domingo, abril 30, 2006

Fragmentos de 2003 d.C. ( Para Quintana)


Uma pequena pomba branca sobrevoa o escaldante deserto da Mesopotâmia.
No bico um pequeno ramo de oliveira colhido às margens do Rio Eufrates;
No pescoço uma coleira prateada colocada por um ornitólogo maluco;
Na mente uma pensamento de passarinho.

Um pequeno árabe colhe água de um velho poço ao sul de Bagdá.
Na casa em ruínas, sua avó prepara o pão para o café da manhã.
O sol começa a nascer mais uma vez, quando velozes dragões de aço cruzam os céus;
Rugidos síncronos, o pequeno árabe sorri.

Em seu quarto londrino, uma jovem iraquiana dorme nos braços de seu namorado americano.
Nos lençóis desarrumados, transpira os resquícios da noite de amor. Na parede uma mesquita
.....no sofá uma holy bible , na cadeira um saxofone, no som Bob Dylan, nas ruas cartazes, na TV violência
Na mente, sonhos.

Na fronteira rio-grandense, um palestino troca blusões de lã por dólares americanos.
Americanos rezam em mesquitas muçulmanas nos subúrbios de New York.
Em Jerusalém, enviados do Vaticano embarcam em aviões back from home.
Em Teerã, presos políticos são transferidos para masmorras no meio das dunas.

Em algum lugar no meio do deserto, a pequena pomba branca solta seu ramo de oliveira.
Em algum lugar no Golfo Pérsico, enormes monstros marinhos deslocam-se com cuidado.
Em alguma mesquita em Meca, o alcorão é interpretado erroneamente por fanáticos desesperados.
Em algum lugar no sul do Texas, uma família ilustre sorve vinho em belas taças de cristal, enquanto na tv o filho caçula anuncia a mais nova jihad metodista.

Bush, bush boom, escutam os iraquianos enquanto choram em prantos o seu quintal aniquilado.
Bush, bush boom, corre o pequeno árabe para os braços da avó morta.
Bush, bush boom, comemora o jovem afro-americano ao retornar à sua base em Ancara.
Bush, bush boom, exclamam os cavaleiros do apocalipse às portas do inferno.

Arte

Se do prato vazio que a criança chora
Sob o jugo autoritário do republicano engrandecido,
Na manhã demoníaca da terça-feira onze,
Enquanto o pequeno angolano chora solitário o cadáver da mãe esquartejada,
Enquanto Waters planeja sua jornada dionisíaca
De cujo prazer se vê privado o miserável latino,
Cujos sapatos sujos a sola grita
Entre balas perdidas e discursos demagógicos
Na fria província semi-insular
De que adianta?

Se da bala perdida que a criança mata
Sob o discurso mentiroso do canalha republicano
Na noite demoníaca da cidade em chamas
Quando médicos e enfermeiras lutam para estancar feridas abertas
Quando a música de Coltrane é abafada pelas explosões de uma mesquita em Bagdá
De cujo horror a jovem iraquiana se vê privada em seu exílio na Jordânia
Após a última sessão de cinema em Jerusalém
Destruído pelo ato desumano de mais um enlouquecido homem-bomba.
De que adianta?

Um casal americano trepa sobre os lençóis de cetim em sua casa em Oklahoma
Num ato que talvez seus governantes já não sejam mais adeptos
Quando matar e morrer viram sinônimos de liberdade
Quando os valores são estupidamente incompreendidos
De que adianta?

As "patas" da águia

Em seu último romance, "A Cadeira da Águia", Carlos Fuentes faz uma sátira política ambientanda em 2020, na qual os EUA são governados por uma mulher. Em entrevista concedida ao New York Times, e publicada na edição de hoje da Folha de São Paulo, o escritor mexicano, quando questionado a respeito do fascínio que Condoleezza Rice desperta no público, respondeu, de forma bastante espirituosa, que: "Ela é inteligente. Veste-se bem. É capaz de notar nuances. Ela parece ter algo mais do que se poderia imaginar por trás de sua fachada. Tem pernas melhores do que as de Bush. E eu sei como são as pernas dele, porque já o vi caindo de uma bicicleta, de shorts".

Guerra Iminente



É só questão de tempo o ataque de Bush e Os Falcões ao Irã. O novo alvo possui a segunda maior reserva de petróleo do globo, além de manter sob seus domínios um estreito através do qual passam 40% das exportações de óleo do planeta. O Irã é governado por Mahmoud Ahmadinejad, um maluco que há poucos meses negou o holocausto judeu na segunda guerra, além de ter começado a brincar de Saddam Hussein, manifestando estar prestes a produzir armas atômicas e realizando rotineiras demonstrações de poderio bélico. O Irã despejou 16 % do petróleo bebido pela China em 2003, e recentemente celebrou acordos de fornecimento de gás e petróleo que lhe transformarão em parceiro imprescindível para os chineses saciarem a sede de sua economia crescente. Alguns boatos revelam que os americanos estariam negociando um ataque israelense ao Irã, cujas conseqüências seriam desastrosas para a região que mantém as maiores reservas de petróleo do planeta. O contexto geopolítico que envolve esse iminente conflito é motivo de grande preocupação.

Eleições: 5 meses antes

Deu na edição de hoje da Folha de São Paulo: Rio deu R$ 26 mi para firma com um funcionário. Trata-se da empresa Virtual Line, a qual doou R$ 50 mil para a pré-campanha do Garotinho à presidência da república. O jornal informa, com base em dados obtidos junto ao Ministério Público do Trabalho, que em 2004, ano em que o Instituto Nacional de Pesquisa e Ensino da Administração (Inep), sociedade à qual pertence a Virtual Line, recebeu R$ 26,5 milhões em contratos celebrados sem licitação com a Fundação Escola do Serviço Público (Fesp), a empresa possuía apenas um funcionário. Os sócios desse instituto, que são irmãos, também mantêm outras sociedades, sendo que duas delas foram denunciadas pelo MPT por contratação fraudulenta de mão-de-obra. Gente desse naipe está financiando a campanha do Garotinho. Não se esqueçam, faltam aproximadamente 5 meses para as eleições.

Jacarés

"Ainda não foram capturados os espécimes de jacaré açu -o maior da América do Sul- vistos no lago Paranoá, em Brasília, e batizados com nomes ilustres como Zé Dirceu e Gushiken. Já foi pego, porém, um pequenino jacaré tinga. Este passou a ser chamado de Francenildo".

Painel, Folha de São Paulo,30/04/2006

sábado, abril 29, 2006

Afinal, quem (des)governa este país?

Li numa edição da revista Nossa História, publicada em 2005, uma excelente entrevista com o professor e economista Eduardo Gianetti. Após responder algumas perguntas sobre o quadro caótico do ensino superior no Brasil, o economista fez uma breve análise da paradoxal relação entre o governo brasileiro e as empresas privadas. O entrevistado deu um singelo, porém bastante elucidativo, exemplo para ilustrar o assunto: no Brasil, uma empresa privada, do ramo industrial, quando precisa investir na sua estrutura recorre ao BNDES para buscar financiamento, o qual é concedido com juros de 6% ao ano. Depois de tomar o empréstimo, a mesma empresa privada, que além do ramo industrial opera também no mercado bancário, é procurado pelo Estado, o qual, notoriamente na bancarrota, solicita-lhe um empréstimo. O banco, feliz da vida, concede o empréstimo, com juros de 19,5% ao ano, de acordo com as regras do mercado e o beneplácito do Banco Central. Resumindo, o Estado empresta com juros de 6% e pede emprestado com juros de 19,5% ao ano. Afinal, quem governa este país?

Ludovico, o ingênuo

Na última crise de insônia, como sempre faz, Ludovico aproveitou para dar uma lida nos principais jornais e revistas do país. Após a leitura, ficou horas contemplando a enorme mancha de mofo que anda enfeando o teto de seu quarto. De tanto olhar para a mancha, acabou , como de costume, tendo a mente transportada para os corredores de mármore da capital federal. Dentre os problemas para os quais Ludovico ainda não encontrou solução, um deles é o que viu estampado na capa da revista Carta Capital, edição de 26 de abril:”Quem pagou Francenildo?”. Ludovico gostou muito da reportagem, apesar de não encontrar em suas páginas nenhuma resposta para a pergunta. Ludovico não se conforma com a benevolência manifestada pelo tal empresário piauiense, o qual teria depositado os 25 mil ou 38 mil reais na conta do caseiro. Ficou mais confuso ainda quando soube que tem um outro personagem nessa estória, um tal microempresário que teria depositado os primeiros 10 mil reais na conta do caseiro, a pedido do tal empresário que seria pai do caseiro. Surpreendeu-se Ludovico ao saber que esse segundo empresário mora em um cidadezinha na fronteira do Maranhão com o Piauí, e que trabalha, assim como o outro, no ramo de transportes, sendo proprietário de uma “empresa” cujo patrimônio consiste em dois ônibus velhos: um com quase quarenta anos de uso e o outro, novíssimo, de 1972, que está parado por problemas mecânicos. Além da empresa de transportes, o segundo empresário ainda faz bicos como mecânico de automóveis e retífica de peças. Ludovico não entendeu o porquê de o empresário ter ficado nervoso quando o jornalista que fez a matéria foi entrevistá-lo. Não entendeu também como pode um morador da zona rural de uma pequena cidade do interior do Maranhão , que reside em um casebre sem acabamento, com poucos cômodos e cercado de lama, resolver emprestar, da noite para o dia, 10 mil reais a um empresário da capital do Piauí apenas por considera-lo “além de amigo, um cidadão”. Ludovico também não entendeu o porquê de esses fatos só terem sido relatados pela revista Carta Capital. Ludovico, refletindo sobre o que acabara de ler, chegou apenas a uma conclusão: “Vou comprar um ônibus velho e montar uma empresa de transportes no Piauí”.

Retalhos Filosóficos I

“Havia um grande vício na maior parte das antigas repúblicas, pois que nelas o povo tinha direito de tomar resoluções ativas que exigem certa execução, coisa de que é inteiramente incapaz. Ele só deve participar do governo para escolher seus representantes, procedimento para o qual é bastante capaz”.
Montesquieu, Do Espírito das Leis
Aqui Montesquieu vai de encontro aos postulados da democracia participativa. Montesquieu, assim como Platão e Aristóteles, tinham uma visão elitista, não aceitavam a idéia de que a virtude cívica, digo, virtude política, pudesse ser estendida, ensinada à maioria que elege os seus representantes. A democracia em Montesquieu corresponde ao arremedo de democracia em que hoje vivemos, onde ao povo é ensinado que a sua única relação com o corpo político se consubstancia no dever – e não no direito – de escolher seus representantes. Tal modelo de democracia possui uma flagrante conotação aristocrática, para não dizer despótica: o corpo político vê o povo somente como uma fonte de legitimação do seu poder. E o povo, por sua vez, por uma série de fatores sócio-culturais, acabou se deixando submeter a tal regra: para o povo, votar é uma atividade irrelevante, inútil, que realiza apenas em função de um imperativo legal; descrê no poder do voto e não possui auto-estima e autoconfiança suficientes para afirmar a sua posição de efetivo titular do poder. Na realidade, essa falta de auto-estima é produto da estratégia de dominação que impede ao povo o acesso aos subsídios necessários para alterar as regras do jogo; subsídios estes que consistem no acesso ao conhecimento, à educação de qualidade.

domingo, abril 23, 2006

Sobre a imprensa

Só existe liberdade de imprensa onde à imprensa é assegurada a prerrogativa de exercer o papel de ombudsman do poder. Numa autêntica democracia, a imprensa é o veículo que mantém o povo informado do que ocorre nos bastidores do poder. A imprensa, no exercício de suas prerrogativas funcionais, deveria ter liberdade para esmiuçar não apenas o poder político, mas o poder em todas as suas formas. Sabemos que a imprensa, ao menos a grande imprensa, encontra sérias dificuldades para desempenhar o seu papel. O poder, no mundo de hoje, sobretudo o poder econômico-financeiro, é uma seara cuja devassa é quase impossível de ser realizada. O fantasma da incredulidade que ronda as esferas do poder político contamina igualmente a grande mídia. Em ambos os setores, é o poder econômico-financeiro quem lhes perverte os objetivos. Se dependemos da imprensa para fiscalizar o poder, dependemos também da imprensa para fiscalizar a própria imprensa. O papel do ombudsman na mídia impressa, como ocorre no jornal A Folha de São Paulo, ou o de programas televisivos como o Observatório da Imprensa, da TV Cultura, são imprescindíveis para a democracia. Infelizmente, são poucos os veículos de comunicação social que dão espaço à auto-crítica. Você conseguiria imaginar um ombudsman na revista Veja? Agora, se é inegável a falta de credibilidade de muitos veículos de comunicação de massa, não podemos inquinar toda a imprensa de tendenciosa. Assim como não podemos tachar todos os membros do poder político de “quadrilheiros” ou mal-intencionados pelo fato de a presença destes ser a maioria. Do contrário, estaríamos sepultando qualquer perspectiva democrática.

Reconhecimento


Embora tenhamos muito o que criticar no atual governo federal, não podemos deixar de reconhecer aquele que, na minha opinião, se constituiu no seu maior acerto: a tentativa de redução da vulnerabilidade externa do país. Até mesmo o mais ferrenho opositor do governo Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, reconheceu esse mérito. Só neste ano, o governo federal conseguiu abater a dívida externa em US$ 10, 2 bilhões . A liquidação antecipada do empréstimo do FMI e outros pagamentos realizados anteriormente, aliados ao resgate antecipado de U$S 6,5 bilhões em bônus “ bradies”, realizado recentemente, representam uma redução líquida de US$ 33 bilhões de dólares nos últimos quatro anos. Em 2002, quando assumiu o presidente Lula, a dívida externa líquida do setor público representava cerca de 21% do PIB, hoje, o montante da dívida equivale a menos de 3% do PIB (US$ 77 bilhões). Quem critica o mérito dessa atitude do governo federal, sob o argumento de que esse dinheiro deveria ter sido utilizado para outros fins (gastos sociais, por exemplo), ou o faz apenas com propósitos eleitoreiros ou então é daqueles que não enxergam, ou não querem enxergar, o ônus que representou para a nossa história o endividamento externo que herdamos do regime militar.

Extraí esses dados de um artigo do Senador Aloizio Mercadante, cuja idoneidade se mantém inabalada, apesar do mar de lama em que se encontram metidos muitos dos próceres petistas.

Qualquer semelhança não é mera coincidência

Geraldo Alckmin: "Isso é um completo absurdo. É uma exploração política, pois não existe nenhuma semelhança entre uma coisa e outra". Como se vê, a estratégia de defensa também é semelhante.

Irmãos gêmeos

Deu na edição de hoje da Folha de São Paulo:”Sob Alckmin, Nossa Caixa abrigou suspeitos de fraude”. As fraudes teriam ocorrido em licitações na administração de outros bancos oficiais durante o governo FHC. Um dos suspeitos, foi vice-presidente da Caixa Econômica Federal, tendo sido indiciado pela CPI dos Bingos por prevaricação,improbidade administrativa e crimes contra o procedimento licitatório nos contratos com a Gtech – segundo o TCU, entre 1997 e 2004, as irregularidades nos contratos entre a Gtech e CEF provocaram aos cofres públicos um prejuízo de R$ 433 milhões. O dito cujo chegou a impetrar mandado de segurança junto ao STF, com pedido liminar, para ter seu nome excluído do relatório da CPI, mas o mesmo foi indeferido. O Ministério Público de São Paulo investiga a Nossa Caixa por suspeita de direcionamento de recursos de publicidade pelo Palácio dos Bandeirantes para favorecer deputados da Assembléia Legislativa de São Paulo. A presença de ex-diretores e assessores da CEF na Nossa Caixa, para os deputados oposicionistas do legislativo paulista, evidencia as aparentes semelhanças entre as falcatruas praticadas pela CEF, no período FHC-Lula, e as praticadas pela Nossa Caixa, durante o governo paulista de Geraldo Alckmin, candidato tucano ao Governo Federal. Ao que parece, o mensalão federal e o paulista são irmãos gêmeos.

Cosmonauta não rejeita seguir carreira política

"Cosmonauta não rejeita seguir carreira política"

Folha Ciência, 22 de abril de 2006

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2204200602.htm

Citação

“Ainda quando se punham a legislar ou a cuidar de organização e coisas práticas, nossos homens de idéias eram, em geral, puros homens de palavras e livros; não saiam de si mesmos, de seus sonhos e imaginações. Tudo assim conspirava para a fabricação de uma realidade artificiosa e livresca, onde nossa vida verdadeira morria asfixiada. (...) Como Plótino que tinha vergonha do próprio corpo, acabaríamos por esquecer os fatos prosaicos que fazem a verdadeira trama da existência diária, para nos dedicarmos a motivos mais nobilitantes: à palavra escrita, à retórica, à gramática, ao Direito formal.”S.B. de Hollanda / Raízes do Brasil, página 123

sábado, abril 22, 2006

Recomendação de artigo

Pouco antes de entrar na internet, troquei algumas idéias com um amigo petista, as quais , coincidentemente, encontraria estampadas no interessante artigo publicado pela Sra. Ermínia Maricato, no site da Agência Carta Maior. Para ler o texto na íntegra, basta acessar o link abaixo:

http://cartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3044


O nome da coluna é Debate Aberto, e o título do artigo O partido no governo e o governo no partido: uma relação muito complexa.

Deu no portal do governo federal



"O Brasil investe no fundamental. O Brasil não é o mesmo de três anos atrás.A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, mostra que o País começa, de modo consistente, a tirar da pobreza uma parcela considerável de nossa população mais carente (Preciso ir ao oftalmologista.). A economia atravessa um ciclo de estabilidade e crescimento com inflação sob controle (Ora, pois...). E a Nação investe pesado em várias áreas estratégicas, consolidando neste período a continuidade e expansão do ciclo de desenvolvimento sustentável. Evidentemente, a superação dos enormes desafios históricos não se dá em apenas 36 meses de governo ( E em 96 meses?). Mas é possível constatar que o Brasil tem dado os passos certos para se tornar uma nação mais justa socialmente, com uma economia forte e tendo um papel no contexto internacional correspondente à importância mundial do País. Importantes reformas foram promovidas logo no início do atual governo (Previdência?), dando as bases necessárias para o avanço do País.Os inúmeros programas sociais começam a dar resultados consistentes, que têm impactado positivamente nos levantamentos sobre desenvolvimento humano dos brasileiros. Não apenas o Fome Zero, que tem no Bolsa Família seu principal instrumento, com seus milhões de beneficiados, está mudando a cara do Brasil (Essa foi ótima!). Com iniciativas integradas e criativas, o Governo Federal está melhorando a vida dos alunos de universidades e escolas públicas (Está?), fornecendo melhores condições aos estudantes do ensino fundamental e médio, possibilitando a abertura de conta a quem não tinha acesso ao sistema bancário (Que maravilha!), incrementando a economia com uma acentuada política de créditos populares (Vide Marcos Valério, BMG) e, entre vários outros programas e projetos de corte social, diminuindo a distância que separa os mais ricos dos muito pobres do Brasil (Hein?!). Ao mesmo tempo, o Governo Federal aplica uma parcela considerável de seu orçamento em obras de infra-estrutura, como estradas, portos, aeroportos, ferrovias e produção de energia. Áreas vitais, e estratégicas, para que o desenvolvimento do Brasil continue com consistência e vigor. O Brasil de hoje também não é mais mero coadjuvante no concerto das nações, mas sim um participante de peso nas grandes discussões internacionais.Atua com determinação nas negociações comerciais com os demais países, estabelece relações pioneiras com outras nações, abrindo novos mercados, e também resgata vínculos históricos e culturais com povos que participaram da nossa formação. Sem deixar de lado o diálogo com a população, maneira mais democrática de governar, estimulando a participação popular na formulação de políticas públicas, respeitando as diferenças, as minorias e reivindicações de cada setor da complexa sociedade brasileira. Nesta publicação estão as principais realizações destes três anos de administração federal. O que está nestas páginas pode dar uma idéia de que,sem aventuras,com competência,ousadia e criatividade, mas de modo responsável, o Brasil investe no que é fundamental para garantir um amanhã melhor para nosso povo". AMÉM.
Destaquei alguns itens:
Saneamento
"O Governo Federal contratou R$ 6,2 bilhões em projetos de abastecimento de água, serviços de esgotamento sanitário, destinação de resíduos sólidos e drenagem, beneficiando 6,9 milhões de famílias e reduzindo substancialmente os gastos com saúde. Os recursos são provenientes do FGTS (R$ 3,6 bilhões), do Orçamento Geral da União (R$ 2,2 bilhões) e do FAT (R$ 400 milhões). O Programa Saneamento para Todos contratou, entre janeiro de 2003 e julho de 2005, R$ 3, 57 bilhões , 20 vezes o contratado entre janeiro de 1999 e dezembro de 2002 ... O programa PAT-Prosanear investiu R$ 15,7 milhões em planos e projetos integrados de recuperação ambiental de áreas degradadas e ocupadas por população de baixa renda". Trocando em miúdos: se você ainda não tem esgoto em casa, a culpa não é do Governo Federal.
Saúde
Com relação aos gastos com saúde, o informe diz que "a população ganha com investimentos na produção, compra e distribuição de remédios", tendo sido gasto, em 2002, R$ 2,1 bilhões e, em 2006, "serão gastos R$ 4,2 bilhões". Informa ainda que, graças ao "maior orçamento da assistência farmacêutica", o Governo Federal elevou em 65% o incentivo para a assistência farmacêutica básica, repassado aos municípios para custear os remédios da Farmácia Básica. Não tive tempo de buscar o conceito de Farmácia Básica. Para você que sofre de hepatite e ainda conseguir sobreviver por mais algum tempo sem medicamentos, uma excelente notícia: foi fechado um acordo de R$ 296, 4 milhões para a transferência de tecnologia dos medicamentos necessários no tratamento das hepatites. Não sei exatamente o que isso significa, mas garanto que, pelo destaque dado na publicação oficial, você ainda pode ter esperança. Agüente firme!

sexta-feira, abril 21, 2006

Sujeito Infeliz

"No Brasil é assim, o cara não te dá o direito de ser feliz".

Luiz Inácio Lula da Silva

quinta-feira, abril 20, 2006

Ludovico, O Ingênuo

Ludovico agradeceu ao jornalista Elio Gaspari a oportunidade de obter na internet a íntegra da Denúncia do Procurador-Geral da República. “Santo remédio para suportar estas crises de insônia!” – exclamou, quando ainda lia a lista de denunciados.

Mas, muito embora ainda não tenha lido toda a peça, Ludovico apaixonou-se principalmente pelo tópico II, intitulado “Quadrilha”.

A riqueza de detalhes com que é esmiuçada a estratégia adotada pela quadrilha para praticar os crimes e sair impune, quase levou Ludovico às lágrimas.

Após ler que “Marcos Valério sempre atuou no ramo financeiro, que representou a verdadeira escola dos estratagemas por ele implementados e oferecidos aos Partidos mencionados (PSDB e PT)”, ficou bastante intrigado: “Seria o famoso empresário quem iniciou a estória toda, lá em 96, quando, a pedido de seu padrinho, ajudou um amigo deste a conseguir dinheiro para concorrer ao Senado? Se o empresário entrou na máfia em 1996, foi idéia dele a diversificação de atividades da empresa, ou ele apenas deu continuidade à atuação desta no mercado? Se a alternativa correta for a segunda, quem era o antigo mentor (sem trocadilhos)? E ainda, a empresa, antes do ingresso do publicitário em seus quadros, atuava apenas no âmbito estadual ou já havia estendido seus tentáculos para o âmbito federal? Se já havia se alastrado, desde quando? O PT, quando não era governo, não conseguiu descobrir o esquema? Se sim, porque não o utilizou como a oposição o utiliza hoje? Será que o PT só descobriu quando chegou ao poder? Se sim, será que pensou que ao se beneficiar do esquema, não daria munição para a oposição derrubá-lo?.......Não, nem eu seria tão ingênuo”!

Apesar de já ter colocado um retrato do Procurador-Geral da República em sua mesa de cabeceira, Ludovico lamenta o fato de que o inquérito não responderá todas as suas dúvidas. Lamenta-se, sobretudo, pelo fato de que o inquérito somente versará sobre as maracutaias que envolvem o senador mineiro e os asseclas do atual governo federal. Ludovico sente-se frustrado, pois percebe que apenas parte da história será contada. É muito chato pegar o filme pela metade: até podemos entender o final, mas ficamos loucos para saber o começo da história.

Ludovico pensa em mandar um e-mail para o Procurador-Geral da República, e também para o Ministro Joaquim Barbosa, na esperança de que eles lhe contem o começo da história.

Denúncia, Parte I

A leitura da Denúncia apresentada pelo Procurador-Geral da República nos autos do Inquérito nº 2245 que tramita no STF, embora árdua (136 páginas), não tem nada de enfadonha, nem mesmo para leigos.

A peça processual, por si só, deveria ser transformada em livro e distribuída gratuitamente à toda população.

A leitura da obra pode ser feita segundo dois prismas: o jurídico e o histórico.

Abstraiamos o conteúdo jurídico e nos atentemos ao conteúdo histórico.

Nas páginas 12 e 13, somos brindados com uma perfeita síntese da histórica política brasileira:


“Para a exata compreensão dos fatos, é preciso pontuar que Marcos Valério é um verdadeiro profissional do crime, já tendo prestado serviços delituosos semelhantes ao Partido da Social Democracia Brasileira –PSDB em Minas Gerais, na eleição para Governador do hoje Senador Eduardo Azeredo, realizada em 1998. fato que é objeto do inquérito nº 2280 em curso perante essa Corte Suprema”.

“Como forma de ilustrar essa realidade, interessante observar que a denunciada Simone Vasconcelos, principal operadora do esquema dirigido por Marcos Valério, trabalhou na campanha eleitoral do Senador Eduardo Azeredo em 1998 e foi indicada para Marcos Valério pelo tesoureiro da campanha, Cláudio Mourão”.

“Portanto, foi exatamente nessa empreitada criminosa pretérita que ele adquiriu o conhecimento posteriormente oferecido ao Partido dos Trabalhadores, o qual, por meio de José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e José Genoíno, prontamente aceitou”.

“Marcos Valério sempre atuou no ramo financeiro, que representou a verdadeira escola dos estratagemas por ele implementados e oferecidos aos Partidos mencionados (PSDB e PT)”.

“ Em 1996, contudo, ele ingressou na empresa SMP&B Comunicação Ltda, não possuindo, repita-se, formação acadêmica ou qualquer experiência na área de publicidade. Ali já atuavam os sócios Ramon e Cristiano, quando ingressou Marcos Valério entrou juntamente com o atual Vice-Governador de Minas Gerais, Clésio Andrade, seu “padrinho” na época, passando a figurar como a face visível das práticas ilícitas daquele grupo”.

