sexta-feira, novembro 30, 2007

Resistência

Assim que os barcos que conduziam a corte portuguesa rumaram em direção ao Brasil, milhares de cópias de uma mensagem escrita por D. João VI ao povo português foram espalhados pelas ruas de Lisboa. No texto, o príncipe justificava a fuga e orientava a população a receber os soldados franceses com cortesia, sem resistência armada, para evitar o inevitável banho de sangue. As recomendações joaninas não foram acatadas por um signficativo número de portugueses, os quais, assim como fizeram os espanhóis tão logo anunciada a deposição do rei Carlos IV, protagonizaram uma brava resistência às tropas francesas.

Em Portugal, a resistência teve como um dos tantos cenários a Universidade de Coimbra, cujo laboratório de química foi utilizado como arsenal militar. O próprio Napoleão, em seu diário, reconheceria mais tarde que a sua derrocada teve origem nas chamadas guerras peninsulares, episódio muito bem denominado por Laurentino Gomes como o Vietnã de Napoleão. As tropas napoleônicas, imbatíveis nos combates em campo aberto, não estavam preparadas para a guerra urbana, marcada por muito bem arquitetadas emboscadas. A inépcia do General Junot (foto à direita) é apontada como outro fator determinante para a sangrenta derrota dos franceses, após 6 anos de confronto.



Dos 29 mil soldados franceses que invadiram Portugal, só 22 mil voltaram para casa, tendo os restantes 7 mil sucumbido ante a forte resistência lusitana. Na Espanha, como reflexo da brutalidade das tropas franceses (retratada no quadro Os fuzilamentos da Moncloa, de Goya, acima à esquerda), o forte ressentimento popular acabou se transformando em uma heróica resistência, culminando com a capitulação de 20 mil franceses, em 20 de julho de 1808.


Assim como Hitler na Segunda Guerra, Napoleão cavou a sua derrota ao empreender uma irascível tentativa de conquista da Rússia, desguarnecendo as suas tropas à oeste.


A imagem da corte fugindo para o Brasil não pode ser utilizada como uma prova de covardia dos portugueses. A resistência heróica do povo lusitano contra as tropas de Napoleão merece ser reconhecida como uma das principais causas da derrota de um dos maiores gênios militares da história da humanidade.















quinta-feira, novembro 29, 2007

Pink Floyd


Enquanto os bares de Londres eram arrasados por uma avalanche de pedras que rolavam produzindo músicas nas quais expressavam sua Sympathy for the Devil e quatro besouros alçavam vôo desde as docas de Liverpool com sua música que gritava Help e, segundo eles, tornava-os mais populares do Jesus Cristo, quatro malucos de Southampton (Syd Barret, Roger Waters, Rick Wright e Nick Mason) fizeram a fusão de dois bluesmans do Mississipi criando o Pink Floyd, banda cujo "rock lisérgico", com influências da música erudita e do jazz, remetendo os fãs para um Universo Paralelo, sem necessariamente apelar para a ingestão de uma boa "dose" de ácido lisérgico.

O Pink Floyd desvendou a Saucerful of Secrets, ao mesmo tempo em que slides eram projetados no fundo do palco, marcando o início da era dos efeitos especiais em shows musicais - hoje uma banalidade, presente em qualquer show de música brega.

As contínuas experiências de Barret com LSD levaram-no a uma viagem sem volta para the dark side of the moon , viagem cantada pela banda no disco homônimo, o qual, para este blog, é a obra-prima da banda (tocado em pleno espaço sideral por astronautas russos).

O espaço não era o limite, e os ingleses malucos (nem tanto), com o genial David Gilmour suprindo a baixa de Sid Barret, desceram ao inferno para musicar o sofrimento dos pompeanos petrificados pelas lavas do Vesúvio, na perturbadora Echoes.

A mente depressiva de Waters criou a genial ópera-rock The Wall (dirigida por Alan Parker, no cinema), cujos tijolos eram colocados, música por música, representando as neuroses do Kafka do rock. "Acalme-se filhinho, não chore/mamãe fará tudo para seus pesadelos se realizarem/ Mamãe colocará todos os seus temores dentro de você/ Mamãe o manterá aqui sob suas asas..." dizia a Sra. Waters a seu filho na edipiana Mother.

