psicológico derivado do sexo casual e indiscriminado, somos estimulados a refletir, em vários momentos com muito humor, sobre as possíveis causas e consequências da fidelidade e da infidelidade.

Concluindo o estudo, os autores deixam claro que, embora não natural, a monogomia é uma opção pela felicidade - da qual compartilham num casamento de 20 anos -, pois nem tudo o que é natural é bom.

A monogomia é um mito biológico. Mas para nós, humanos, uma escolha bastante comum: uma regra com bons frutos mas algumas exceções.

Nem tudo o que é natural é bom. Nem tudo o que é bom é natural.

sábado, novembro 03, 2007

Gênios parte 1

Sebastião Salgado

Supercamundongo


Uma universidade norte-americana, em projeto iniciado há cinco anos, conseguiu produzir 500 camundongos capazes de correr de cinco a seis quilômetros a uma velocidade de 20 metros por minuto, em uma esteira, por até seis horas, sem intervalos.

O gene modificado, comum entre roedores e humanos, tornou os animais mais agressivos e com uma estimativa de vida maior que os camundongos normais.

sexta-feira, novembro 02, 2007

A Greve dos Roteiristas

A agência AFP noticia que os roteiristas de Hollywood iniciarão uma greve por tempo indeterminado na próxima segunda-feira exigindo dos grandes estúdios e das cadeias de televisão melhor distribuição dos lucros obtidos com as vendas de DVD.

O movimento serve também para revelar o quanto é hipócrita a campanha contra a pirataria em países como o Brasil, onde os dvd´s originais são vendidos com preços mais elevados que os dos países cuja população possui maior poder aquisitivo, tudo com o escopo de alimentar a sanha lucrativa dos empresários, sem que o preço remunere os verdadeiros autores das obras: roteiristas, diretores, atores, e demais artistas.

O que há por trás da forte companha contra a pirataria de dvd´s e cd´s no país não é a luta pela remuneração dos autores ou o combate à sonegação fiscal. A verdadeira finalidade da campanha é evitar que os cofres das grandes produtoras, todas estrangeiras, engordem menos do que o necessária para saciar a sede dos magnatas da indústria da mídia.

Pirataria não é crime, é desobediência civil, é sinônimo de exercício do direito de acesso à cultura.

Na Biblioteca - Parte 1

1) O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago -

Saramago nos revela um Jesus humanizado, em profunda crise existencial, atormentado pelo descobrir-se escolhido como Cristo. A obra rendeu ao genial escritor um decreto de excomunhão pela Igreja Católica.


2)
As Vinhas da Ira, John Steinbeck –

Em plena Grande
Depressão
, uma família de agricultores ruma do leste para o oeste dos Estados Unidos a fim de reencontrar a dignidade tolhida pelos efeitos do capitalismo selvagem.


3)
A Montanha Mágica, Thomas Mann –


É a estória de Hans Castorp, um jovem fútil e sem perspectivas, em sua estadia em um sanatório em Davos, Suíça , onde fora visitar um primo tuberculoso. Lá, em contato com diversos internos, cada qual representando uma corrente filosófica, o jovem se depara com as grandes questões da humanidade: de onde viemos, para onde vamos, o que queremos?


4)
O Tempo e o Vento, Erico Verissimo -

Trezentos anos em três volumes. A história do Rio Grande do Sul, do Brasil e do Mundo no maior romance histórico produzido pela literatura brasileira. Como poucos, Erico concilia erudição e entretenimento, demonstrando qual o real objetivo da literatura.

5) O Cavaleiro Inexistente, Italo Calvino -

Com o humor que lhe é peculiar, Calvino nos faz refletir sobre o grande conflito do viver em sociedade: essência e aparência.


quinta-feira, novembro 01, 2007

Lágrimas

Lágrimas de amor não secam
Lágrimas de amor eternizam
Lágrimas de amor alimentam
Lágrimas de amor enternecem
Lágrimas de amor embevecem
Lágrimas de amor deslizam pelo meu corpo
Nutrem minha alma apaixonada
Por ti...para ti...sempre...por todo o sempre

Debaixo d´água

Enquanto pegava a estrada, desabava o mundo sobre a capital...saudade...assim deixei Porto Alegre na noite de quarta-feira...trabalho..trabalho...decepção tricolor...de volta à zona sul.