sexta-feira, agosto 31, 2007

Vozes da caserna

Após o lançamento do livro "Direito à Memória e à Verdade", ecoaram da caserna vozes de reclamação. O comandante-em-chefe do exército, general Enzo Martins, declarou que o texto é partidarista e distorce a realidade.

A caserna esbraveja porque o livro relata com minúcias as barbáries praticada pelos milicos, em específico contra 339 mortos e desaparecidos durante a ditadura dos coturnos.

Enquanto a caserna se sente ofendida, a sociedade civil tem que comerorar a iniciativa do governo federal em reconhecer os crimes praticados durante a ditadura. Iniciativa que renova as esperanças de que a íntegra dos arquivos do período venha a ser finalmente aberto para consulta popular - o Rio Grande do Sul é o único ente federativo que abriu integralmente os arquivos do período.

O interesse público em conhecer a fundo as atrocidades praticadas pelos militares não pode ser desprezado em benefício dos criminosos que, de 1961 a 1988, usaram a farda como instrumento de repressão contra os que não aceitavam a ideologia conservadora das forças armadas.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Ensaio sobre a cegueira

Após o vazamento da conversa do descuidado ministro Ricardo Lewandoski, os ministros Eros Grau, Carlos Ayres Britto e Gilmar Ferreira Mendes vieram a público para, data vênia, desmentir a alegação de que teriam atuado com a "faca no pescoço" durante o julgamento da denúncia contra os 40 envolvidos no mensalão.

As declarações dos ministros, cujo teor variou do humorado ao indignado, foram óbvias: todos negaram ter sido influenciados por qualquer pressão externa.

Dos votos, até agora, só li fragmentos. Mas o inquérito está aqui no meu HD. Da análise superficial dos indícios apurados, comparando-os ao entendimento externado pelos ministros, restou a firme convicção de que o julgamento foi adequadamente técnico.

Consituti falácia a alegação de que o julgador tem que ser neutro.Nenhum ser humano é capaz de julgar de maneira robótica. Neutro e imparcial são conceitos que não se confundem. Das evidências à técnica, resta claro que os ministros atuaram com a exigida imparcialidade. Talvez o ministro Lewandosky tenha se deixado influenciar um pouco mais por anseios alheios, como poder-se-ia depreender do fato de ter sido o único a não enxergar indícios suficientes para a acusação de José Dirceu como integrante da quadrilha. Ao final, poderá até acontecer de o ex-ministro restar inocentado. Agora, ignorar os indícios revelados pelo inquérito e eximi-lo de responder ao processo beira à cegueira.

Conversa no jardim

A matéria da edição de hoje da Folha de São Paulo, na qual são revelados detalhes de uma conversa travada entre o Ministro Ricardo Lewandoski e um terceiro, de nome Marcelo, repercute como uma bomba sobre o julgamento dos 40 acusados do "mensalão".

Para José Dirceu, sobretudo, os detalhes do diálogo representam um trunfo extraordinário na sua ferrenha campanha em prol da desqualificação do julgamento.

Lewandoski teria revelado, na referida conversa, testemunhada por jornalistas da Folha, que os ministros teriam votado acuados pela imprensa. O minstro afirmou ainda que a tendência era "amaciar" as acusações contra Dirceu, o que só não foi feito em função da divulgação do teor dos e-mails trocados entre ele e a Ministra Carmen Lúcia, em plena sessão do Plenário.

Lewandoski foi o único a votar contra o recebimento da denúncia por formação de quadrilha contra Josef. Se o seu voto não foi suficiente para livrar o ex-ministro do banco dos réus, a conversa mantida no jardim, aos ouvidos de jornalistas da Folha de São Paulo, serve de forte trunfo favorável à defesa de Dirceu.

Com a esperteza que lhe é peculiar, Josef recorreu aos microfones na manhã de hoje, esbravejando que o julgamento está sob suspeição e que se sente com medo da ditadura da mídia.

A conversa no jardim, acima de tudo, repercute negativamente sobre dois baluartes do Estado Democrático de Direito: a liberdade de imprensa e o poder judiciário.

Sobre a imprensa, volta à tona a tendência dos asseclas do autal governo federal de condenar a imprensa quando esta veicula fatos e opiniões agressivas contra os seus interesses.

Sobre o Judiciário, resta maculado o dogma da imparcialidade dos julgadores, eis que vincula a atuação de ministros do STF a interesses outros que não o de atuar em busca da realização da justiça.

terça-feira, agosto 28, 2007

On the road

Conheci Kerouack e os beats através da música de Dylan e Morrison. Foi na adolescência, época em que doses de porra-louquice se fazem necessárias para evitar uma velhice rabugenta e recalcada. Embora incapaz de ler diretamente no original, em inglês, nunca engoli muito o título aportuguesado de "Pé na Estrada" - mais tarde soube, através do Peninha, que a edição purtuguesa é "Na boleia".

