sábado, julho 01, 2006

Habana Blues

Não deixe de assistir à Habana Blues, filme cubano co-produzido pela rede TVE (Televisón Española). Aqueles que ainda imaginam que a ilha de Fidel é um paraíso, após assistir ao filme, sofrerão uma forte decepção. Apesar disso, alerto aos mais empolgados que o filme não faz apologia do capitalismo, nem constitui-se em libelo à favor da ampla abertura do regime castrista. A história é simples, simplória até: os protagonistas são músicos em busca da remota oportunidade de conseguirem viver de sua arte. Em meio à crises familiares, decorrentes diretamente da miserável economia cubana, os dois são seduzidos por uma chance de assinarem contrato com uma produtora espanhola, a qual subsidiaria turnê e produção de disco na Europa. A simplicidade do enredo acaba permitindo que venha à tona o conteúdo real do dilema cubano. Mas não espere respostas, a proposta do filme é a reflexão. Cuba não é um paraíso, muito embora poderia ter sido. Cuba não é o Haiti, mas pode vir a se tornar. A mensagem do filme, segundo a leitura que fiz, pode se resumir ao seguinte: a liberdade é o nosso maior bem mas, justamente por isso, ela não tem preço. O que é pior, ser escravo do Estado, ou ser escravo do capital? Rui e Tito, os dois protagonistas do filme, fazem escolhas diferentes. Em um diálogo marcante, o qual transcrevo de forma não-literal, os dois revelam para o espectador o que significa ser cubano e viver em Cuba nos dias de hoje:

Tito: “Tenho 28 anos, e nunca pude sair desta maldita ilha!”

Rui: “ De que adianta sair, em troca de virar escravo dessa empresa estrangeira?!”

Tito: “Mas e aqui, também somos escravos!”

Rui: “Mas aqui, ao menos, somos escravos de nós mesmos!”

A liberdade é tudo. A liberdade é tudo, mas no momento em que optamos por vendê-la para outrem, ainda que não percebamos de imediato, a perdemos para sempre. O povo cubano precisa de liberdade. Mas como encontrar a liberdade e não se tornar um haitiano?

Nenhum comentário: