sábado, abril 29, 2006

Ludovico, o ingênuo

Na última crise de insônia, como sempre faz, Ludovico aproveitou para dar uma lida nos principais jornais e revistas do país. Após a leitura, ficou horas contemplando a enorme mancha de mofo que anda enfeando o teto de seu quarto. De tanto olhar para a mancha, acabou , como de costume, tendo a mente transportada para os corredores de mármore da capital federal. Dentre os problemas para os quais Ludovico ainda não encontrou solução, um deles é o que viu estampado na capa da revista Carta Capital, edição de 26 de abril:”Quem pagou Francenildo?”. Ludovico gostou muito da reportagem, apesar de não encontrar em suas páginas nenhuma resposta para a pergunta. Ludovico não se conforma com a benevolência manifestada pelo tal empresário piauiense, o qual teria depositado os 25 mil ou 38 mil reais na conta do caseiro. Ficou mais confuso ainda quando soube que tem um outro personagem nessa estória, um tal microempresário que teria depositado os primeiros 10 mil reais na conta do caseiro, a pedido do tal empresário que seria pai do caseiro. Surpreendeu-se Ludovico ao saber que esse segundo empresário mora em um cidadezinha na fronteira do Maranhão com o Piauí, e que trabalha, assim como o outro, no ramo de transportes, sendo proprietário de uma “empresa” cujo patrimônio consiste em dois ônibus velhos: um com quase quarenta anos de uso e o outro, novíssimo, de 1972, que está parado por problemas mecânicos. Além da empresa de transportes, o segundo empresário ainda faz bicos como mecânico de automóveis e retífica de peças. Ludovico não entendeu o porquê de o empresário ter ficado nervoso quando o jornalista que fez a matéria foi entrevistá-lo. Não entendeu também como pode um morador da zona rural de uma pequena cidade do interior do Maranhão , que reside em um casebre sem acabamento, com poucos cômodos e cercado de lama, resolver emprestar, da noite para o dia, 10 mil reais a um empresário da capital do Piauí apenas por considera-lo “além de amigo, um cidadão”. Ludovico também não entendeu o porquê de esses fatos só terem sido relatados pela revista Carta Capital. Ludovico, refletindo sobre o que acabara de ler, chegou apenas a uma conclusão: “Vou comprar um ônibus velho e montar uma empresa de transportes no Piauí”.

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