Ler os beats é um exercício de transcendência espiritual comparável a poucas outras, as quais prefiro deixar na penumbra da imaginação do leitor. Li On the Road ao som de muito Dylan, Doors, Velvet Underground e Neil Young. Ainda não conhecia o jazz. Por sinal, se através do rock cheguei aos beats, dos beats nasceu o meu pendor pelo sax de Coltrane e o trompete de Miles Davis...Parker, Gordon, Colemann só entraram na minha discoteca muito tempo depois.

Li On the Road deitado em minha cama, em poucos dias, há vários verões atrás. Viajei naquele texto anti-convencional com voracidade narcótica...lamentei minha falta de ousadia, minha inata incapacidade de assumir o aventureiro enrustido, preguiçoso. Naquela época me entediavam as obras jurídicas, às quais me rendi em função da maturidade e necessidade de aderir ao sistema. Quando velho tenho certeza que lamentarei a preguiça, o comodismo que me impediu de on the road...talvez até não me arrependa completamente, pois ao contrário de Dean Moriarty, a minha última página ainda não chegou.

O anti-convencionalismo de On the Road é a narrativa sem propósito, quase que sem enredo. On the road está fazendo cinqüenta anos. Quando foi escrito, a juventude necessitava daquele espírito de subversão, de burlar as regras hipócritas de uma sociedade que pregava o falso moralismo, que fazia e acontecia sob um manto pesado de aparência sã. on the road prega a loucura, a falta de propósito, o viver a vida intensamente, sem medir as conseqüências e sem sujeitar os demais aos delírios necessários à auto-realização espiritual.

Os beats foram os precursores do hippies. Assim como estes, buscavam derrubar o dogma do "faça, mas não deixe que lhe vejam". Pregavam uma vida plenamente livre. A irresponsabilidade inerente à conduta que pregavam impede um elogio irrestrito ao modo de vida que mantinham. Mas a liberdade que carregavam nas entranhas, assim como se fez necessária, em doses cavalares, na adolescência, ainda se apresenta como salutar para evitar o enlouquecimento inevitável do viver apenas segundo os outros.

Os 40 réus

Concluída a análise da denúncia do MPF, fundamentada em sólidos indícios de prática criminosa, eis a lista dos réus da ação penal que tramitará no STF:

1 - Anderson Adauto: Lavagem de dinheiro; Corrupção ativa
2 - Anita Leocádia: Lavagem de dinheiro.
3 - Antonio Lamas: Formação de quadrilha e Lavagem de dinheiro.
4 - Ayanna Tenório: gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro; Formação de quadrilha.
5 - Bispo Rodrgues: Lavagem de dinheiro; corrupção passiva.
6 - Breno Fischberg: Formação de Quadrilha; lavagem de dinheiro.
7 - Carlos Quaglia: Formação de Quadrilha; lavagem de dinheiro
8 - Cristiano Paz: Corrupção ativa; peculato, lavagem de dinheiro; Formação de quadrilha; Evasão de divisas.
9 - Delúbio Soares: Corrupção ativa; Formação de quadrilha.
10 – Duda Mendonça: Lavagem de dinheiro; Evasão de divisas
11 - Emerson Palmieri: Corrupção passiva; lavagem de dinheiro.
12 - Enivaldo Quadrado: Formação de Quadrilha; lavagem de dinheiro.
13 - Geiza dias: Lavagem de dinheiro; Corrupção ativa; Formação de quadrilha, Evasão de divisas.
14 - Henrique Pizzolato: Peculato, corrupção passiva, lavagem de dinheiro.
15 - Jacinto Lamas: Formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva.
16 - João Cláudio Genu: Formação de Quadrilha; Corrupção passiva; lavagem de dinheiro.
17 - João Magno: Lavagem de dinheiro.
18 - João Paulo Cunha: Lavagem de dinheiro, corrupção passiva; peculato.
19 – José Borba: Corrupção passiva; Lavagem de dinheiro
20 – José Dirceu: Corrupção ativa; Formação de quadrilha.
21 – José Genoino: Corrupção ativa; Formação de quadrilha.
22 - José Janene: Formação de Quadrilha; Corrupção passiva; lavagem de dinheiro
23 - José Luiz Alves: Lavagem de dinheiro
24 - José Salgado: gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro; Formação de quadrilha; Evasão de divisas
25 - Kátia Rabello: gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro; Formação de quadrilha; Evasão de divisas
26 - Luiz Gushiken: Peculato
27 - Marcos Valério: Corrupção ativa; peculato, lavagem de dinheiro; Formação de quadrilha; Evasão de divisas
28 - Paulo Rocha: Lavagem de dinheiro
29 - Pedro Correa: Formação de Quadrilha; Corrupção passiva; lavagem de dinheiro.
30 - Pedro Henry: Formação de Quadrilha; Corrupção passiva; lavagem de dinheiro
31 - Professor Luizinho: Lavagem de dinheiro
32 - Rámon Hollerbach: Corrupção ativa; peculato, lavagem de dinheiro; Formação de quadrilha; Evasão de divisas
33 - Roberto Jefferson: Corrupção passiva; lavagem de dinheiro.
34 - Rogério Tolentino: Lavagem de dinheiro; Corrupção ativa; Formação de quadrilha
35 - Romeu Queiroz: Corrupção passiva; lavagem de dinheiro
36 – Silvio Pereira: Formação de quadrilha
37 - Simone Vasconselos: Lavagem de dinheiro; Corrupção ativa; Formação de quadrilha; Evasão de divisas
38 - Valdemar da Costa: Formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva.
39 - Vinícius Samarane: gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro; Formação de quadrilha, Evasão de divisas.
40 – Zilmar Fernandes: Lavagem de dinheiro; Evasão de divisas

