domingo, abril 16, 2006

Ludovico, o ingênuo

Ludovico leu, na edição de sábado do Jornal do Brasil, que a CPI dos Correios enviou ao MP uma lista com nomes de 24 servidores do Congresso, sob os quais pesam fortes suspeitas de estarem envolvidos no esquema do mensalão. Num primeiro momento, a notícia passou despercebida. Ocorre que durante a mais recente crise de insônia, Ludovico sentou-se no vaso sanitário e, de posse do referido jornal, leu que um dos suspeitos é o assessor do ex-corregedor da Câmara dos Deputados.

O jornal informa que o nome do assessor já havia sido divulgado como suspeito de receber mensalão, mas a CPI teria levantado novos indícios de que o fulano poderia ter culpa no cartório. “Novos indícios. E quais seriam os antigos?” – questionou-se Ludovico.

Voltando à leitura, nosso herói descobriu que o tal assessor esteve 29 vezes na Sede do Banco Rural, coincidentemente, nos mesmos dias em que os funcionários e as empresas de um tal empresário careca sacaram 2,2 milhões de reais. “Pôxa, 2,2 milhões de reais! Pra que tanto dinheiro?!”

Ludovico leu ainda que o ex-corregedor da Câmara, na época, justificou as visitas do assessor ao Banco Rural porque era síndico de um prédio que tinha conta no banco...”ah, bom....então está explicado”.

Ludovico leu ainda que o ex-corregedor da Câmara tinha o estranho hábito de encher as gavetas de sua escrivaninha com papéis que entendia não terem qualquer serventia....na verdade, o que a notícia diz é que o ex-corregedor chegou à conclusão de que os tais papéis não tinham serventia porque haviam sido entregues por um certo deputado, que teria enchido os mesmos com um monte de bobagens, inclusive algumas piadas de mal-gosto.

O jornal revelou ainda à Ludovico que, em setembro de 2004, quando denunciou o tal esquema do mensalão, parece que provocou a ira do então presidente da Câmara, um tal de João, que quase perdeu o emprego em razão de umas histórias não esclarecidas. Parece que a ira do João se devia ao fato de que o jornal o havia metido no meio do tal esquema, denunciando inclusive que ele teria embolsado e gastado 50 mil reais do mensalão..........”ahhh, bom”......Depois de fazer bom uso do caderno de classificados, Ludovico voltou para o quarto e atirou-se na cama. A insônia ainda não havia passado, o que o levou a ficar remoendo, remoendo a cabeça com algumas dúvidas: “Se o assessor do ex-corregedor gostava tanto de freqüentar o Banco Rural, nas mesmas datas em que os empregados do careca também o faziam,....que mal há nisso?..........ah, mas que coincidência mesmo, o jornal diz que vários outros assessores de deputados também gostavam de freqüentar o Banco Rural.....mas não consegui entender o porquê, já que o dito banco fica a 5 km do Congresso e, além disso, a bufunfa dos empregados do Congresso é paga no Banco do Brasil, que tem agências na Câmara e no Senado?......esse mundo é danado de complicado mesmo, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, tantas coincidências....e eu aqui, perdendo tempo com essas bobagens.....e esse sono que não vem.........mensalão, mensalão, esses jornais estão a cada dia mais obscenos”.

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