quarta-feira, agosto 01, 2007

Internet

Li no UOL Music que o Elton John pediu a extinção da internet, sob o argumento de que ela estaria destruindo a indústria musical e as relações interpessoais. Acho que o Elton John legou à humanidade algumas canções bastante agradáveis, como Bennie and the Jets, Nikita, dentre uma dúzia de outras. No entanto, como bom britânico, e numa atitude nada roqueira - na verdade, acho que roqueiro ele só foi em um ou dois discos - , revela um conservadorismo exacerbado ao externar tal opinião. Conservador no sentido de querer conservar o próprio bolso, cujo acréscimo pecuniário, sem dúvida, sem vê negativamente afetado em tempos de disseminação dos downloads de música. Conservador também do ponto de vista social, ao demonstrar que enxerga apenas o lado negativo do uso da internet como instrumento de comunicação.

Concordo com o Elton John quando critica o uso nefasto da internet como único meio de interação social. Me aliaria até a um eventual protesto em favor da diminuição das horas de uso diário da internet em troca do contato face a face. No entanto, discordo totalmente da opinião de que a internet está destruindo as relações interpessoais. Muito antes pelo contrário. Acho que a internet, assim como revolucionou todas as áreas profissionais, permitindo maior facilidade de acesso à informação - é claro que muitas vezes informações que deveriam ser descartadas - , produziu um benefício tremendo para as relações interpessoais. Nada substitui o face a face, é lógico. No entanto, através da internet temos a oportunidade de nos comunicar com um sem-número de pessoais, situadas em locais tão distantes de nós, ra~zoa pela qual, com certeza, dificilmente conseguiriamos conhecer sem o auxílio de tal ferramenta. Como lado negativo, sem dúvida, a internet favorece sobremaneira o aumento das dissimulações sociais. Dissimulações essas muitas vezes patológicas, manejadas por pessoas incapazes de se revelarem de maneira autêntica. Mas isso são distorções que, por si só, não serviriam para justificar um ataque maciço contra a web.

De outra banda, com relação aos prejuízos que a internet vem causando à indústria musical, tenho a firme convicção de que, mais do que a rede, o grande responsável é a própria indústria. O preço cobrado pelas grandes gravadoras e produtoras aos consumidores de música a cada dia se torna mais exorbitante. Se o preço do acesso à música - para não dizer à cultura em geral - não fosse tão excessivo, os consumidores não trocariam um bom cd por arquivos digitais. Quanto ao alegado desrespeito aos direitos autorais, tenho a firme convicção de que a indústria musical, através de sua desmesurada busca pelo lucro fácil, patrocina há muito tempo um atentado muito mais violento aos direitos autorais do que os próprios internautas adeptos dos downloads. O Brasil é um exemplo claro dos abusos das produtoras e gravadoras, as quais cobram pelos discos que vendem valores que extrapolam e muito a capacidade de consumo da maioria da nossa população. O comportamento da indústria é o grande responsável pelo acentuado decréscimo de suas vendas, tornando a prática dos downloads um fenômeno irreversível, do qual as grandes gravadoras somente escaparão se se reinventarem. Exemplo de reinvenção vem sendo dado por algumas gravadoras independentes, bem como por artistas independentes, que optaram por comercializar discos diretamente na rede, com preços bem menores, ou então passaram a concentrar seus ganhos através de shows, cuja divulgação é feita na internet. Assim, a grita do Elton John parece mais uma atitude desesperada de quem se vê em meio a uma derrocada na carreira, fruto de uma aguda crise de criatividade. Crise essa que, de forma alguma, pode ser atribuída unicamente à internet.

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