Com o firme propósito de agilizar a tramitação do processo, o Plenário autorizou com unanimidade o Relator Joaquim Barbosa a proceder imediatamente à citação dos 40 réus, indepndentemente da interposição de embargos pelas defesas.

Quadrilha

Corolário lógico da aceitação da denúncia por corrupção ativa na sessão de ontem, Dirceu responderá também por formação de quadrilha perante o STF. Tanto ele quanto Delúbio e, provavelmente, Marcos Valério e José Genoíno. Os indícios apurados no inquérito se revelaram mais do que suficientes para os ministros do STF reconhecerem a plausibilidade da denúncia em relação à conduta dos dois petistas. O banco dos réus já está devidamente ocupado, agora se espera que os ministros do STF, que até agora demonstraram a imparcialidade que a função exige, julguem a ação penal com o propósito único de fazer justiça.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Corrupção passiva

O aprendiz de cantor e ex-deputado Roberto Jefferson teve seu currículo de desfavores à vida pública brasileira enriquecido após o recebimento da denúncia de corrupção passiva formulada pelo MPF . O crime em que foi indiciado encontra-se tipificado no artigo 317 do Código Penal: "Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem". O inquérito revelou indícios de que Jefferson teria recebido 20 milhões de reais , valor cujo repasse teria sido acordado entre ele e José Dirceu, e além de embolsar uma parte, teria repassado o restante da verba para parlamentares do PTB.




Réus

O plenário do STF acolheu a denúncia do MPF contra José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e Marcos Valério. Cada um dos quatro foram enquadrados no artigo 333 do Código Penal, crime de corrupção ativa, cuja conduta tipificada consiste em "oferecer ou promover vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício".

Segundo o relator, Ministro Joaquim Barbosa, o inquérito aponta fortes indícios de que Valério repassou verbas a José Janene, Pedro Corrêa e Pedro Henry, do PP; Valdemar Costa Neto e Bispo Rodrigues, do PL; José Carlos Martinez, Roberto Jefferson e Romeu Queiroz, do PTB; além de José Borba, do PMDB.

Nove dos dez ministros constaram indícios de que José Genoíno teria negociado apoio político com parlamentares do PP e do PTB, em troca de dinheiro do "valerioduto". Delúbio foi acusado com base em indícios de que, na condição de então tesoureiro do PT, teria repassado verbas a todos os partidos constantes da denúncia: PP,PL,PMDB e PTB.

A denúncia recebida de forma unânime contra Josef Dirceu baseou-se em consistentes indícios de que este teria praticado corrupção ativa de parlamentares do PP,PL,PMDB e PTB. Em seu voto, o relator Joaquim Barbosa destacou diversos trechos do inquérito que evidenciam indícios dessa prática criminosa por Dirceu. O inquérito apresenta inúmeras evidências, obtidas através de depoimentos testemunhais, acerca do poder que Dirceu exercia dentro do esquema do mensalão, além de suas fortes relações com Marcos Valério e seus sócios, além da participação do ex-ministro em reuniões com ex-diretores do Banco Rural e com líderes da bancada aliada cuja temática seria o repasse de verbas em troca de apoio em projetos do governo, sobretudo a votação das reformas da Previdência e Tributária.