“ Marcos Valério, no depoimento prestado na Procuradoria-Geral da República, confirmou que a empresa de publicidade beneficiária das maiores contas do Governo é aquela que compõe com o grupo político que se encontra no poder “.

domingo, abril 16, 2006

Virtude

Àqueles que ainda cultivam a virtude política, no sentido aristotélico do termo, peço encarecidamente que acessem o link abaixo e leiam a íntegra do relatório que embasou a denúncia feita pelo Procurador-Geral da República, Antônio Fernando Souza, de 40 integrantes da quadrilha do mensalão.

www.pgr.mpf. gov.br/pgr/imprensa/iw/nmp/ public.php?publ=6890

ou

http://www.pgr.mpf.gov.br/pgr/asscom/mensalao.pdf


O arquivo está no formato PDF e deverá ser baixado no computador.

PS: Informação extraída da coluna deste domingo do Elio Gaspari, na Folha de São Paulo.
Peço aos leigos que não se assustem com o calhamaço de páginas, e aos colegas operadores do direito que deixem a preguiça de lado e leiam tudo.

Ludovico, o ingênuo

Ludovico leu, na edição de sábado do Jornal do Brasil, que a CPI dos Correios enviou ao MP uma lista com nomes de 24 servidores do Congresso, sob os quais pesam fortes suspeitas de estarem envolvidos no esquema do mensalão. Num primeiro momento, a notícia passou despercebida. Ocorre que durante a mais recente crise de insônia, Ludovico sentou-se no vaso sanitário e, de posse do referido jornal, leu que um dos suspeitos é o assessor do ex-corregedor da Câmara dos Deputados.

O jornal informa que o nome do assessor já havia sido divulgado como suspeito de receber mensalão, mas a CPI teria levantado novos indícios de que o fulano poderia ter culpa no cartório. “Novos indícios. E quais seriam os antigos?” – questionou-se Ludovico.

Voltando à leitura, nosso herói descobriu que o tal assessor esteve 29 vezes na Sede do Banco Rural, coincidentemente, nos mesmos dias em que os funcionários e as empresas de um tal empresário careca sacaram 2,2 milhões de reais. “Pôxa, 2,2 milhões de reais! Pra que tanto dinheiro?!”

Ludovico leu ainda que o ex-corregedor da Câmara, na época, justificou as visitas do assessor ao Banco Rural porque era síndico de um prédio que tinha conta no banco...”ah, bom....então está explicado”.

Ludovico leu ainda que o ex-corregedor da Câmara tinha o estranho hábito de encher as gavetas de sua escrivaninha com papéis que entendia não terem qualquer serventia....na verdade, o que a notícia diz é que o ex-corregedor chegou à conclusão de que os tais papéis não tinham serventia porque haviam sido entregues por um certo deputado, que teria enchido os mesmos com um monte de bobagens, inclusive algumas piadas de mal-gosto.

O jornal revelou ainda à Ludovico que, em setembro de 2004, quando denunciou o tal esquema do mensalão, parece que provocou a ira do então presidente da Câmara, um tal de João, que quase perdeu o emprego em razão de umas histórias não esclarecidas. Parece que a ira do João se devia ao fato de que o jornal o havia metido no meio do tal esquema, denunciando inclusive que ele teria embolsado e gastado 50 mil reais do mensalão..........”ahhh, bom”......Depois de fazer bom uso do caderno de classificados, Ludovico voltou para o quarto e atirou-se na cama. A insônia ainda não havia passado, o que o levou a ficar remoendo, remoendo a cabeça com algumas dúvidas: “Se o assessor do ex-corregedor gostava tanto de freqüentar o Banco Rural, nas mesmas datas em que os empregados do careca também o faziam,....que mal há nisso?..........ah, mas que coincidência mesmo, o jornal diz que vários outros assessores de deputados também gostavam de freqüentar o Banco Rural.....mas não consegui entender o porquê, já que o dito banco fica a 5 km do Congresso e, além disso, a bufunfa dos empregados do Congresso é paga no Banco do Brasil, que tem agências na Câmara e no Senado?......esse mundo é danado de complicado mesmo, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, tantas coincidências....e eu aqui, perdendo tempo com essas bobagens.....e esse sono que não vem.........mensalão, mensalão, esses jornais estão a cada dia mais obscenos”.

sexta-feira, abril 14, 2006

Movimentos sociais

A notícia de que estudantes ficaram feridos em confronto com sindicalistas durante a visita de Lula a Sorocaba, me faz lembrar das manifestações contra o regime militar em 1977. Naquela época, Lula era o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, e liderou um movimento grevista através do qual pleiteava o reajuste de salário aos trabalhadores em percentuais que refletissem a inflação real do período. Em manifestação à imprensa, Lula desvinculou a luta do operariado da luta dos estudantes em favor da abertura: “O estudante mantém o idealismo por quatro anos, depois passa a explorar a classe operária. Os estudantes estão de parabéns pelo que estão fazendo, seu papel na sociedade é este mesmo, mas não aceito a idéia de tentar envolver a classe operária”. Penso no Lula candidato, isto é, no Lula oposicionista, pré-sultanato, e fico confuso com a estratégia que o PT adotava de misturar todo tipo de movimento social em prol da vitória nas eleições presidenciais. Sabemos que o Lula nunca se disse socialista, inclusive ele ressaltava isso quando era líder do movimento sindical, mas reflito sobre a notícia de que estudantes foram surrados por sindicalistas e me pergunto: para onde vamos?

O Flautista nos Portões do Amanhecer

As portas se abrem na imensa casa cinzenta.
No hall, uma senhora obesa recepciona os convidados,
Nos dedos ostenta enormes anéis dourados, nos pulsos grossas pulseiras de prata.
Um longo tapete estende-se até uma enorme porta de mármore.
Nas paredes, quadros estranhos, todos iguais, paisagens lúgubres de montanhas bretãs.
Belos candelabros de ouro sobre as mesas,
Sons de violino pelas frestas da porta.......soa um gongo;
A porta se abre, uma pequena mulher asiática estende a mão,
Delicada e gelada mão com dedos finos e unhas compridas.
Outro tapete vermelho, um pequeno altar com violetas azuis, um crucifixo, velas acesas
Cheiro de incenso, um velho negro tocando músicas tristes ao violino.
Uma paisagem litorânea pintada na parede..........corredor sem fim
Uma estreita porta.......um homem discursando com voz grave
Dois passos........olhares.........silêncio constrangedor...
- Por aqui senhor.........a jornada continua........irritação
Sala estranha, pessoas estranhas, mente confusa......
Bela e imensa sala ornamentada com retratos de pessoas ilustres nas paredes;
Nietzsche, Baudelaire, Blake, Cervantes, Dali, Machado , Sagan e Borges.
Desconforto, sensação estranha; uma soturna ubiqüidade indecifrável.
Razão e religião, sensibilidade e desespero, razão e fé.......a priori axiomas ridículos,
Palavras ao vento: “ Bem aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”....o imenso tapete vermelho sobre pés afoitos.
Silêncio..........incerteza........quão bela imagem diante de olhos afoitos e irritadiços
A pequena mulher incansável.......condução irrefreável......sem dar lugar a sensatez
Como você é linda minha querida.......minha querida?........estética?....sinceridade?....comodismo?.......era um rapaz inseguro e ludibriado....sendo guiado por ideais frágeis......vomitando pensamentos um tanto incólumes.........mas o mundo pedia incongruência......então a bela mulher continuava o seu trabalho monótono:
“Eis o mundo meu filho.......esteja livre....abrace as oportunidades.....aprenda com os erros...aprenda.....apenas não se submeta às suas fraquezas.......deixo-te agora......sejas forte, se fores fraco, descobrirás teu destino........apenas não o alimente, pois se o alimentares serás indigno de toda essa bela obra.......serás uma gota em meio ao oceano dos que não À merecem......”
“Estou num manicômio!”......exclamava o convidado......em que lugar me meti.....queria apenas um telefone....um contato com o mundo nesta terra estranha.......como pude!!!!!!!!”