A morte do pai durante a Segunda Guerra Mundial foi cantada por Roger Waters em The Final Cut :"E o velho Rei George mandou um bilhete para mam~e/Quando soube que o papai tinha morrido.../E meus olhos umedecem quando me lembro.../Quando os tigres se libertaram.../E ninguém da companhia Real de Fuzileiros sobreviveu.....Foi assim que o Alto Comando tirou meu pai de mim!"

Foi em The Final Cut que o conflito entre os egos de Gilmour e Waters pôs um ponto final na fase mais genial do Pink Floyd. Após uma ferrenha batalha judicial, Gilmour ganhou o direito de seguir usando a marca Pink Floyd junto com Wright e Mason. Waters seguiu carreira solo, produzindo apenas um disco capaz de reviver a qualidade musical do passado (Amused to Death). Após gravarem The Division Bell, a banda nunca mais produziu, limitando-se a fazer shows cujos pontos altos eram justamente as antigas canções dos tempos de Waters.

Há dois anos, num evento beneficente, eles voltaram a se reunir em um show em Londres. Roqueiros não deveriam envelhecer.

Rádio Blog:Pink Floyd

Na Rádio Blog de hoje, apresentamos cinco clipes do Pink Floyd. Clique nas imagens e bom deleite.

Rádio Blog

Com o propósito de compartilhar com os leitores o eclético gosto musical deste blog, passaremos a disponibilizar uma pequena amostra de clipes musicais. Basta clicar na imagem à esquerda da tela e aguardar o carregamento do vídeo.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Sob a batina

A Superinteressante deste mês estampa na capa uma polêmica reportagem sobre os escândalos sexuais que abalam as estruturas do catolicismo. Os constantes casos de pedofilia envolvendo padres católicos nos últimos anos é motivo de forte constrangimento para a cúpula da Igreja Católica, cujo número de fiéis decresce exponencialmente em virtude do maior apelo representado pelas seitas neopentecostais. Por outro lado, os freqüentes abusos sexuais perpetrados por padres contra crianças alimenta a discussão em torno do celibato imposto pela Igreja aos clérigos há mais de mil anos.

Que a imposição do celibato dá margem ao desencadeamento de fortes transtornos psicossexuais é incontestável. O problema não é a abstinência sexual em si, mas a obrigação de abdicar dos prazeres do sexo. Embora em percentual ínfimo, a opção deliberada pela abstinência sexual acontece, sem maiores repercussões psicológicas, como atesta o psicanalista entrevistado na matéria da revista. A reportagem apresenta interessante hipótese para aventarmos uma possível explicação para a relação entre o celibato e a pedofilia. Não seria a abstinência sexual a fonte direta do desenvolvimento das perversões sexuais, mas sim uma espécie de fuga que pessoas com fortes conflitos sexuais encontram para acobertar essa tendência que reconhecem mas têm receio de questionar, muito mais de expor. Sob a batina, esses sujeitos sentir-se-iam protegidos para exercer as suas mais recônditas perversões, acreditando estarem imunes de todo e qualquer questionamento ou punição da sociedade.


O "sistema do Vaticano" alimenta esse tipo de pensamento.Desde a década de 60, muito embora condene abertamente toda e qualquer forma de perversão sexual (na realidade, oficialmente o condena o sexo por prazer), além de repudiar o homossexualismo, o Vaticano orienta seus clérigos para que, na hipótese de flagrarem um "colega" em situação de pecado, não devem denunciá-lo à polícia, mas sim à própria Igreja. Para o Vaticano, casos como esses devem ser punidos segundo os trâmites administrativos, e não pelas leis "externas".


O certo é que a manutenção de certos dogmas medievais, enaltecidos sobretudo sob o pontificado atual, a batina tende a continuar servindo de armadura para a prática de crimes como a pedofilia.


Amém.

terça-feira, novembro 27, 2007

Há duzentos anos


Quinta-feira completar-se-ão 200 anos da fuga da corte portuguesa para o Brasil. Não foi apenas a corte, mas todo um bando de empresários e profissionais liberais, "as elites lusitanas", que, naquele 29 de novembro de 1807, lançou-se numa desesperada travessia do Atlântico para fugir das tropas francesas, lideradas pelo General Junot, que invadiram Portugal como represália pela petulância de Dom João VI em negar-se à acatar a ordem de Napoleão para que respeitasse o bloqueio comercial imposto à Inglaterra.