Até esta segunda-feira, 37 dos 40 "mensaleiros" já são réus na ação penal que tramita no Supremo.

domingo, agosto 26, 2007

Filhos da Esperança

O Ano é 2027. O mundo é um inferno, e Londres u,a nova Bagdá. Uma epidemia de infertilidade acometera a humanidade. Há 18 anos uma criança não nascia. Em meio ao conflito entre o exército e dezenas de grupos terroristas, um ex-ativista político tem a missão de pôr à salvo uma imigrante africana grávida. A criança que carrega em seu ventre é a única esperança para a construção de um novo mundo: o Projeto Humano.

Por todo o filme paira uma forte aura depressiva. A vida não é fácil no mundo de Filhos da Esperança. A humanidade vive em um imenso e aparentemente irreversível terceiro-mundo. O filme não é nenhuma obra-prima, mas para aqueles com disposição para conhecer o futuro imaginado por P.D. James, vale à pena. Em muitos lugares do mundo de hoje, o 2027 do filme está muito presente. Para aqueles que ainda não convivem com o inferno mostrado , recomenda-se que o assistam, e reflitam sobre alternativas para evitar que um dia, de fato, o inferno seja uma morada inevitável.

De burlesco à megalomaníaco

A megalomania e a demagogia de Hugo Chavez vêm atingindo níveis estarrecedores. Se antes ríamos da aparência burlesca do ditador , hoje sentimos forte pesar pelo futuro do povo venezuelano. Nos últimos meses, o ditador apresentou uma série de promessas cujo grau de irresponsabilidade social só poderia ser excluído pela atenuante de insanidade mental de Chavez. Dentre as promessas, destaca-se a celebração de tratado tendente a assegurar o abastecimento de petróleo por cem anos a países da América Latina e Caribe, pagamento de parte de uma dívida de 456 milhões de dólares de Belarus com a Rússia, financiamento de 32 milhões para o fornecimento de transporte gratuito para os pobres de Londres e contribuição de 18 milhões de dólares para o ator americano Danny Glover rodar um filme.

A megalomania de Chávez poderia passar despercebida não fosse o fato de as reservas internacionais da Venezuela serem de 27,1 bilhões de dólares e a sucessão de promessas importarem em mais de 37 bilhões de dólares.

Chávez brinca de superpotência, mandando dinheiro para pobres na Inglaterra e nos Estados Unidos, enquanto que seu país se afunda cada vez mais na miséria extrema.

A revolução bolivariana é uma piada, covardemente construída em cima de princípios que, se convertidos em intenção, mereceriam todos os louvores.

Não se sabe aonde a megalomania chavista levará o povo da venezuela. Torçamos para que não arraste com o seu povo o restante do tão sofrido povo latino-americano.

sábado, agosto 25, 2007

Direito à Memória e à Verdade

Na próxima quarta-feira será lançado pelo governo federal o livro-relatório Direito à Memória e à Verdade, no qual, pela primeira vez, um documento oficial acusa integrantes dos órgãos de repressão da ditadura militar de decapitar, esquartejar, estuprar, torturar, ocultar cadáveres e executar opositores do regime que já estavam presos e não podiam reagir. O documento causará forte desconforto na cúpula das Força Armadas, uma vez que refuta a tese dos militares de que os atos de bárbare praticados pelos milicos não foram práticas isoladas levadas a cabo por psicopatas dos porões da ditadura que teriam fugido ao controle do regime, mas sim fatos que aconteceram a mando da cúpula da ditadura e com o conhecimento de seus mais altos integrantes, inclusive dos generais-presidentes.

O livro será divulgado em boa hora, eis que a indignação causada pelas falcatruas de hoje, sobretudo quando representantes das elites resolvem ir às ruas protestar, pode acentuar a amnésia daqueles que viveram sob o regime dos coturnos.


quinta-feira, agosto 23, 2007

O Mágico-fazendeiro ou o Fazendeiro-mágico?