Mas a esperança não se extingue na alma dos que regozijam com a felicidade...........
Mais uma porta, a terceira........e o tapete...Ah, o tapete!!!!!!.......soa uma campainha........
Uma bela criança de sorriso entorpecente no rosto...........venha moço!
Aquela presença.........todos os tormentos...todas a as incertezas.......subjuga os percalços desta lunática epopéia......para onde isto me encaminha?
(Imagino que estejas sentindo uma certa irritação, talvez um certo escárnio por estas palavras aparentemente ilógicas, mas somente as expus por acreditar na sua suficiente
inteligência. Ora, não me decepciones.. Está certo, talvez esteja abusando um pouco de tua paciência. Talvez esteja maltratando um pouco a tua mente, mas convenhamos, não me decepciones! Escrevi para ti, para um seleto grupo que acredito, ao seu jeito, estar com a percepção suficientemente aberta. Se minha crença em vocês não surtir efeito não sei mais no que acreditar. Se vocês não conseguirem interpretar este relato, não me restará mais nada a não ser o descrédito absoluto. Então, se tal ocorrer, aceitarei todos os comentários precipitados. Sou tudo, menos covarde e insensível......)....”mudaram as estações”.
Devo continuar?......pergunta-se o confuso andarilho.....deve....sussurra a consciência.....
E se Freud aparecer?.....pergunta a doce criança..........deverás te curvar como a um Deus......exclama a consciência........risos ecoam no interminável corredor..................
Mas o certo é que, embora a realidade queira fugir em meio a este ambiente surreal, meu cérebro ainda consegue se manter intacto...continuo apenas confiando na minha sorte......
A porta.......a quarta porta.......quem estará por detrás dela?......quem me esperará?....uma velha obesa, uma asiática anoréxica, uma criança angelical......e agora?...........................
Você!!!!???????...........Mas?????????........não pode ser..........belisco minha pele suada até quase arrancar pedaço........por quê?........
O que fazer?...........naquela fria manhã tudo ficou sem sentido........e agora tudo ressurge como o canto de uma freira num convento sinistro........devo aceitar?......devo esquecer todos os esforços?.......devo????........o que fazer?.....que outra saída?....só tenho essa.....por mais absurda que pareça, é a única que me resta....então, então, a consciência me obriga........após todos os esforços......todas as rejeições forçadas........só me resta sentir tua pele.......tua voz que tanto me esforcei para repudiar....mesmo após ter repudiado tantos clamores........mesmo após ter machucado tantas almas........tua maldosa voz seduziu-me quanto nunca antes........maldosa???????..........como posso julgar-te depois do que fiz por pura covardia?.........por puro comodismo.....por puro medo...........mesmo depois de levar todos a julgar-me um coitado e você um demônio........te prometi.......isso eu mantive....pela única vez na vida mantive-me calado............eis a síntese de minha virtude........esta promessa....esta promessa que teima em quebrar-se sobre o efeito de drogas atrozes.......mas minha consciência resiste.......minha querida..........ela mantém-se um pouco forte.......e resiste a tudo......mesmo que os moinhos venham a transformar-se em gigantes....meu Sancho Panza permanecerá fiel como nunca......e o tapete continuará levando-me à próxima porta.......e continuarei respeitando DEUS, a única certeza que tenho, como não crer em algo que me perdoa após tanto escárnio que produzi contra A sua existência?...................
A porta me abriste......e cabe a mim adentrá-la........cabe apenas a mim....peço-te forças........mesmo sabendo que cabe apenas a mim ........a mim!!!!!!!!!..........idiota.......E a


voz que sussurra por entre as frestas da porta : “ Você.........você que aí está deixando-se conduzir por pensamentos forçados....por pensamentos forçados por momentos insignificantes......vai se deixar seduzir por elucubrações precipitadas?.......vai se deixar conduzir por imagens arquitetadas em meio à dor de erros premeditados?.......vai seguir destruindo sentimentos sinceros, apenas por que não surgiram em meio à falhas propositais?........a porta então se abre.........o que esperar?....junta-te a mim...como os hebreus rumando pelo desconhecido ............................................................................
Neste instante, um momentâneo lapso de razão.........o convidado sente a mente trabalhar em direção ao passado...lembra-se de suas insensatas artimanhas....lembra-se de inventar a
mentira......de quanto riu ao perceber a sua eficácia hipócrita.........mas então surge um pássaro negro, de cujo bico pende uma pequena folha de papel............”acredita-se, idiota”.....e um flashback destoa em sua mente......em sua alma.........e enormes flâmulas fosforescentes tremulam das paredes imaculadamente brancas........”Cobriu-se o sol de negro véu. Como ele, ó lua, veste o luto de minha agonia”...........lembra-se o já cansado convidado........uma flauta doce sopra do infinito........ares de mediocridade.......................

......................”Ó tortura cruel que teima em arrebatar-me o espírito enquanto belas andorinhas fazem acrobacias divinas em frente à janela de minha jaula fétida”......todos nós precisamos de crenças, meu senhor......não insista em rejeitá-las.........minha cara, somente busco uma janela para contemplar o azul do céu novamente......e você teima em renegar o meu singelo desejo......renega-te você mesmo, meu senhor........mas como pode?....você...logo você, que tantas vezes sucumbiu aos meus encantos, que tanto alimentou meu espírito, de maneira até desumana certas vezes, insistir em tornar-me um lunático?.........você mesmo condenou-se a tal flagelo, caro visitante.....não concebo tal monstruosidade, vindo logo de ti, ó insensível!......esqueceis, caro senhor, que nos momentos em que me convertias à um mero banquete enfastioso jamais passou-se sobre tua mente tais questionamentos?........mas como poderia, se parecias tão feliz diante de minhas interpretações?....esqueceis que talvez eu é que estivesse interpretando?.......uma brisa gelada alastra-se pelo enorme corredor sem fim.........mas o que é isto?.......acorda homem!.....o que seriam estas alucinações?........não te entorpecesse com nada, saísse do escritório diretamente para a estrada....e aquele maldito carro!!!!.....comprei na semana passada.....minha primeira aquisição depois de longos meses de trabalho.....mas o que é isso?......estás parecendo um personagem de poema oitocentista......acorda desgraçado!!!
Por que continuo a caminhar?...porque não dou meia volta e sigo correndo para a porta desta casa sinistra?......nem na juventude tive tantas alucinações.........nem naquelas noites tristes no pequeno apartamento de estudante.........já sou um profissional......um homem maduro...... e logo agora, depois de tantas conquistas, me vejo diante de uma situação insana como esta?......como pode?.....terei enlouquecido?......terei sucumbido à estafa do trabalho?...não, isso não.......e aquela vadia?.....já estou atrasado, o que estará ela pensando?........não posso perder tempo.....preciso encontrar logo o telefone......preciso..........onde se viu uma casa deste tamanho, perdida em meio à esta planície sem fim, não possuir nenhum aparelho.......


uma mansão sem telefone.......estou sentindo falta daquela ardência no nariz, onde fui me meter?.............e esta.......não pode ser ela.........aquela que me ensinou as regras da vida, aquela que me abriu as portas do mundo real, agora me induzindo a esta viagem sem fim?............devo estar dormindo....................devo estar devaneando...........................
“Tocando uma flauta no vale selvagem.......tocando canções doces e alegres.....vi uma criança surgir nas nuvens, e ela me disse a sorrir, toque aquela do cordeiro, então toquei com alegria”..................Não estou suportando isto, minhas pernas estão cansadas, meu corpo pede descanso.......espere, me deixe descansar um pouco..........”deite-se aqui meu querido............”
Sonhos, o que são os sonhos senão meros desejos não saciados ou pequenas mentiras magistralmente escondidas sobre os escombros de nosso subconsciente?..........O convidado desperta como se dormisse por várias horas.......Ainda estou aqui, não pode ser........não pode ser real.........deitara-se sobre um confortável divã .

domingo, abril 09, 2006

Hoje à tarde no Beira-Rio



Tenho dificuldades em começar a contar o que aconteceu agora à pouco, menos de meia-hora atrás, no imponente Estádio Gigante da Beira-Rio. É difícil sublimar a emoção que ainda pulsa no coração tricolor.
Algumas horas antes do jogo, liguei o rádio a fim de acompanhar os eventos que o antecediam.
Ouvi que o público estimado era de aproximadamente 60 mil pessoas. Também escutei que o Internacional havia confiscado 2 mil ingressos que haviam sido destinados aos torcedores gremistas. Quando faltava cinco minutos para acabar a partida, a televisão informou que o público fora de 57.415 pagantes. Supondo que os 6 mil ingressos a que tinham direito correspondeu ao número de gremistas no estádio, concluímos que 51.415 colorados ocuparam o seu estádio na esperança de assistir aos seus “diamantes” conquistarem o pentacampeonato regional.
Antes do jogo, nem o mais fanático torcedor gremista poderia manifestar convicção com relação à conquista do título. O máximo que nós, realistas torcedores, poderíamos afirmar é que os jogadores gremistas teriam a mesma determinação e “pegada” apresentada no jogo do Olímpico. Seria uma temeridade qualquer manifestação em contrário.
Analisando a escalação das duas equipes, era evidente que o Inter possuía um grupo repleto de excelentes jogadores, tanto os que começariam a partida quanto os que aguardariam sentados no banco de reservas. O histórico recente também indicava uma inquestionável superioridade colorada: o Internacional é o atual vice-campeão brasileiro, classificou-se sem maiores dificuldades para as oitavas-de-final da Libertadores, além de ter feito a melhor campanha do campeonato gaúcho até então. Já o Grêmio, bem, o Grêmio fora melancolicamente eliminado da Copa do Brasil pelo modesto XV de Novembro de Campo Bom. No próprio campeonato gaúcho, embora tendo conseguido se classificar em primeiro no seu grupo, frustrara a torcida com sofríveis atuações. Todos reconheciam as limitações técnicas da equipe, inclusive os próprios jogadores, como manifestaria Jeovânio após a partida. Se imperasse a lógica, o Internacional seria o campeão. Mas a lógica, quando o Grêmio entra em campo, desaparece.
Hoje à tarde no Beira-Rio o Grêmio mais uma vez derrubou aquela máxima de que “camisa não ganha jogo”. Camisa ganha jogo sim, a do Grêmio pelo menos. Como explicar a conquista de hoje à tarde senão atribuindo a façanha gremista a dois elementos: o técnico e a sagrada camisa tricolor. Está certo, talvez esteja me deixando contagiar novamente pela emoção, mas não existe outra forma de explicar as façanhas do Grêmio senão abdicando de argumentos racionais. Com argumentos racionais não se explica o que aconteceu hoje à tarde no Beira-Rio. A razão é insuficiente para justificar o fato de 11 limitadíssimos jogadores de futebol terem conquistado um título contra uma equipe constituída por 20 excelentes jogadores, dentro da casa destes. E mais, diante de 51.415 endiabrados torcedores adversários.
A única explicação racional possível de ser dada para a conquista do título gaúcho é a seguinte: o Grêmio tem um grande treinador, pois somente um grande treinador é capaz de transformar um limitado elenco em uma equipe campeã. Além disso, hoje à tarde restou evidente que o Internacional não tem treinador, pois somente sem treinador é possível deixar de transformar o rico elenco de jogadores do Inter em uma equipe competitiva. Não podemos nem acusar os jogadores do Inter de terem “pipocado” diante do Grêmio, pois os mesmos demonstraram muita vontade em campo, embora esta tenha se revelado insuficiente.
Abel Braga é um treinador, digamos, infeliz. Seu currículo revela uma forte tendência para perder títulos. Com um pouco de sarcasmo podemos concluir que Abel Braga e o Internacional possuem um histórico bastante semelhante: são capazes de fazer grandes campanhas, mas acabam sempre morrendo na praia.
Não tenho muito o que falar a respeito do Grêmio sem me tornar repetitivo. O Grêmio não é apenas um clube de futebol, a história do Grêmio daria uma excelente tese de parapsicologia.
Não deu a lógica na final do campeonato gaúcho. O Grenal não foi vencido pelo melhor, mas pelo maior. Que o digam os 51.415 colorados que deixaram o Beira-Rio perplexos, frustrados, com o rabo no meio das pernas.
Antes de encerrar, me sinto na obrigação de ser solidário com a tristeza que se abateu sobre a tão sofrida nação colorada. Nada melhor para manifestar a minha solidariedade do que dar um conselho aos co-irmãos: se ainda possuem alguma expectativa com relação a Libertadores, derrubem o Abel. Isso mesmo, derrubem o Abel enquanto ainda há tempo.