Em 1808, Como uma rainha louca, um princípe covarde e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil, Laurentino Gomes, em um excelente livro-reportagem, nos revela pormenores da mais espetacular fuga de um rei europeu para uma colônia do Novo Mundo.

Dom João VI, o pusilânime princípe português que assumira a regência da nação portuguesa após o enlouquecimento da Rainha Maria ( A Louca), e da morte de seu irmão mais velho, herdeiro natural do trono e vítima da varíola, teve que superar a indecisão crônica e resolver escolher uma das alternativas que o contexto histórico lhe apresentara: ficar e combater, ao lado dos ingleses, o maior gênio militar da história; acatar o decreto de Napoleão e interromper as relações comerciais com a Inglaterra; mudar a corte para o Brasil, sob a escolta da armada inglesa.

Imagine quão tormentosa a tarefa de resolver tão grave questão para um sujeito que se revelava hesitante para tomar as decisões mais mundanas, como a de aconselhar o filho (Laurentino Gomes nos conta que até mesmo para dar conselhos para seu filho, D. Pedro I, o monarca apelava para seus conselheiros reais). Afora as dificuldades advindas de sua personalidade, Dom João VI teve de enfrentar as opiniões de seus próprios conselheiros, uma vez que estes se mostravam divididos entre os partidários da Inglaterra e os da França.

Fato que desconhecia foi que Dom João VI blefou enganando Napoleão. Até o momento do embarque para o Brasil, Portugal mantinha uma falsa guerra declarada com a Inglaterra, tendo inclusive prendido e expropriado todos os cidadãos ingleses residentes em solo português.

Os ingleses, para dar um basta à indecisão do princípe português, utilizaram uma estratégia infalível: deslocaram sua feroz armada para o Mar do Norte e bombardearam cruelmente a capital dinamarquesa, Copenhague, que insistia em manter-se neutra em relação ao conflito França-Inglaterra.

Foram esses os incidentes que antecederam a fuga da corte portuguesa para o Brasil. Cinquenta e quatro dias depois, a corte corrupta chegava ao Brasil. A corrupção já graçava por estas bandas, desde a instituição das capitanias hereditárias. Mas há duzentos anos podemos dizer que se consolidava no Brasil a tendência à misturar o público com o privado.

domingo, novembro 25, 2007

História de Pelotas

O Fotoblog da Fabi (http://photofabi.blogspot.com/) divulga desde ontem uma belíssima mostra de fotografias sobre um dos pontos turísticos mais importantes da cidade de Pelotas: o Museu da Baronesa. Com seu extraordinário talento, a fotógrafa nos revela novos ângulos desse patrimônio histórico do nosso Estado. Confira.

American Gangster

No final dos anos 60, Frank Lucas, um jovem negro do interior dos Estados Unidos, busca em Nova Iorque a oportunidade de acensão social que o sistema segregacionista lhe negava. No Harlem, encontra um velho gângster, com quem aprende todas as "técnicas" necessárias para se tornar um grande "empresário" do tráfico.

O filme é a história da ascenção e queda de Frank Lucas, interpretado pelo execlente Denzel Washington, bem como a luta de um policial honesto, Richie Roberts (Russel Crow, igualmente em excelente interpretação) para combater a criminalidade do tráfico em meio às tentações da corrupção da polícia de Nova Iorque.

Depois de Blade Runner, na minha opinião é o melhor filme de Ridley Scott. Com forte conotação social, Scott conduz de forma brilhante uma história real, na qual aborda a corrupção na polícia, no exército durante a Guerra do Vietnã e as verdadeiras causas e consequências sociais do crime.

Richie Roberts é uma ilha de honestidade em meio ao mar de corrupção da polícia nova-iorquina. Sem recorrer a sacos ou empalações, o policial consegue vencer o crime.