Renan é um próspero fazendeiro das Alagoas, também conhecido como presidente do Senado brasileiro. Os seus resultados contábeis estarrecem o mundo do agronegócio. Mas segundo apurou a Polícia Federal, não é o preço do gado por ele vendido que causa maior surpresa, mas sim a capacidade única em angariar lucros fantásticos a um custo irrisório de produção. Os livros-caixa do fazendeiro Renan deixaram perplexos os fiscais fazendários das Alagoas face à ausência de registros de despesas de custeio. De 2002 para cá, só há registro de gastos com funcionários em 2006. Pagamento de ITR, somente a partir de 2006. Compra de sal para o gado, somente após 2004. Em 2002, embora tenha declarado que criava gado em condomínio, não existe qualquer recibo de pagamento de uso de pasto. Em 2004, surgiram cem animais machos no rebanho, embora não haja registro de compra nem de nascimentos. Mas o mais incrível mesmo é o percentual de lucratividade anual do fazendeiro Renan: 82,77% em 2002; 85,79% em 2003; 50% em 2004; 50% em 2005 e 80,47% em 2006. Esse é Renan, o bruxo....

terça-feira, agosto 21, 2007

Tanto faz

A trupe lulista assistirá ao julgamento dos mensaleiros com a certeza de que, tanto se for arquivada a denúncia dos ex-procéres como se for instaurado o processo , de qualquer forma sairá com dor de cabeça. Se Dirceu for processado, dificilmente algo não respingará em Lula. Se a denúncia contra ele for arquivada, vai ser difícil de aturar a volta por cima de Josef.

Malvadezinha Neto

No ex-PFL, hoje DEM, sob a liderança de Malvadezinha Neto não medirá esforços para safar Renan Calheiros. Tal avô, tal neto.

Respeitável público!

A partir de amanhã, e pelos prózimos três dias, os holofotes estarão focados sobre a sala de julgamentos do Supremo Tribunal Federal. Os 11 ministros (10, na realidade, face à circunstancial aposentadoria do ministro Sepúlveda Pretence) analisarão e decidirão se recebem a denúncia do Procurador-Geral da República contra os 40 mensaleiros, ou parte deles, ou se arquiva a denúnincia. Na relatoria, o Ministro Joaquim Barbosa, cujo voto, segundo se anuncia, terá 400 páginas. No centro do picadeiro, encabeçando a lista de acusados, o antes todo-poderoso Josef Dirceu. Logo atrás, Delúbio Soares, Marcos Valério, José Genoíno, Sílvio Pereira, Roberto Jefferson, João Paulo Cunha, Luis Gushiken, Duda Mendonça, Pedro Henry, José Borba e outras estrelas menos brilhantes. A expectativa é grande! Para apimentar mais o molho, o MP interpôs duas ações por improbidade administrativa contra 37 dos 40 mensaleiros. As ações correrão em paralelo ao processo crime, tramitando na Justiça Federal, sem foro privilegiado. Teremos um show de oratória dos advogados contratados a peso de ouro pelos acusados. Dentre eles, um utiliza como argumento de defesa o caráter circense que reveste a denúncia do MP, alegando que inclusive o nº 40 foi deliberadamente escolhido pelo Procurador-Geral da República para dar maior apelo midiático ao julgamento. Não há dúvidas de que o processo será instaurado, só não se sabe se figuras como Josef Dirceu e Genoíno passarão de indiciados a réus. Respeitável público!Acomodem-se nas poltronas....olho na TV Justiça...o show vai começar...espera-se que sem palhadas, mas com seriedade....difícil crer?

sexta-feira, agosto 17, 2007

Republiqueta de laranjas e bananas

O blog do Josias (http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br) teve acesso ao relatório apresentado por fiscais fazendários alagoanos, após requisição da Polícia Federal, através do Conselho de Ética do Senado, a fim de instruir o inquérito que investiga as falcatruas do presidente do Senado.

No texto, os fiscais revelam que os compradores de carne apontados por Renan - compras que teriam atingido o montante de 1,9 milhões de reais - são empresas que transferem dolosamente a condição de sujeito passivo a pessoas jurídicas cujos responsáveis são laranjas cuja condição de vulnerabilidade sócio-econômica não estão ao alcance do fisco estadual.

O principal comprador é a empresa Mafrial Matadouro Frigorífico de Alagoas S/A, que em 2003 apresentou ao fisco de Alagoas um movimento de saída no total de mais de 500 mil reais. Saída essa que, ao contrário do dito por Renan, não representa carne, mas sim devolução de mercadorias ou subprodutos de matança de gado, utilizados para fabricação de produtos de limpeza e ração para animais.

Renan alega que NÃO SABIA de qualquer participação de seus compradores com esquemas fraudulentos, dizendo que quem usava laranjas eram eles, e não ele.

Detalhe: durante quatro anos Renan negociou com tais empresas sem desconfiar do laranjal que tinham plantado em seus quintais.