PS . Antes do jogo, mais por provocação do que por convicção, havia feito um prognóstico a alguns amigos colorados. Dissera-lhes que o jogo terminaria empatado em 1 a 1, com o Grêmio marcando seu gol através do Pedro Júnior,aos 40 minutos do segundo tempo. Errei por cinco minutos. Mais uma vez, peço desculpas ao Internacional.

sábado, abril 08, 2006

Lord of War


Na quarta-feira assisti ao filme Lord of War , lançado no mercado nacional com o título de Senhor das Armas. O filme é genial, conforme percebemos logo na cena inicial, em que acompanhamos a trajetória de uma bala desde o seu nascimento em uma fábrica até o seu destino final: a testa de uma criança em alguma guerrilha africana. O filme narra a história de um ucraniano cuja família emigrou da Ucrânia para Nova Iorque logo no alvorecer da Guerra Fria. Cansado da pobreza em que vivia no Brooklyn (ou seria no Bronx?), o personagem vivido por Nicolas Cage resolve abandonar o emprego em um restaurante e ingressar num dos mercados mais lucrativos da economia mundial: o tráfico de armas. O filme é um libelo pacifista, tendo como clímax a cena em que o anti-herói da história, ao ser interrogado pelo agente da Interpol que o havia prendido, friamente expõe a este que a sua prisão era uma medida inócua, uma vez que o maior traficante de armas do planeta é o presidente dos Estados Unidos. Imperdível.


Herdeiros do milagre econômico


Quem lê A ditadura envergonhada, A ditadura escancarada, A ditadura derrotada e A ditadura encurralada,do jornalista Elio Gaspari, percebe facilmente que não passa de sofisma a tentativa de legitimar o regime militar em função do chamado Milagre Econômico . Em época de vacas magras como a nossa, em que, apesar do festejado superávit da balança comercial, nossa economia não consegue sequer fazer cócegas na taxa de crescimento médio da economia mundial, fica difícil não admirar-se com os índices de crescimento da economia brasileira nos anos de chumbo: 9,8 % do PIB em 1968 (expansão de 15% na indústria), 9,5% em 1969 , 10,4% em 1970, 11,3% em 1971, 11,9% em 1972 (com aumento de 50% na renda per capita dos brasileiros, as exportações de produtos industrializados ultrapassando 1 bilhão de dólares pela primeira vez na história, um regime de pleno emprego, “em razão do qual um metalúrgico ganhava o bastante para comprar um fusca novo” e “os executivos brasileiros ganhavam mais do que os similares americanos e os europeus”), 14% em 1973.
Como relata Elio Gaspari no seu A Ditadura Derrotada , “o Milagre Brasileiro chamara-se Delfim Netto”. O Gordo, como era chamado, por sua vez, atribuía a Otávio de Gouvêa Bulhões e Roberto Campos a façanha de terem-lhe preparado o terreno ao receberem o Tesouro com 300 milhões de dólares de contas atrasadas e entregarem-no com 400 milhões de dólares de reservas cambiais, por terem baixado a inflação de 90% para 25% ao ano, reduzirem o déficit federal de 4,2% do PIB para 1,1%, além de fazerem com que o conjunto da economia, que em 1963 crescera apenas 1,6% do PIB, expandira-se 5,1% em 1966. Delfim assumira a pasta da Fazenda em março de 1967. Em 1974, Delfim resolve se lançar como candidato ao governo de São Paulo, mas tem suas ambições aniquiladas pelos donos do Planalto. Na página 274 de sua obra, Gaspari menciona que no desmanche de Delfim, o professor Eugênio Gudin “dizia a Golbery (chefe do Gabinete Civil) que o ministro manipulava os preços das cestas de alimentos para o cálculo do custo de vida. Quem fazia as contas era a Fundação Getúlio Vargas, e quem tinha assento no seu Conselho era Gudin, não Delfim”. Posteriormente, a própria FGV reconheceu que o índice utilizado para refletir o aumento real do custo da cesta básica havia sido manipulado em 1973.
O setor mais beneficiado com o boom econômico do período era o ocupado pelos próprios militares: “O Milagre triplicara as despesas militares do governo, levando-as para 1,66 bilhões de dólares em 1973. Entre 1968 e 1971 as despesas com pessoal militar aumentaram 63,7%, enquanto que o pessoal civil sofrera uma contração de 13% (pg. 281)”. Mario Henrique Simonsen substituiu Delfim na pasta da Fazenda, e dentre suas propostas para engordar os cofres do governo destaca-se a de jogar no mercado financeiro uma parte dos recursos do PIS, que fora criado em 1970 com o objetivo de assegurar um pecúlio para os trabalhadores. Simonsen pôs em prática a filosofia de que o Estado não pode deixar banco privado quebrar.
Em 1973, já era possível perceber a que custo o regime militar conseguira produzir o Milagre. Entre 1969 e 1973, a dívida externa brasileira cresceu 286%, indo para 12,6 bilhões de dólares; em 1974, fechou o ano em 17,2 bilhões.
Mas é em A Ditadura Encurralada que nos deparamos com uma das maiores trapalhadas que o regime militar conseguiu produzir em nome do almejado desenvolvimento nacional. Influenciado por iniciativas perpetradas por outros países, o Brasil resolveu implementar a sua política nuclear. Em 1972, Médici comprou junto à Westinghouse um reator nuclear capaz de gerar 627 megawatts. Era “uma caixa-preta tecnológica, alimentada por urânio enriquecido do governo americano. Foi contratada por 102 milhões de dólares...deveria ser inaugurada em 1977”. Os americanos voltaram atrás e romperam um contrato com o governo brasileiro para o fornecimento de urânio para as futuras usinas que os militares pretendiam construir, devolvendo os 800 mil dólares que o Brasil havia adiantado. O Brasil virou às costas para os Estados Unidos e passou a negociar com a Alemanha. Em 1975 o governo firmou um acordo com a Alemanha, pelo qual esta se comprometia a fornecer tecnologia para enriquecer urânio . Ocorre que “o processo alemão estava tecnicamente comprovado, mas ainda não demonstrara sua viabilidade comercial. Parecia ser verdadeira a piada: firmara-se um acordo em que a Alemanha oferecera uma tecnologia que não tinha, para enriquecer um urânio que o Brasil não achara (...) Esse acordo viria a ser o maior e mais custoso erro do governo Geisel. Nascera de duas estimativas erradas. A Eletrobrás derrubara o potencial hidrelétrico nacional, calculando-o abaixo de 120 mil megawatts, quando era folgadamente superior a 200 mil. Exageraram-se as projeções de consumo, imaginando-se uma demanda de 175 mil megawatts para o ano 2000, quando bastariam 100 mil. As usinas eram desnecessárias. No dia da sua assinatura, calculara-se o custo do pacote em 10 bilhões de dólares. Em 1979 foi a 15 bilhões e, em 82, a 18. O custo do quilowatt de seu primeiro reator, estimado em quatrocentos dólares em 1975, passou a 1500 em 78 e, em 90, estava em 4353 dólares. Durante o governo de Geisel e na década seguinte, nenhuma usina foi terminada. Só em 1986 é que se acendeu a primeira lâmpada alimentada com energia de Angra 2, única central produzida pelo Acordo Nuclear (pg. 136)”.
O Milagre Econômico existiu, inegavelmente. Ocorre que foi um fenômeno efêmero, cuja herança nos foi imposta sem que nos fosse possível renunciá-la.

segunda-feira, abril 03, 2006

Animals Farm



“Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais do que os outros.”
George Orwell, A Revolução dos Bichos

Se O Príncipe, de Maquiavel, é a bíblia do homem que pretende vir a ser político, e do político que pretende conservar tal status, A Revolução dos Bichos, de George Orwell, é a bíblia do homem que pretende entender melhor como a política vem sendo exercida pelos políticos profissionais. Aclamada como libelo contra os totalitarismos, a obra de Orwell deve ser reinterpretada em tempos de democracias formais.

