domingo, abril 30, 2006

Fragmentos de 2003 d.C. ( Para Quintana)


Uma pequena pomba branca sobrevoa o escaldante deserto da Mesopotâmia.
No bico um pequeno ramo de oliveira colhido às margens do Rio Eufrates;
No pescoço uma coleira prateada colocada por um ornitólogo maluco;
Na mente uma pensamento de passarinho.

Um pequeno árabe colhe água de um velho poço ao sul de Bagdá.
Na casa em ruínas, sua avó prepara o pão para o café da manhã.
O sol começa a nascer mais uma vez, quando velozes dragões de aço cruzam os céus;
Rugidos síncronos, o pequeno árabe sorri.

Em seu quarto londrino, uma jovem iraquiana dorme nos braços de seu namorado americano.
Nos lençóis desarrumados, transpira os resquícios da noite de amor. Na parede uma mesquita
.....no sofá uma holy bible , na cadeira um saxofone, no som Bob Dylan, nas ruas cartazes, na TV violência
Na mente, sonhos.

Na fronteira rio-grandense, um palestino troca blusões de lã por dólares americanos.
Americanos rezam em mesquitas muçulmanas nos subúrbios de New York.
Em Jerusalém, enviados do Vaticano embarcam em aviões back from home.
Em Teerã, presos políticos são transferidos para masmorras no meio das dunas.

Em algum lugar no meio do deserto, a pequena pomba branca solta seu ramo de oliveira.
Em algum lugar no Golfo Pérsico, enormes monstros marinhos deslocam-se com cuidado.
Em alguma mesquita em Meca, o alcorão é interpretado erroneamente por fanáticos desesperados.
Em algum lugar no sul do Texas, uma família ilustre sorve vinho em belas taças de cristal, enquanto na tv o filho caçula anuncia a mais nova jihad metodista.

Bush, bush boom, escutam os iraquianos enquanto choram em prantos o seu quintal aniquilado.
Bush, bush boom, corre o pequeno árabe para os braços da avó morta.
Bush, bush boom, comemora o jovem afro-americano ao retornar à sua base em Ancara.
Bush, bush boom, exclamam os cavaleiros do apocalipse às portas do inferno.

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