Só numa republiqueta de laranjas e bananas o presidente do senado conserva o cargo mesmo após tamanho repertório de denúncias.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Éder Jofre e Suplicy

Extraordinária a "Carta Aberta a Fidel Castro", assinada por Éder Jofre e Eduardo Suplicy, publicada na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo. Tomo a liberdade de transcrevê-la abaixo, ressaltando a riqueza do texto e a inteligência demonstrada pelos autores:

Carta aberta a Fidel Castro

EDER JOFRE e EDUARDO MATARAZZO SUPLICY

Quem lhe escreve são dois brasileiros, ambos ex-pugilistas. Gostaríamos de fazer um apelo humanitário ao governo de Cuba

EXMO SR. Presidente Fidel Castro Ruz: Queremos cumprimentá-lo por seu aniversário e expressar nossos votos de plena recuperação de sua saúde. Acompanhamos com atenção os 15º Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, em especial o caso dos pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux Ortiz e Erislandy Lara Santoya.
Quem lhe escreve são dois brasileiros, ambos ex-pugilistas. O primeiro é Eder Jofre, campeão mundial de boxe dos pesos-galo de 1960 a 1965 e dos pesos-pena em 1973, considerado o melhor peso-galo de todos os tempos pelo Conselho Mundial de Boxe e o nono melhor pugilista de todos os tempos por "The Ring", além de ter sido vereador de São Paulo de 1989 a 2002, pelo PSDB.
O segundo é Eduardo Matarazzo Suplicy, que disputou em 1962 -como Eder Jofre em 1953- a "Forja dos Campeões", campeonato amador patrocinado pelo jornal "A Gazeta Esportiva", e atualmente é professor de economia na FGV e senador da República pelo PT, eleito pela terceira vez pelo povo do Estado de São Paulo.
Vimos que os atletas cubanos tiveram um extraordinário desempenho no Pan do Rio, com 59 medalhas de ouro, superado só pelos dos EUA, com 97. O mérito de Cuba é impressionante -a população dos EUA é mais de 25 vezes maior que a cubana.
Agradecemos pelo voto de pesar transmitido ao povo brasileiro pelo trágico acidente aéreo que causou a morte de 199 pessoas em meio ao Pan.
Em relação aos dois pugilistas, sabemos que abandonaram a delegação de Cuba na Vila do Pan e acabaram aliciados por empresários que lhes ofereceram vantagens monetárias e diversões para que deixassem de cumprir a responsabilidade de representar sua nação. Lemos seus depoimentos à Polícia Federal, em que expressam arrependimento, amor a Cuba e vontade de voltar ao seu país de livre e espontânea vontade, segundo assegurou o representante do Ministério Público que os assistiu. Em virtude disso, o governo brasileiro, em coordenação com o cubano, tomou as medidas para que voltassem a Cuba.
No artigo de 4/8 para "O Granma", V. Excia. afirmou que "esses cidadãos não sofrerão arresto de nenhum tipo e ainda menos serão vítimas de métodos como os praticados pelo governo dos Estados Unidos em Abu Ghraib e Guantánamo, jamais utilizados em nosso país. Estarão provisoriamente numa casa de visita e poderão ser visitados por seus familiares".
Três dias depois, V. Ex.ª escreveu: "É chegado o momento de constituir a lista de pugilistas cubanos que participarão das Olimpíadas de Pequim, com quase um ano de antecipação.
Primeiro eles devem viajar aos EUA para participar do campeonato mundial, um dos três eventos classificatórios dos Jogos Olímpicos". Em seguida, V. Ex.ª. adverte, depois de alertar com respeito a oferecer carne fresca aos tubarões da máfia, que "as autoridades desportivas estão analisando todas as variantes possíveis, incluindo trocar a lista dos boxeadores ou não enviar delegação alguma".
Se isso significar que Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara não poderão representar Cuba no campeonato mundial e depois nas Olimpíadas de Pequim, gostaríamos de fazer um apelo humanitário ao governo de Cuba. Queremos ressaltar nosso respeito à decisão que vier a ser tomada, pois ambos sabemos que não devemos interferir nas decisões internas e soberanas de cada país, princípio estabelecido na Constituição brasileira.
Considerando que Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara reconheceram o erro de abandonar a delegação às vésperas das lutas, qualificado em seu artigo como semelhante ao do soldado que abandona os companheiros em meio ao combate; que já estão de volta ao seio de suas famílias e que são campeões olímpicos com possibilidade de serem novamente vencedores, pedimos que Cuba possa lhes dar uma nova oportunidade, como merecem todos os seres humanos.
Esse gesto de generosidade nos aproximará do que disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 5, no jornal "O Globo": "Em nosso continente não precisamos de muros... A verdadeira integração faz circular livremente não apenas mercadorias e serviços mas também pessoas e idéias".
Quem lhe escreve tem recomendado aos EUA o final do bloqueio econômico imposto a Cuba há tantas décadas, como sabe V. Ex.ª. Permitir que Rigondeaux e Lara disputem a próxima Olimpíada representando Cuba contribui para o espírito universal do esporte. Amando Cuba, como declararam, certamente continuarão a viver em seu país.
Respeitosamente,


