domingo, março 26, 2006

Auto-análise

Para o “cidadão comum”, que por inapetência pelo poder ou excesso de auto-crítica suficiente para demovê-lo de qualquer pretensão com relação a cargos políticos, é muito difícil digerir as notícias reveladas pela imprensa a respeito dos meandros da política profissional. Na verdade, esse gênero que denominei de cidadão comum poderia ser subdividido em duas espécies: a dos que se desiludiram completamente com seus representantes e resolveram simplesmente se acomodar em meio ao mar de esterco, preferindo apenas manifestar-se dizendo que têm horror de política, de que a política é assim mesmo e não há como mudá-la; e a dos que, apesar de igualmente desiludidos, ainda têm lá no fundo da alma um pouco de esperança de que as coisas vão melhorar algum dia, e ainda sentem-se responsáveis por essa melhora das coisas, ainda que ela só venha a se realizar algumas centenas de anos após a sua morte.
Em ano de eleições, é de vital importância que cada “cidadão comum” faça a sua auto-análise e escolha em qual dessas duas categorias pretenderá se enquadrar na hora de digitar seu voto.




De denúncias, denunciados, denunciantes e denuncismos


Deveria ser revolta, mas acho que já não é este o sentimento. O último espetáculo tragicômico que ainda ecoa dos picadeiros de Brasília – aquele cujos protagonistas são um caseiro, uma instituição financeira de capital público, um médico-economista, um notebook, tucanos, arapongas, e outros animais semelhantes – causa-me tristeza, mas já não me é capaz de causar revolta. Que o jogo é jogado de forma desleal por ambos os lados, isso é e sempre foi evidente – agora, não consigo compreender o porquê de apesar de ambos terem sofrido derrotas nos últimos tempos ainda insistirem em adotar fielmente as mesmas estratégias: não dava ao menos para dissimular com um pouco mais de mestria?


Munique

Após ver o filme entendi o porquê da polêmica:a imparcialidade, o “encimadomurismo” possui uma conotação pejorativa quando estão em jogo rivalidades políticas. Li que o Spielberg levou pau dos dois lados: os palestinos o acusaram de ignorar as causas legitimadoras do ataque contra a delegação olímpica israelense; já os israelenses o acusaram de qualificar como terrorista a sua legítima retaliação contra a ação do Setembro Negro.
Nenhuma das duas acusações se sustentam após uma análise descompromissada do filme. Nem mesmo podemos atribuir ao filme uma posição imparcial: Munique é um filme com forte conotação ideológica e, como tal, não se isenta de afirmar um posicionamento com relação ao conflito israelo-palestino.
Spielberg é judeu, mas não é sionista. Da maneira como foi apresentado, o filme poderia ter sido feito por um palestino, desde que não fosse simpatizante do Hammas, do Hezzbolah ou similares.A ideologia que permeia o filme é a única capaz de algum dia por fim ao histórico conflito entre israelenses e palestinos. Munique nos mostra que os dois lados têm as suas razões para estarem lutando, mas nenhuma delas é capaz de suplantar inequivocamente a outra; mas principalmente o que o filme nos revela é que a tolerância entre palestinos e israelenses, considerados estes enquanto povo, é algo possível, desde que haja vontade política para tal.

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