Se os tempos em que grupos assumiam o poder político por intermédio de movimentos revolucionários parecem distantes, fruto do common sense em torno dos preceitos democrático-constitucionalistas de alternância de poder, nem por isso a fábula orwelliana há de ser relegada à segundo plano.

Não pretendo aqui discorrer acerca do que é política, nem dos meios e dos fins da política formal (Existe este termo?). Quero apenas trazer à tona passagens bastante oportunas da obra de George Orwell.

Já li e ouvi que a fábula tem como pano de fundo a revolução russa, o que parece evidente, se contrastada com algumas características e conseqüências da revolução bolchevique e do governo de Stálin. Mas a temática do livro, embora se encaixe perfeitamente na história da União Soviética, vai mais além deste pano de fundo. O livro é sobre a história política da humanidade, e sobre a alternância de poder que vem se verificando e parece que ainda se verificará durante um bom período em certo país tropical.

Escrevo partindo do pressuposto de que você ainda não tenha lido o livro do George Orwell, e espero não levá-lo a abandonar a idéia de lê-lo acreditando ser este texto um resumo do livro. Para começo de conversa, quero deixar claro que este texto é uma interpretação do livro. Interpretação esta que, não posso negar, espero que seja compartilhada por você após concluir a leitura.

A história se passa em uma granja, A Granja do Solar, situada no interior da Inglaterra e administrada pelo Sr. Jones. Um certo dia os animais da granja fazem eclodir um movimento revolucionário, liderado pelos porcos, após a leitura de um manifesto de cunho messiânico, na calada da noite, em assembléia secreta. O substrato ideológico do movimento, como fica evidente, é o socialismo: os animais, inconformados com a exploração perpetrada até então pelo latifundiário, deliberam no sentido de tomar a granja, expulsar o proprietário-explorador e assumir a administração da mesma em prol do bem comum, administração esta que seria embasada na igualdade de todos e na cooperação do trabalho de todos. O trabalho árduo propiciando uma produção suficiente para a subsistência do grupo. Não haveria mais exploração humana sobre os animais. Hão de ser execrados os seres que andam em duas patas e não possuam penas. Não haveriam mais privilegiados e desvalidos: “Todos os animais são iguais.....”.

Exploração, desespero, esperança, oportunidade – dessa combinação eclode a revolução, e da revolução vitoriosa a confiança dos demais em seus líderes.

O movimento vitorioso resulta na expulsão de Mr. Jones. Mas como todo movimento tem um líder, ou alguns líderes, são a estes, e não a si próprios, que os membros da revolução acabam reverenciando. Na fábula, são os porcos os líderes da revolução. Mais espertos, mais esclarecidos, incumbem-se da tarefa de administrar a granja, procurando, e conseguindo, através da publicidade ( O termo está mais na moda do que propaganda. Embora reconheça que tenham significados diferentes, tomo a liberdade, como “licença poética”, de utilizá-los como sinônimos), convencer as massas da sua capacidade de governar.

Os porcos-líderes gerenciam a granja e não demora para que percebamos que a igualdade prolatada só servia como marketing político. Primeiro trocam o nome da granja para Granja dos Bichos. Compõem o hino da revolução. Estimulam a alfabetização de todos, mas nem todos aprendem a ler. Enunciam uma série de mandamentos a ser por todos cumpridos no intuito de ser mantida a ordem. Transformam o trabalho e a cooperação como valores máximos da comunidade.

Com o passar do tempo, os líderes percebem que a auto-suficiência é impossível. Em razão disso, se antes os humanos deveriam ser execrados, passa a ser visto como necessário estabelecer alianças comerciais com eles. Eclodem batalhas com os humanos. Mr. Jones tenta retomar o poder da granja. É rechaçado pela turba de animais. Surgem novos heróis: de preferência, da classe dos líderes. Lá pelas tantas há uma crise de interesses dentro do partido, ou melhor, entre os porcos-líderes. Desta divergência, o derrotado é expulso, através de ardis pouco estranhos para quem acompanha o desenrolar da política brasileira.

Acabada a divergência intrapartidária, o líder vitorioso trata de restabelecer a confiança na sua liderança. Não é necessária nenhuma campanha publicitária mais vultosa para convencer o povo, digo, os animais inferiores de que ele era e continua sendo O escolhido, O mais capaz, O mais ético para administrar. Absortos nos louvores proclamados, todos se recolhem ao êxtase da adoração.

Trabalho, trabalho árduo, é necessário trabalhar para aumentar a produção. Só que os mandamentos vão sendo circunstancialmente alterados, de forma sorrateira, sem alarde, com o firme propósito de manter os animais convencidos de que sua única missão é trabalhar.......trabalhar cada vez mais, pois chega um dia em que é anunciada a necessidade de passar-se a fazer transações com os humanos, o isolacionismo é percebido como mortal e o estabelecimento de um sistema de trocas com os humanos passa a ser imprescindível para a conquista da felicidade de todos. Só que nem todos os humanos são confiáveis: dadas as circunstâncias, um é confiável. Modificadas as circunstâncias, o outro.

Alguns chegam a demonstrar uma certa incerteza, chegando a questionar o novo status quo. Mas se todos são iguais, se a exploração do animal pelo homem foi banida, questionar o sistema passa a ser interpretado como conluio com os exploradores. É preciso confiar no líder e seguir trabalhando para o bem de todos. O líder é que sabe: se o líder diz, está dito. Se o líder diz e as estatísticas confirmam, não há motivos para questionamento: não devemos questionar.

No ápice da estória, os porcos começam a descobrir os prazeres de alguns hábitos dos homens, passando a usufrui-los, às escondidas. Quanto mais neles se esbaldam, mais vêm o quão pernicioso pode ser, para eles, que os demais animais passem a usufruí-los. Aos outros animais, o único prazer necessário é o da comida e o do trabalho árduo. Eles, como líderes, têm o direito de usufruir desses prazeres, pois são necessários para a realização da espécie de trabalho a eles reservada: “arquivos, livros, pesquisas”.

“Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais do que os outros”.

No fim, os porcos, repentinamente, começam a andar em duas patas. Os homens já não são tão mais execráveis, podem até ser amigos. Aos outros animais, menos iguais, resta o trabalho, a manutenção da esperança e a certeza de que Mr. Jones já não está no poder, e que os poderosos de agora são os salvadores do amanhã.

Os porcos são melhores que Mr. Jones, ainda que tenham começado a andar em duas patas e que a granja volte a se chamar Granja do Solar. É o que lhes dizem para acreditar. É o que lhes dizem e eles devem acreditar.

Do Exército e suas manifestações


A nota divulgada pelo Exército em seu site na internet ( Ordem do Dia – 31 de março - www.exercito.gov.br), na qual é enaltecido o que eles gostam de considerar como “Revolução de Março de 1964” causa profundo desconforto naqueles que conhecem as conseqüências do golpe e o tipo de governo exercido pelos militares até a auto-extinção do regime ditatorial.

Os mais paranóicos e aqueles que desfrutaram da intimidade dos porões da ditadura talvez tenham sentido algo bem mais forte do que um mero desconforto ao ler a referida nota. Da minha parte, senti um forte embrulho no estômago e uma certa perplexidade ao ler o seguinte trecho:

"Esse Exército – o seu Exército – é conciliador sem perder a altivez, generoso com os vencidos, nobre nas atitudes, respeitador da lei, avesso aos ressentimentos – herdeiro legítimo que é do Duque de Caxias, nosso Patrono maior, o Pacificador.
Nesse contexto, o 31 de Março insere-se, pois, na História pátria e é sob o prisma dos valores imutáveis de nossa Força e da dinâmica conjuntural que o entendemos. É memória, dignificado à época pelo incontestável apoio popular, e une-se, vigorosamente, aos demais acontecimentos vividos, para alicerçar, em cada brasileiro, a convicção perene de que preservar a democracia é dever nacional
".

Agradecendo a Deus pelo privilégio de viver em uma época em que a liberdade de manifestação do pensamento é um dos valores supremos de nossa ordem constitucional, não posso deixar de traçar alguns comentários acerca desse trecho do manifesto.

Dentro do contexto histórico a que faz referência, creio que ao aludir a “Exército ....respeitador da lei “, o autor do escrito não fazia referência àquele famoso 31 de março ou, se fazia, devia referir-se tão-somente ao respeito aos Atos Institucionais que se proliferaram durante o brutal e atrapalhado governo militar.

Quanto ao 31 de Março inserir-se “na História pátria e é sob o prisma dos valores imutáveis de nossa Força e dinâmica conjuntural que o entendemos”, não quero acreditar que o autor da nota estivesse fazendo apologia à Força que milhares de brasileiros sentiu na carne ferida, nas entranhas perfuradas, nos nervos destruídos, na alma dilacerada, na honra vilipendiada e na boca amordaçada.

Em outro trecho, creio que o autor confundiu “apoio popular” com apoio da elites.

Já com relação a “convicção perene de que preservar a democracia é dever nacional”, prefiro crer que o conceito de democracia conservado pela instituição nos dias de hoje não seja o mesmo que manifestava nos anos de chumbo. Espero que nesse trecho o autor do escrito tenha sido sincero.

Prefiro dormir esta noite com a certeza de que os tigres não mais sairão das jaulas, e que o Exército tem consciência de que para a História, o 31 de março representa o alvorecer de um período de trevas que se abateu sobre a nação brasileira durante mais de 20 anos. Prefiro dormir esta noite com a certeza de que o Exército, no seu íntimo, tem consciência de que o regime militar foi uma vergonha para o Brasil e, sobretudo, uma vergonha para a própria instituição
.

domingo, abril 02, 2006

Eleições:182 dias

A notícia publicada na edição deste domingo do jornal Folha de São Paula, de que a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista pagou R$60mil a título de patrocínio institucional a uma revista de propriedade do médico acupunturista de Geraldo Alckmin, serve de alerta àqueles que começam a vislumbrar no candidato tucano a melhor alternativa à reeleição de Lula. Se criticamos o uso da máquina pública pelo PT em benefício da candidatura de Lula, em especial quando nos referimos aos excessivos gastos com publicidade realizados pelo governo federal com intuito manifestamente eleitoreiro, não podemos fazer vistas grossas quando o tucanato paulista adota a mesma prática. Cabe também lembrar que, no último ano do governo de FHC, os gastos realizados pelo governo federal com publicidade oficial foram iguais ou maiores que os realizados pelo governo lulista.O próprio Alckmin dobrou os gastos com publicidade oficial antes de deixar o governo paulista. Somando-se a isso o envolvimento do Azeredo com o valerioduto, resta evidente que as semelhanças entre o tucanato e o lulismo não se restringem à política econômica.


Ronaldinho Gaúcho


Com o que vem fazendo pelo Barcelona, e acreditamos que fará pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo, falta pouco para que Ronaldinho Gaúcho iguale-se a Pelé e Maradona. Se conquistar a Liga dos Campeões da Europa pelo Barcelona e for escolhido como melhor jogador do Mundial na Alemanha, trazendo o hexacampeonato para o Brasil, não poderá ser negado à Ronaldinho Gaúcho o status de um dos três maiores jogadores de todos os tempos.

sábado, abril 01, 2006

Depois do Grenal

A corda rebentou. Ainda resta uma tentativa.












Ludovico, o ingênuo


Ludovico anda atormentado por uma crônica crise de insônia que já se arrasta por mais de dois anos. Todas as noites é a mesma coisa: após ler algumas páginas da Agatha Christie ou do Conan Doyle, apaga a luz, põe a cabeça no travesseiro e, quando está quase adormecendo, repentinamente se vê transportado para Brasília. Sua mente fica vagando pelos corredores do Planalto, do Congresso Nacional, pelo Supremo...Teve uma noite em que a crise de insônia foi mais aguda, estendeu-se por mais de duas horas. Foi no dia em que o Francenildo apareceu no Jornal Nacional. Ludovico não consegue entender como pode um sujeito chamado Francenildo, um simples caseiro, ter intimidades com o ex-Ministro da Fazenda. Pior que isso: Ludovico não compreende por qual razão a direção da Caixa Econômica iria quebrar o sigilo bancário do Francenildo. Chegou a dar razão à Ideli Salvati:”Qualquer um pode perder o seu extrato bancário.....”. Ludovico também não entendeu por que o Palocci pediu exoneração após terem revelado a estória da quebra do sigilo. Ludovico também não entendeu porque condenaram a deputada gordinha que resolveu dançar comemorando a absolvição de seu amado colega de bancada. Também não entende por que as pessoas não entendem que o Lula realmente não sabia nada a respeito do que se passava nas entranhas do poder. Ludovico fica horas rolando na cama, sem conseguir dormir, se atormentando por tantas dúvidas.

Eleições: 183 dias

Dois sujeitos bebem tranqüilamente a cervejinha do final de tarde, à beira-mar, contemplando o desfilar de belas mulheres. De repente, um deles volta-se para o outro e diz:

- Certa vez um Presidente da República revelou:”Só num país como o Brasil na situação atual eu poderia chegar a presidente da República”. “Como é que se chega ao meu nome? Ora, porque fulano é cretino, sicrano é burro, beltrano é safado! Isso é jeito?” – e sorve um gole de cerveja – E tu, vais votar em quem para presidente?

Após tomar um gole de cerveja, estalando os beiços de prazer, o outro responde:

- No segundo turno, se houver, vou votar no Lula...e tu?

O outro, ainda com a frase do ex-presidente na cabeça, sem titubear, responde:

- Eu também...


Grenal


É hoje à tarde, às 16 horas, no Olímpico. Já faz quase dois anos. Inevitável sentir saudades – apesar do último resultado. Vamos para o gramado sem maiores responsabilidades: a razão e o bom senso nos dão a convicção de que o Inter é infinitamente superior. Para nós, que já subimos ao cadafalso, só resta torcer para que a corda não suporte o peso da nossa camisa. Apesar da razão, ainda tenho esperança.



Homens ao espaço


Aqueles que nunca leram os livros do Arthur Clarke, nem os do Azimov e muito menos os do Júlio Verne têm sérias dificuldades em encontrar razões para os gastos de bilhões de dólares com programas de exploração espacial. Aqueles que, além de não gostarem de ficção científica, não têm nenhum interesse por astrofísica ou astronomia, acham perda de tempo e de dinheiro investir em viagens espaciais.

Não sei se já foi feita alguma pesquisa a respeito, mas dado o número de pessoas que para mim já manifestaram essa dúvida, não são poucos os que sequer acreditam que o homem realmente um dia pisou na Lua: “Aquilo foi montagem de Hollywood”, costumam dizer.

Prefiro ignorar o pensamento desses últimos, mas até compreendo a opinião dos primeiros: em um mundo em que tantos morrem de fome, de sede ou por doenças contra as quais há muito tempo já foram desenvolvidas vacinas, é difícil legitimar o investimento de bilhões de dólares na exploração espacial.

Reconheço que temos problemas mais urgentes para resolver do que buscar habitat em outras partes do Universo. Para que uma estação espacial quando a cada dia milhões morrem de fome na África?

Prefiro contrapor a essa questão uma outra: para que investir bilhões de dólares em gastos militares quando a cada dia milhões de crianças morrem de fome em todo o mundo, ao mesmo tempo em que fazemos de tudo para que a vida se torne cada vez mais inviável em nosso planeta, nos levando a pensar com seriedade em buscar uma nova casa para a humanidade?

Está certo, atualmente, tão utópico quanto acreditar que possamos canalizar o dinheiro despendido com material bélico para acabar com a fome na África é pensar em construir hotéis-fazenda em Marte.

Realizei todo esse volteio para chegar ao tema da viagem do primeiro brasileiro ao espaço. Pagamos 10 milhões de dólares pelo passeio de 10 dias de um compatriota até a estação espacial. Querer comparar esse feito com o da invenção do avião pelo Santos Dumont é sacrilégio.

Desconheço a natureza dos experimentos que o Marcos Pontes levou para o espaço, mas pelo pouco destaque que mereceram da mídia, deduzo que não têm maior relevância. A viagem, em si, acredito que tenha valor, quando muito, histórico. Talvez maior que o valor histórico seja o aspecto circense que a envolveu. Utilidade prática, nenhuma, como a própria comunidade científica brasileira manifestou. Já li que essa viagem é obrigação assumida pelo Brasil ao assinar o tratado de desenvolvimento da Estação Espacial Internacional. Mas se é essa a justificativa, após mandarmos um brasileiro para a Estação, na qual ficará somente por uma semana, qual a próxima contribuição do Brasil para o desenvolvimento da Estação Espacial Internacional? Astronautas brasileiros passarão a viajar com freqüência para lá? Se sim, a que custo? Ou melhor, com o dinheiro de quem?

A comunidade científica brasileira, dentre as críticas menos ácidas que fez a essa viagem, manifestou-se dizendo que a viagem do astronauta brasileiro só tem valor como divulgação científica, pois chamaria a atenção, sobretudo das crianças, a respeito da importância da exploração espacial. Muito pouco para um país que não consegue subsidiar nem mesmo a construção de um foguete capaz de lhe permitir enviar satélites para o espaço sem precisar alugar foguetes russos ou americanos.

Afora tudo isso, abstraindo o racional, deixando-se levar pelo sentimentalismo tupiniquim e pela paixão pelas estrelas, é emocionante ter um brasileiro, neste exato momento, passeando pelo espaço.