EDER JOFRE, 71, bicampeão mundial de boxe, foi vereador pelo PSDB em São Paulo. EDUARDO MATARAZZO SUPLICY, 66, doutor em economia pela Universidade Estadual de Michigan (EUA), professor da FGV, é senador pelo PT-SP. É autor do livro "Renda de Cidadania - A Saída é pela Porta".

Espero que a minha liberdade não seja tomada por abuso aos direitos reservados à Folhapress. Assumo o risco em prol da necessidade de ampla divulgação do texto.

terça-feira, agosto 14, 2007

Sobre tiranos e tiranias

Mais de uma semana depois, é necessário voltar ao assunto da postagem anterior. O caso dos boxeadores cubanos ainda está martelando na mente deste blog. Li na Folha que eles voltaram para Cuba e, por decreto do benevolente governo castrista, foram banidos do esporte. A versão oficial, divulgado no panfletário Granma - lá a imprensa se resume a panfletos, sob pena de prisão dos responsáveis por qualquer tentativa oposicionista -, que estão arrependidos do ato de traição à pátria. Banidos do esporte, qual será a função que o regime dará aos dois atletas que o Brasil entregou ao regime de Fidel? Talvez se tornem apóstolos da revolução anacrônica, livres dos grilhões perante às massas, com as almas acorrentadas pelo crime de buscar a liberdade. Parece que o governo cubano espalhou um boato de que eles foram traídos por falsas promessas de empresários alemães, símbolos do imperialismo capitalista. Extra-oficialmente, parece que de fato foram obrigados a voltar sob pena de duras represálias sobre os familiares que se mantiveram confinados na "paradisíaca ilha". Banidos do esporte...pra sempre....com a ajuda brasileira, com a desumana expulsão levada a cabo pela tão aclamada Polícia Federal. Comparsas de ditadores, assim nos tornamos, assim nos envergonhamos de ter um dia tecido elogios ao nosso tirano Ministro da Justiça.

domingo, agosto 05, 2007

Rigondeaux

O Brasil prendeu os dois boxeadores cubanos que tentaram fugir das garras da ditadura de Fidel. Um deles, se não me engano, chamado Rigondeaux, fugira com a certeza de assinar contrato com academia de boxe alemã, a qual lhe propiciaria uma nova carreira, com incentivo para o esporte e para viver a vida de maneira livre, sem racionamentos, sem grilhões. O Brasil prendeu Rigondeaux e vai devolvê-lo para Fidel. Em Cuba, o boxeador voltará despido da antiga imagem de herói, transformado agora em traidor da revolução. O Brasil prendeu Rigondeaux, sob a justificativa calhorda de que se tratava de um imigrante ilegal. O Brasil prendeu Rigondeaux, vai deportá-lo para o inferno de Cuba, lavará as mãos e tudo voltará a ser como antes. O Brasil prendeu Rigondeaux...o Brasil deportou Rigondeaux...saberemos que destino dar-lhe-á a ditadura cubana?...O Brasil prendeu e deportou Rigondeaux...envergonhemo-nos dessa pusilânime demonstração de complacência com o totalitarismo cubano.

Aprovação

Neste blog, a popularidade do presidente Lula nunca foi das mais elevadas. Buscando-se os artigos escritos no período das eleições passadas, encontrar-se-á manifestações de apoio à candidata Heloísa Helena, bem como inúmeras manifestações de repúdio ao candidato Geraldo Alckmin. Uma análise precipitada, baseada na constatação de que fizemos oposição firme ao candidato tucano, poderia concluir que apoiamos a eleição de Lula. Indiretamente, não temos como negar que a afirmação é procedente. Apoiamos Lula contra Alckmin, por entender que entre os dois, a vitória do segundo representaria um retrocesso. No entanto, essa opinião não serve para afirmar que este blog é lulista. Lendo atentamente os artigos aqui escritos, é fácil perceber, sem necessidade de descer a profundas elucubrações embasadas nas entrelinhas, que o governo Lula desagrada a este blog. No momento, o que temos é Lula. No futuro, ainda não vislumbramos uma opção que acalente maiores esperanças de melhora.

