domingo, novembro 26, 2006

Cuba Libre



Andy Garcia é cubano de nascimento e norte-americano por opção. Não sei detalhes de sua biografia, mas ao assistir ao filme Cidade Proibida – no qual é produtor, diretor e ator principal - saí com a convicção de que a sua estória deve ser bastante semelhante à do protagonista – na realidade, protagonista é a própria Cuba.

Cuba, como toda nação latino-americana que se preze, sempre foi vítima da sanha espoliadora da metrópole colonizadora e do império conquistador. Tanto um como outro não conseguiriam, ou melhor, desistiriam de seus projetos de saque e dominação não fosse a condescendência e o espírito sanguessuga dos criollos, num primeiro momento, e das sucessivas gerações de rufiões que administram a seu bel-prazer os interesses da pátria.

As Cubas de Fulgêncio Batista e Fidel Castro, embora extrinsecamente diferentes, muito se assemelham em suas entranhas.

Se Batista era um ditador bárbaro, proxeneta dos interesses norte-americanos na ilha, Castro não fica atrás ao pregar que tudo é permitido fazer em prol de um fim maior.

Meios iguais, fins, ao seu modo, diferentes.

Batista usava a repressão e a violência para ampliar e conservar os favores pessoais que recebia da canalha imperialista.

Castro usava ( e usa) da repressão e da violência para conservar na massa a certeza de ser ele, o seu poder, a panacéia para os males que sempre assolaram o povo cubano.

Toda e qualquer ditadura é insana, não importa a cor da ideologia que a sustenta.

Batista não tinha ideologia nem caráter, sonhava acordado às custas do desespero cubano.

Castro sonhava – e segue sonhando – um sonho profundo no qual Cuba é uma ilha paradisíaca em que o povo come, lê e não fica doente.

Para Castro, os fins justificam os meios. O fim almejado por Castro é o convencimento das massas acerca de sua divindade. Castro acredita piamente que foi ungido pelo povo para expulsar os espoliadores da ilha. Castro é amado pelos famintos, venerado pelos companheiros de armas. Amar Castro é o fim, não importa a que preço. Quem não o ama, está a serviço dos interesses escusos do imperialismo norte-americano. É simples. É simples e simplório.

Certa vez o "camarada" Lênin disse: “Que liberdade? A liberdade para morrer de fome? Para que essa liberdade?”.

Todo ditador tem convicção plena de que somente ele é capaz de pensar, somente ele é capaz de dizer o que é bom ou o que é mau para o seu povo. Batista era um psicopata, acreditava-se um ser supremo. Castro é esquizofrênico, tem convicção plena de que o povo precisa apenas de pão, água e aspirinas.

O que é a liberdade? Para que liberdade? Qual liberdade?

Toda ditadura é estúpida. Toda ditadura é baseada no medo: no medo que os ditadores possuem de ver a sua autoridade perder a legitimidade, e no medo dos perseguidos que não compartilham dos ideais esquizofrênicos dos que detêm o poder.

A Revolução Cubana foi boa no único e efêmero instante em que expulsou Fulgêncio Batista do poder. O povo segue amando a revolução. Mas quem é o povo? Quem “são” o povo? Todos? A maioria? Sim, a maioria. No entanto, assim como a maioria não pode ser obrigada a ser escravizada pela minoria, a minoria também não pode ser forçada a pensar apenas conforme os ditames de uma pseudo maioria. Digo pseudo maioria porque em uma ditadura não existe liberdade de pensamento. Numa ditadura é o ditador quem pensa pelo povo, e este, se não reclama, se aceita voluntariamente (como na maior parte do regime fidelista) o pensamento único, imposto verticalmente, igualmente não é livre (por fatores inconscientes) para pensar, motivo pelo qual também não exerce o poder.

Liberdade? Para que liberdade?

Se eu fosse ditador, você poderia ficar inerte, pois a opinião que manifestei obrigatoriamente também seria a sua opinião. Mas não sou um ditador e, se muito embora também não vivamos em uma democracia, você é livre para externar o seu pensamento e contrapô-lo às razões que acabei de expender em favor da liberdade.

Os fins, por mais nobres que em abstrato possam parecer, não justificam a desconsideração da humanidade como um fim em si mesmo.

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