quarta-feira, novembro 07, 2007

O Mito da Monogamia

David P. Barash é doutor em zoologia e professor de psicologia na Universidade de Washington, em Seattle. Judith Eve Lipton é uma renomada psiquiatra especializada em questões envolvendo a mente feminina. Além de serem casados a 30 anos e terem dois filhos, escreveram um interenssantíssimo livro entitulado O Mito da Monogamia: Fidelidade e infidelidade entre pessoas e animais.

A obra é rica em detalhes sobre a vida conjugal de um sem-número de espécies animais, além, é claro, de revelar uma série de dados coletados por inúmeros estudiosos sobre o comportamento sexual entre os seres humanos.

Sob o ponto de vista puramente biológico, e daí o título da obra, a monogomia é um fato raro no reino animal, antinatural inclusive entre os humanos. Descambando para uma explicação religiosa, podemos afirmar após ler o livro que Deus nos criou com uma peculiar e quase invencível propensão ao sexo extraconjugal: poliandria, entre as fêmeas; poliginia, entre os machos.

Característica inata a todos os seres animais, neles incluídos nós, humanos, a fidelidade é um fenômeno raro na natureza. Embora rara, ela existe, e os autores da obra discorrem sobre uma sucessão de possíveis fatores que justificariam a escolha (difícil, quase impossível de ser posta em prática) pela cópula intrapar em detrimento da cópula extrapar, esta a mais comum e naturalmente sugestionada entre as pessoas e os animais.

Dá para resumir o livro em uma certeza, revelada tanto pela biologia como pela psicanálise, de que o fazer sexo é a atividade suprema, o instinto mais forte seja de um besouro quanto de um ser humano. A finalidade: a propagação e a preservação da espécie. Para as fêmeas, a qualidade. Para os machos, a quantidade. As primeiras preocupadas em gerar filhos com as qualidades genéticas que reputam mais importantes. Daí a necessidade de não se furtarem em buscar cópulas extrapar, submetendo-se a se transformarem em campo de batalha da competição entre a miríade de esperma com que são fecundadas pelos machos das mais variadas características genéticas. Qualidade, é o que elas buscam. Já os machos, sem critérios, buscam realizar o maior número possível de cópulas, para fecundarem o maior número possível de ovos, e assim proliferarem as suas sementes.

Essa a explicação biológica, apresentada pelo livro.

Mas a grande questão do livro, cujas tentativas de resposta nos remetem a uma vastidão de teorias interdisciplinares, é: por que monogamia?

Da filosofia de Platão, segundo a qual todos temos uma alma gêmea - avassaladoramente questionada em função do improvável encontro - , à explicação sociológica de que a promiscuidade da fêmea não é encarada com bons olhos por todas as sociedades humanas, passando pelo vatícinio da antieconomicidade da opção pelo harém, além, é claro, do vazio psicológico derivado do sexo casual e indiscriminado, somos estimulados a refletir, em vários momentos com muito humor, sobre as possíveis causas e consequências da fidelidade e da infidelidade.

Concluindo o estudo, os autores deixam claro que, embora não natural, a monogomia é uma opção pela felicidade - da qual compartilham num casamento de 20 anos -, pois nem tudo o que é natural é bom.

A monogomia é um mito biológico. Mas para nós, humanos, uma escolha bastante comum: uma regra com bons frutos mas algumas exceções.

Nem tudo o que é natural é bom. Nem tudo o que é bom é natural.

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