segunda-feira, novembro 19, 2007

"O Horror!O Horror!"


O cartaz do Apocalispe Now estampa a parede do meu quarto há vários anos. O filme do Coppola cativa a minha predileção cinéfila desde que assisti ao filme pela primeira vez, quando tinha uns 15 anos de idade. Costumo ser atacado severamente em função do meu gosto cinematográfico. Um dos ataques mais ferozes que recebi foi do meu padrinho, justamente em meio a uma sessão do Apocalipse Now.

Não deixo de dar razão ao meu padrinho: digerir as mais de duas horas de projeção do filme não é um exercício de entretenimento. No entanto, o propósito do Coppola não foi dar ao público uma obra de simples deleite. Muito antes pelo contrário, Apocalipse Now é um filme feito para incomodar, para ferir os sentidos. O Apocalipse simbólico do filme é o ápice da jornada em direção ao coração das trevas, o encontro de Marlow com o enlouquecido Coronel Kurtz.

Marlow é o nome do personagem que narra a jornada pelas selvas do Congo no livro que inspirou o filme: Coração das Trevas.

Devorei o livro no dia de hoje, enquanto ia e vinha de Bagé.

A obra foi escrita pelo genial Joseph Conrad, no início do Século XX. Ao contrário do filme, que se passa no sudeste asiático, Coração das Trevas se passa no continente africano. Se Coppola pretendeu criticar a loucura da Guerra do Vietnã, Conrad nos remete aos horrores perpetrados pelo colonialismo europeu em solo africano. Nos transporta para as trevas criadas pelo tráfico de marfim. No Coração das Trevas, pela narrativa de Marlow, o capitão do barco da Companhia Mercantil inglesa, somos apresentados à enigmática figura do Sr. Kurtz (General Kurtz, no filme), espécie de gerente do tráfico nos confins da selva africana.

O horror de que nos fala Kurtz, seja no filme como no livro, é o horror perpetrado pelo contraditório processo civilizatório. O horror que reveste a tentativa hipócrita de civilizar a barbárie. Hipócrita porque esconde os verdadeiros interesses que mobilizam tal processo. Interesses materiais, espoliadores, como o dos norte-americanos no Oriente Médio deste início de século XXI.

O horror vislumbrado por Kurtz, o horror que o enlouquece, o horror sobre o qual não podemos nos furtar de refletir.







Nenhum comentário: