domingo, novembro 25, 2007

Retrato da Caserna

Na edição que chegou às bancas neste final de semana, a revista Veja mostra o resultado de pesquisa realizada junto com o instituto Sensus a respeito da opinião dos militares sobre temas como o combate da criminalidade nas ruas, os investimentos armamentistas da Venezuela e o sucateamento das Forças Armadas.

A reportagem revela que a maioria dos militares é contrária a uma proposta de intervenção do exército para combater o tráfico nos morros cariocas, muito embora a população civil entrevistada manifeste opinião favorável a tal estratégia. Afora reconhecerem a inaptidão do exército para exercer funções de polícia, alguns militares crêem que eventual disposição do governo em levá-los para combater o tráfico nos morros teria o propósito de desmoralizar instituição, além de expô-la ao risco de sofrer recaídas ante ao jogo de sedução dos líderes do narcotráfico.

Causa espécie a revelação de que muito embora a maioria dos civis entrevistados aprovem o uso de técnicas como as mostradas no filme Tropa de Elite contra os bandidos, os militares se mostrem contrários àquele tipo de ação, apesar de percentual significativo aprovar o uso da tortura como técnica de investigação de crimes comuns.

A radiografia feita pela Veja mostra números do ascentuado sucateamento do Exército desde 1995, muito embora demonstre que a inoperância da caserna se deva em grande parte à recalcitrância de velhos generais em se verem privados das regalias propiciadas pela alocação em localidades como o Rio de Janeiro. O contingente militar no Rio de Janeiro é muito superior ao da Amazônia, muito embora a proteção desta seja uma das principais justificativas para o investimento militar no país. A pesquisa revela que os oficiais não estão dispostos a trocar a água de côco pelas agruras da selva amazônica, demonstrando darem pouca relevância à missão de proteção da soberania nacional.

Com relação ao aumento dos investimentos militares feitos por Hugo Chávez, a Caserna não esconde forte preocupação. A dúvida é se a preocupação é real ou se não passa de jogada de marketing.

A grande informação trazida pela revista, embora não seja nenhuma novidade, é de que os militares não se revelam nem um pouco dispostos a reviver os golpes de Estado do passado. Os oficiais reconhecem que os 22 anos de governo civil têm dado conta da administração da Nação, afirmando inclusive que a população de hoje não apoiaria um golpe militar.

A caserna vem empobrecendo nos últimos anos, mas isso não é motivo para que os coturnos se disponham a marchar novamente para o poder. Louvável a auto-crítica manifestada pelo exército na reportagem da revista.

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