Retrato da Caserna

Na edição que chegou às bancas neste final de semana, a revista Veja mostra o resultado de pesquisa realizada junto com o instituto Sensus a respeito da opinião dos militares sobre temas como o combate da criminalidade nas ruas, os investimentos armamentistas da Venezuela e o sucateamento das Forças Armadas.

A reportagem revela que a maioria dos militares é contrária a uma proposta de intervenção do exército para combater o tráfico nos morros cariocas, muito embora a população civil entrevistada manifeste opinião favorável a tal estratégia. Afora reconhecerem a inaptidão do exército para exercer funções de polícia, alguns militares crêem que eventual disposição do governo em levá-los para combater o tráfico nos morros teria o propósito de desmoralizar instituição, além de expô-la ao risco de sofrer recaídas ante ao jogo de sedução dos líderes do narcotráfico.

Causa espécie a revelação de que muito embora a maioria dos civis entrevistados aprovem o uso de técnicas como as mostradas no filme Tropa de Elite contra os bandidos, os militares se mostrem contrários àquele tipo de ação, apesar de percentual significativo aprovar o uso da tortura como técnica de investigação de crimes comuns.

A radiografia feita pela Veja mostra números do ascentuado sucateamento do Exército desde 1995, muito embora demonstre que a inoperância da caserna se deva em grande parte à recalcitrância de velhos generais em se verem privados das regalias propiciadas pela alocação em localidades como o Rio de Janeiro. O contingente militar no Rio de Janeiro é muito superior ao da Amazônia, muito embora a proteção desta seja uma das principais justificativas para o investimento militar no país. A pesquisa revela que os oficiais não estão dispostos a trocar a água de côco pelas agruras da selva amazônica, demonstrando darem pouca relevância à missão de proteção da soberania nacional.

Com relação ao aumento dos investimentos militares feitos por Hugo Chávez, a Caserna não esconde forte preocupação. A dúvida é se a preocupação é real ou se não passa de jogada de marketing.

A grande informação trazida pela revista, embora não seja nenhuma novidade, é de que os militares não se revelam nem um pouco dispostos a reviver os golpes de Estado do passado. Os oficiais reconhecem que os 22 anos de governo civil têm dado conta da administração da Nação, afirmando inclusive que a população de hoje não apoiaria um golpe militar.

A caserna vem empobrecendo nos últimos anos, mas isso não é motivo para que os coturnos se disponham a marchar novamente para o poder. Louvável a auto-crítica manifestada pelo exército na reportagem da revista.

sábado, novembro 24, 2007

Caricato


A história nos mostra que o exercício da governança, muitas vezes, fica a cargo de figuras caricatas. No mundo de hoje, limitando-nos apenas ao continente americano, percebemos uma sucessão de governantes que se revezam entre a estupidez, a canastrice e a vilania. Desses governantes, no futuro, três servirão como modelo para a construção do estereótipo do governante americano: Bush, Chavez e Morales. Do primeiro, os livros de história destacarão a vilania, o fundamentalismo religioso e a idiotia; do segundo, a canastrice, a truculência e a ignorância; do terceiro, a imbecilidade e a cegueira.

Sobre Bush não é preciso falar mais nada. Os próprios norte-americanos, a duras penas, parecem estar reconhecendo o erro que cometeram ao reelegê-lo ( não chegaram a elegê-lo, pois chegou ao poder através de um golpe de Estado sacramentado pela Suprema Corte).

Chávez, por sua vez, parece ter saído de uma comédia. Uma comédia no sentido histórico, na medida que com a sua verborragia patológica, causa mais riso do que medo - é claro, falo como brasileiro, pois as suas demonstrações de autoritarismo e desrespeito aos universais valores democráticos vem causando forte temor entre os venezuelanos.

Ao atacar o clero venezuelano, após este tecer contundentes críticas à tentativa de reforma constitucional, Chávez revela os aspectos mais repulsivos do típico e caricato governante americano: a truculência, o autoritarismo, o desrespeito a tudo e a todos que não coadunam com o seu mentecápito senso de governança.


terça-feira, novembro 20, 2007

Como combater a violência do tráfico?

O resultado da enquete foi alentador. Era grande o receio de que a alternativa vencedora fosse "é impossível combatê-la". Dos frustrantes 7 votos, 4 apontaram que a melhor solução é uma maior intervenção social; opinião compartilhada por este blog. Questões complexas exigem soluções complexas? Não existem soluções complexas, como nos mostra a história do mundo. Talvez o pouco número de votantes justifique a ausência de voto na alternativa "legalização das drogas".

A violência do tráfico de drogas é talvez o problema mais grave sobre o qual se debruçam praticamente todos os governantes de todos os países do globo. A alternativa da legalização das drogas, embora tenha me seduzido outrora, não me parece a melhor. Se deu certo nos Estados Unidos dos tempos da Lei Seca, redundou em tremendo fracasso nas nações européias que legalizaram a venda de alguns psicotrópicos nos últimos anos. Ademais, descriminalizando a venda, que garantia teríamos de que um mercado negro, estilo camelô, não continuaria alimentando a indústria da violência que está por trás do comércio de entorpecentes?

A solução mais eficaz, não temos dúvida, seria uma campanha maciça do Estado em prol da saúde, da educação e da inclusão social dos desfavorecidos. Não somos ingênuos a ponto de pensar que somente os "marginais" comercializam drogas. O ecstasy é um produto altamente lucrativo para muitos abonados comerciantes, ocupantes do topo da pirâmide social. Mas tal fato não pode ser utilizado como premissa de um argumento que refute a forte influência da desigualdade social sobre a indústria do tráfico. A falta de oportunidades, de salutares oportunidades de ascensão social, sem sombra de dúvidas é a maior causa da violência do tráfico de drogas. Ocorre que para a grande maioria das pessoas - não das que votaram na enquete - o tráfico exige soluções imediatas, a curtíssimo prazo. A alternativa vencedora exige tempo, longo prazo para surtir efeitos. Em razão do imediatismo, a maioria acaba preferindo buscar formas de retaliação ao invés de encontrar solução para o problema.

segunda-feira, novembro 19, 2007

"O Horror!O Horror!"


O cartaz do Apocalispe Now estampa a parede do meu quarto há vários anos. O filme do Coppola cativa a minha predileção cinéfila desde que assisti ao filme pela primeira vez, quando tinha uns 15 anos de idade. Costumo ser atacado severamente em função do meu gosto cinematográfico. Um dos ataques mais ferozes que recebi foi do meu padrinho, justamente em meio a uma sessão do Apocalipse Now.

Não deixo de dar razão ao meu padrinho: digerir as mais de duas horas de projeção do filme não é um exercício de entretenimento. No entanto, o propósito do Coppola não foi dar ao público uma obra de simples deleite. Muito antes pelo contrário, Apocalipse Now é um filme feito para incomodar, para ferir os sentidos. O Apocalipse simbólico do filme é o ápice da jornada em direção ao coração das trevas, o encontro de Marlow com o enlouquecido Coronel Kurtz.

Marlow é o nome do personagem que narra a jornada pelas selvas do Congo no livro que inspirou o filme: Coração das Trevas.

Devorei o livro no dia de hoje, enquanto ia e vinha de Bagé.

A obra foi escrita pelo genial Joseph Conrad, no início do Século XX. Ao contrário do filme, que se passa no sudeste asiático, Coração das Trevas se passa no continente africano. Se Coppola pretendeu criticar a loucura da Guerra do Vietnã, Conrad nos remete aos horrores perpetrados pelo colonialismo europeu em solo africano. Nos transporta para as trevas criadas pelo tráfico de marfim. No Coração das Trevas, pela narrativa de Marlow, o capitão do barco da Companhia Mercantil inglesa, somos apresentados à enigmática figura do Sr. Kurtz (General Kurtz, no filme), espécie de gerente do tráfico nos confins da selva africana.

O horror de que nos fala Kurtz, seja no filme como no livro, é o horror perpetrado pelo contraditório processo civilizatório. O horror que reveste a tentativa hipócrita de civilizar a barbárie. Hipócrita porque esconde os verdadeiros interesses que mobilizam tal processo. Interesses materiais, espoliadores, como o dos norte-americanos no Oriente Médio deste início de século XXI.

O horror vislumbrado por Kurtz, o horror que o enlouquece, o horror sobre o qual não podemos nos furtar de refletir.







terça-feira, novembro 13, 2007

Abstrações concretas

Busco a essência encoberta.
Caminhos vertiginosos de uma terra absurda
Suor no rosto, arder na pele
Sol-lua intermitente
Revogo todos as leis, legisladas por conveniências inconvenientes
Irromper de vozes sem bocas.
Demiurgos de plantão.
Absorvo tudo que se esvai pelas frestas
Dos palácios voam aves estranhas
Sorrateiramente vigilantes à beira dos penhascos
Sussurros indiscerníveis
Automóveis em alta-velocidade.
Jazz.
Lábios sedutores
Cabelos longos luxuriantes.
Do concreto não quero nada
Busco a essência que se esconde
Se não tivesse teu amor, viveria absorto em meio ao caos.

domingo, novembro 11, 2007

Frases de Norman Mailer

Se alguém não é talentoso o suficiente para ser romancista, não é esperto o bastante para ser advogado e suas mãos são muito trêmulas para ser cirurgião, então, ele se torna um jornalista.


Queria escrever um romance que Dostoiévski e Marx, Joyce e Freud, Stendhal, Tolstói, Proust e Spengler; Faulkner e até o velho e mofado Hemingway quisessem ler.


Há, entre os norte-americanos, uma certa tendência em destruir a masculinidade.

Fim

Para este blog, encerrou-se na noite de hoje a temporada 2007 do futebol brasileiro. O nível do Brasileirão, em franca descendência nos últimos 3 anos, chegou ao fundo do poço nesta temporada. Este foi o Brasileirão mais medíocre que já acompanhei. A equipe do São Paulo conquistou o título com louvor. Num campeonato marcado pela mediocridade vergonhosa dos competidores, o São Paulo conseguiu ser o menos medíocre. Em razão disso conquistou o título. A ruindade dos atletas em atividade nos gramados brasileiros é estarrecedora. Reflexo direto da desorganização da CBF e da incompetência e penúria financeira dos clubes, o nível técnico dos jogadores em atividade no futabol brasileiro é medonho. Do 2º ao penúltimo colocado, não há signifcativa diferença de qualidade.

O Grêmio, no momento em que o sobrenatural deixou de agir, caiu na realidade e termina melancolicamente a sua participação no certame. O sonho de retornar à Libertadores no ano que vem terminou com a vergonhosa atuação contra o São Paulo. Se o plantel inteiro for modificado no ano que vem, não sentirei saudade de nenhum atleta. O treinador, na minha opinião, também já pode arrumar as malas. Enquanto a sorte o ajudou, conseguiu tirar o máximo daquele grupo lamentável de esforçados (alguns nem tanto) jogadores. Agora esgotou-se a sua capacidade de fazer mágica. Não consigo arriscar qualquer nome para treinar o Grêmio no ano que vem. Muito menos sugerir atletas para integrarem o elenco de 2008. Resta esperar, sem grandes expectativas, para saber quais medíocres substituirão os atuais.


sábado, novembro 10, 2007

Glória do desporto nacional...

Preciso confessar em altos brados que agora há pouco, pela primeira vez nos meus vinte e nove anos de existência gremista, vibrei com uma vitória do Internacional. A vitória colorada mantém o Grêmio ainda mais vivo na disputa pela vaga na Libertadores do ano que vem. Resta esperar que amanhã à tarde, lá no Morumbi, casa do bi-campeão brasileiro, o Grêmio volte a incorporar a velha e já saudosa alma castelhana.

Norman Mailer


A literatura amanheceu de luto neste sábado. Morreu Norman Mailer, um dos ícones do new jornalism. Estilo marcado pela mistura de reportagem e ficção, teve como um dos precursores Truman Capote, com seu genial A Sangue Frio.


Aguardava com ansiedade o lançamento em português da mais recente obra de Mailer, "The Castle in the Forest", romance no qual descreve 3 gerações da família de Hitler. Nessa obra ele destaca a infância do genocida alemão, cuja família descreve como permeada por relações incestuosas.

É sempre triste abrir um grande livro de um grande escritor e saber que aquele será o último que teremos a oportunidade de ler.



A Tropa de Elite

Há algumas semanas atrás expus a minha leitura do filme Tropa de Elite. Assumi ter vislumbrado forte conotação fascista na obra. Talvez tenha me equivocado: fascista é o BOPE, e não necessariamente o filme. A notícia de que a Tropa de Elite do Rio matou 38 pessoas e prendeu outras 45 até o dia 15 de outubro último corrobora a minha opinião . Sei que o grupo atua em situações extremas, de verdadeira guerra civil. Ocorre que o BOPE é uma equipe policial, não é um exército. As favelas no qual se dão os "combates" não são zonas de guerra declarada, mas redutos urbanos dominados por verdadeiras milícias do crime. O Estado não deixa à população das favelas outra opção senão a de residir naquelas regiões. Em razão disso, legitimar o vale-tudo no combate ao tráfico é instituir tacitamente um estado de excessão. Legitimar a forma como o BOPE atua nas favelas é mais uma demonstração de que no Brasil os fins justificam os meios. Mas afinal, qual a real finalidade do combate ao tráfico? Essa finalidade é exterminar fisicamente todos os traficantes? Você acha que isso é possível? No combate ao gravíssimo problema do tráfico de drogas a única solução encontrada pelo Estado é pôr em prática a solução final? Invadir favela matando tudo o que se mexe, única e exclusivamente porque é local dominado por bandidos, é um meio de ação louvável?

quarta-feira, novembro 07, 2007

O Mito da Monogamia

David P. Barash é doutor em zoologia e professor de psicologia na Universidade de Washington, em Seattle. Judith Eve Lipton é uma renomada psiquiatra especializada em questões envolvendo a mente feminina. Além de serem casados a 30 anos e terem dois filhos, escreveram um interenssantíssimo livro entitulado O Mito da Monogamia: Fidelidade e infidelidade entre pessoas e animais.

A obra é rica em detalhes sobre a vida conjugal de um sem-número de espécies animais, além, é claro, de revelar uma série de dados coletados por inúmeros estudiosos sobre o comportamento sexual entre os seres humanos.

Sob o ponto de vista puramente biológico, e daí o título da obra, a monogomia é um fato raro no reino animal, antinatural inclusive entre os humanos. Descambando para uma explicação religiosa, podemos afirmar após ler o livro que Deus nos criou com uma peculiar e quase invencível propensão ao sexo extraconjugal: poliandria, entre as fêmeas; poliginia, entre os machos.

Característica inata a todos os seres animais, neles incluídos nós, humanos, a fidelidade é um fenômeno raro na natureza. Embora rara, ela existe, e os autores da obra discorrem sobre uma sucessão de possíveis fatores que justificariam a escolha (difícil, quase impossível de ser posta em prática) pela cópula intrapar em detrimento da cópula extrapar, esta a mais comum e naturalmente sugestionada entre as pessoas e os animais.

Dá para resumir o livro em uma certeza, revelada tanto pela biologia como pela psicanálise, de que o fazer sexo é a atividade suprema, o instinto mais forte seja de um besouro quanto de um ser humano. A finalidade: a propagação e a preservação da espécie. Para as fêmeas, a qualidade. Para os machos, a quantidade. As primeiras preocupadas em gerar filhos com as qualidades genéticas que reputam mais importantes. Daí a necessidade de não se furtarem em buscar cópulas extrapar, submetendo-se a se transformarem em campo de batalha da competição entre a miríade de esperma com que são fecundadas pelos machos das mais variadas características genéticas. Qualidade, é o que elas buscam. Já os machos, sem critérios, buscam realizar o maior número possível de cópulas, para fecundarem o maior número possível de ovos, e assim proliferarem as suas sementes.

Essa a explicação biológica, apresentada pelo livro.

Mas a grande questão do livro, cujas tentativas de resposta nos remetem a uma vastidão de teorias interdisciplinares, é: por que monogamia?

Da filosofia de Platão, segundo a qual todos temos uma alma gêmea - avassaladoramente questionada em função do improvável encontro - , à explicação sociológica de que a promiscuidade da fêmea não é encarada com bons olhos por todas as sociedades humanas, passando pelo vatícinio da antieconomicidade da opção pelo harém, além, é claro, do vazio psicológico derivado do sexo casual e indiscriminado, somos estimulados a refletir, em vários momentos com muito humor, sobre as possíveis causas e consequências da fidelidade e da infidelidade.

