terça-feira, dezembro 25, 2007

A Raiz de todo mal?

Chuvinha gostosa, calorzinho suportável, preguiça pós ceia de Natal, distância geográfica, solidão inevitável...clima propicio para cometer o sacrilégio de curtir o ócio assistindo ao documentário The Root of Evil?, do biólogo e militante ateísta Richard Dawkins.

Antes de analisar as opiniões externadas por Dawkins, é preciso analisar o contexto em que são produzidas.

Nenhuma outra nação ocidental vive sob o jugo do fundamentalismo cristão como os Estados Unidos da América. Na verdade, os EUA são cria de um grupo de fundamentalistas protestantes que rumaram para o Novo Mundo com a firme convicção de que eram os escolhidos de Deus para a tarefa de construir a Terra Prometida. Há mais de 300 anos, essa idéia não soava de maneira tão maluca. Ocorre que hoje, esse tipo de pensamento, verdadeiro delírio coletivo que assola mais de 75% do povo norte-americano, é um grave problema. Mais de 135 milhões de norte-americanos acredita na existência do Inferno, dentre eles o Presidente. Pior do que acreditarem que o pecado conduz ao inferno, é achar que a purificação proposta pelas centenas de seitas neopentecostais lhes assegurará um lugar cativo no Paraíso; e que tudo o que aqui fizerem, desde que freqüentem os cultos e sigam a doutrina, lhes salvará.

O fundamentalismo cristão é um problema gravíssimo, verdadeira epidemia que assola as terras do Tio Sam. Uma nação em que as escolas, a grande maioria delas, execra a teoria da evolução e tem no Gênese a única fonte capaz de revelar a verdade sobre a origem da vida, padece de uma assustadora doença, carecendo de forte oposição em termos pedagógicos.

Para 80% dos norte-americanos, o Universo foi criado há menos de 6 mil anos. A Teoria da Evolução é uma falácia, um sacrilégio que reduz os filhos de Deus à meros animais.

É contra esse tipo de alienação que Dawkins se insurge, ferrenhamente, pregando que a religião é a raiz de todo o mal.

Dawkins discorre a respeito do fundamentalismo islâmico (fonte dos homens-bomba) e mosaico. Mas mais tempo a derrubar os dogmas cristãos.

Ao se dispôr a enfrentar tamanha batalha, contrapondo a luz da ciência às trevas da fé, Dawkins acaba, de forma paradoxal, pregando uma espécie de fundamentalismo científico.

Embora agnóstico, discordo que a religião, strito senso, seja a raiz de todo o mal. O fundamentalismo, sim, é uma das tantas raízes do mal reinante.

Religião e ciência, fé e razão, são formas diferentes de tentar descrever o homem, a vida, o Universo.

A religião se torna maléfica quando se apresenta como a dona da verdade, das verdades primeiras e últimas. Reconheço que a grande maioria delas se propõe a isso; mas existem muitas, todas elas de origem oriental, que se restringem a procurar ajudar as pessoas a buscar o auto-conhecimento. Não se preocupam em pregar verdades, mas ajudar as pessoas a encontrá-las, tudo em nome de uma finalidade única: viver segundo preceitos de solidariedade, de respeito e amor ao próximo e a si próprio.

À ciência incumbe a tarefa de descrever as regras do Universo. De contemplar e descrever. De se questionar ao infinito, sobrepujando teorias obsoletas e chegar o mais próximo possível da compreensão do todo - que se um dia acontecer, representará o seu próprio fim.

Não cabe à ciência provar ou negar a existência de Deus. Assim como não é tarefa da religião dizer como, quando e porque o Universo e a vida foram criados.

Quando cientistas e religiosos se conscientizarem a respeito de suas tarefas, e muitos o são, não haverá lugar para os fundamentalismos.

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