terça-feira, novembro 27, 2007

Há duzentos anos


Quinta-feira completar-se-ão 200 anos da fuga da corte portuguesa para o Brasil. Não foi apenas a corte, mas todo um bando de empresários e profissionais liberais, "as elites lusitanas", que, naquele 29 de novembro de 1807, lançou-se numa desesperada travessia do Atlântico para fugir das tropas francesas, lideradas pelo General Junot, que invadiram Portugal como represália pela petulância de Dom João VI em negar-se à acatar a ordem de Napoleão para que respeitasse o bloqueio comercial imposto à Inglaterra.

Em 1808, Como uma rainha louca, um princípe covarde e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil, Laurentino Gomes, em um excelente livro-reportagem, nos revela pormenores da mais espetacular fuga de um rei europeu para uma colônia do Novo Mundo.

Dom João VI, o pusilânime princípe português que assumira a regência da nação portuguesa após o enlouquecimento da Rainha Maria ( A Louca), e da morte de seu irmão mais velho, herdeiro natural do trono e vítima da varíola, teve que superar a indecisão crônica e resolver escolher uma das alternativas que o contexto histórico lhe apresentara: ficar e combater, ao lado dos ingleses, o maior gênio militar da história; acatar o decreto de Napoleão e interromper as relações comerciais com a Inglaterra; mudar a corte para o Brasil, sob a escolta da armada inglesa.

Imagine quão tormentosa a tarefa de resolver tão grave questão para um sujeito que se revelava hesitante para tomar as decisões mais mundanas, como a de aconselhar o filho (Laurentino Gomes nos conta que até mesmo para dar conselhos para seu filho, D. Pedro I, o monarca apelava para seus conselheiros reais). Afora as dificuldades advindas de sua personalidade, Dom João VI teve de enfrentar as opiniões de seus próprios conselheiros, uma vez que estes se mostravam divididos entre os partidários da Inglaterra e os da França.

Fato que desconhecia foi que Dom João VI blefou enganando Napoleão. Até o momento do embarque para o Brasil, Portugal mantinha uma falsa guerra declarada com a Inglaterra, tendo inclusive prendido e expropriado todos os cidadãos ingleses residentes em solo português.

Os ingleses, para dar um basta à indecisão do princípe português, utilizaram uma estratégia infalível: deslocaram sua feroz armada para o Mar do Norte e bombardearam cruelmente a capital dinamarquesa, Copenhague, que insistia em manter-se neutra em relação ao conflito França-Inglaterra.

Foram esses os incidentes que antecederam a fuga da corte portuguesa para o Brasil. Cinquenta e quatro dias depois, a corte corrupta chegava ao Brasil. A corrupção já graçava por estas bandas, desde a instituição das capitanias hereditárias. Mas há duzentos anos podemos dizer que se consolidava no Brasil a tendência à misturar o público com o privado.

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