Concluindo o estudo, os autores deixam claro que, embora não natural, a monogomia é uma opção pela felicidade - da qual compartilham num casamento de 20 anos -, pois nem tudo o que é natural é bom.

A monogomia é um mito biológico. Mas para nós, humanos, uma escolha bastante comum: uma regra com bons frutos mas algumas exceções.

Nem tudo o que é natural é bom. Nem tudo o que é bom é natural.

sábado, novembro 03, 2007

Gênios parte 1

Sebastião Salgado

Supercamundongo


Uma universidade norte-americana, em projeto iniciado há cinco anos, conseguiu produzir 500 camundongos capazes de correr de cinco a seis quilômetros a uma velocidade de 20 metros por minuto, em uma esteira, por até seis horas, sem intervalos.

O gene modificado, comum entre roedores e humanos, tornou os animais mais agressivos e com uma estimativa de vida maior que os camundongos normais.

sexta-feira, novembro 02, 2007

A Greve dos Roteiristas

A agência AFP noticia que os roteiristas de Hollywood iniciarão uma greve por tempo indeterminado na próxima segunda-feira exigindo dos grandes estúdios e das cadeias de televisão melhor distribuição dos lucros obtidos com as vendas de DVD.

O movimento serve também para revelar o quanto é hipócrita a campanha contra a pirataria em países como o Brasil, onde os dvd´s originais são vendidos com preços mais elevados que os dos países cuja população possui maior poder aquisitivo, tudo com o escopo de alimentar a sanha lucrativa dos empresários, sem que o preço remunere os verdadeiros autores das obras: roteiristas, diretores, atores, e demais artistas.

O que há por trás da forte companha contra a pirataria de dvd´s e cd´s no país não é a luta pela remuneração dos autores ou o combate à sonegação fiscal. A verdadeira finalidade da campanha é evitar que os cofres das grandes produtoras, todas estrangeiras, engordem menos do que o necessária para saciar a sede dos magnatas da indústria da mídia.

Pirataria não é crime, é desobediência civil, é sinônimo de exercício do direito de acesso à cultura.

Na Biblioteca - Parte 1

1) O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago -

Saramago nos revela um Jesus humanizado, em profunda crise existencial, atormentado pelo descobrir-se escolhido como Cristo. A obra rendeu ao genial escritor um decreto de excomunhão pela Igreja Católica.


2)
As Vinhas da Ira, John Steinbeck –

Em plena Grande
Depressão
, uma família de agricultores ruma do leste para o oeste dos Estados Unidos a fim de reencontrar a dignidade tolhida pelos efeitos do capitalismo selvagem.


3)
A Montanha Mágica, Thomas Mann –


É a estória de Hans Castorp, um jovem fútil e sem perspectivas, em sua estadia em um sanatório em Davos, Suíça , onde fora visitar um primo tuberculoso. Lá, em contato com diversos internos, cada qual representando uma corrente filosófica, o jovem se depara com as grandes questões da humanidade: de onde viemos, para onde vamos, o que queremos?


4)
O Tempo e o Vento, Erico Verissimo -

Trezentos anos em três volumes. A história do Rio Grande do Sul, do Brasil e do Mundo no maior romance histórico produzido pela literatura brasileira. Como poucos, Erico concilia erudição e entretenimento, demonstrando qual o real objetivo da literatura.

5) O Cavaleiro Inexistente, Italo Calvino -

Com o humor que lhe é peculiar, Calvino nos faz refletir sobre o grande conflito do viver em sociedade: essência e aparência.


quinta-feira, novembro 01, 2007

Lágrimas

Lágrimas de amor não secam
Lágrimas de amor eternizam
Lágrimas de amor alimentam
Lágrimas de amor enternecem
Lágrimas de amor embevecem
Lágrimas de amor deslizam pelo meu corpo
Nutrem minha alma apaixonada
Por ti...para ti...sempre...por todo o sempre

Debaixo d´água

Enquanto pegava a estrada, desabava o mundo sobre a capital...saudade...assim deixei Porto Alegre na noite de quarta-feira...trabalho..trabalho...decepção tricolor...de volta à zona sul.