A notícia de que a aprovação de Lula, apesar da recente grita ecoada dos escombros do caos aéreo, matém-se nos mesmos patamares de março último não surpreende.

Não nos cansamos de externar a opinião de que a incompetência governamental é responsável, ao menos indiretamente, pelos acidentes da Gol e da TAM. Se nesses casos é indireta, numa análise global do caos do transporte aéreo brasileiro não há como negar que é direta.

É preciso ter em mente que se o caos aéreo, por recente, domina os noticiários, muitas outras catástrofes, de repercussão muito mais intensa, embora menos espetacular, justificariam uma reprovação muito mais significativa à administração Lula. No entanto, atribuir ao presidente Lula a culpa exclusiva por uma situação caótica que perdura há anos - agravando-se sob a sua gestão, não negamos - seria incorrer em leviandade.

Em razão disso, os 48% de aprovação não nos surpreende. Assim como também não surpreende o uso, pela oposição, de espetáculos dolorosos como arma para desestabilizar o governo. Governo esse que, envergonhamo-nos de afirmar, se desestabiliza por si só.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Internet

Li no UOL Music que o Elton John pediu a extinção da internet, sob o argumento de que ela estaria destruindo a indústria musical e as relações interpessoais. Acho que o Elton John legou à humanidade algumas canções bastante agradáveis, como Bennie and the Jets, Nikita, dentre uma dúzia de outras. No entanto, como bom britânico, e numa atitude nada roqueira - na verdade, acho que roqueiro ele só foi em um ou dois discos - , revela um conservadorismo exacerbado ao externar tal opinião. Conservador no sentido de querer conservar o próprio bolso, cujo acréscimo pecuniário, sem dúvida, sem vê negativamente afetado em tempos de disseminação dos downloads de música. Conservador também do ponto de vista social, ao demonstrar que enxerga apenas o lado negativo do uso da internet como instrumento de comunicação.

Concordo com o Elton John quando critica o uso nefasto da internet como único meio de interação social. Me aliaria até a um eventual protesto em favor da diminuição das horas de uso diário da internet em troca do contato face a face. No entanto, discordo totalmente da opinião de que a internet está destruindo as relações interpessoais. Muito antes pelo contrário. Acho que a internet, assim como revolucionou todas as áreas profissionais, permitindo maior facilidade de acesso à informação - é claro que muitas vezes informações que deveriam ser descartadas - , produziu um benefício tremendo para as relações interpessoais. Nada substitui o face a face, é lógico. No entanto, através da internet temos a oportunidade de nos comunicar com um sem-número de pessoais, situadas em locais tão distantes de nós, ra~zoa pela qual, com certeza, dificilmente conseguiriamos conhecer sem o auxílio de tal ferramenta. Como lado negativo, sem dúvida, a internet favorece sobremaneira o aumento das dissimulações sociais. Dissimulações essas muitas vezes patológicas, manejadas por pessoas incapazes de se revelarem de maneira autêntica. Mas isso são distorções que, por si só, não serviriam para justificar um ataque maciço contra a web.

De outra banda, com relação aos prejuízos que a internet vem causando à indústria musical, tenho a firme convicção de que, mais do que a rede, o grande responsável é a própria indústria. O preço cobrado pelas grandes gravadoras e produtoras aos consumidores de música a cada dia se torna mais exorbitante. Se o preço do acesso à música - para não dizer à cultura em geral - não fosse tão excessivo, os consumidores não trocariam um bom cd por arquivos digitais. Quanto ao alegado desrespeito aos direitos autorais, tenho a firme convicção de que a indústria musical, através de sua desmesurada busca pelo lucro fácil, patrocina há muito tempo um atentado muito mais violento aos direitos autorais do que os próprios internautas adeptos dos downloads. O Brasil é um exemplo claro dos abusos das produtoras e gravadoras, as quais cobram pelos discos que vendem valores que extrapolam e muito a capacidade de consumo da maioria da nossa população. O comportamento da indústria é o grande responsável pelo acentuado decréscimo de suas vendas, tornando a prática dos downloads um fenômeno irreversível, do qual as grandes gravadoras somente escaparão se se reinventarem. Exemplo de reinvenção vem sendo dado por algumas gravadoras independentes, bem como por artistas independentes, que optaram por comercializar discos diretamente na rede, com preços bem menores, ou então passaram a concentrar seus ganhos através de shows, cuja divulgação é feita na internet. Assim, a grita do Elton John parece mais uma atitude desesperada de quem se vê em meio a uma derrocada na carreira, fruto de uma aguda crise de criatividade. Crise essa que, de forma alguma, pode ser atribuída unicamente à internet.