domingo, julho 02, 2006

Ludovico, o ingênuo

Após várias semanas de sono leve e tranqüilo, Ludovico não conseguiu pregar o olho na madrugada de hoje. O balãozinho do Zidane sobre o Ronaldinho “Gordo” Nazário, em imagem digital de alta definição, com a fabulosa melodia da Marselhesa em som digital ao fundo, além de trazer a insônia de volta, levou-o a pensar no tão falado padrão japonês de tv digital. Ludovico não entende o porquê de tanta malhação a respeito da escolha feita pelo governo brasileiro. Ludovico agradece mais uma vez à Lula, cada dia mais firme na condição de “nosso pai”, por garantir que nunca os pobres brasileiros terão acesso às benesses da tv digital. Temos de comemorar o fato de que as grandes beneficiadas pelo sistema escolhido serão as grandes empresas de televisão, as únicas capazes, segundo os termos do decreto, de usufruir do espectro de freqüência digital. Ludovico sente-se aliviado pelo fato de que a tv digital não significará uma maior democratização dos meios de comunicação social no Brasil, pois, afora os quatro canais públicos que serão criados, não será dado espaço para uma proliferação de pequenos canais de tv: nós, os pobres brasileiros, seguiremos excluídos das nefastas atrações televisivas. Ludovico temia que a implantação da TV digital no Brasil o tentasse a abandonar as suas leituras em troca de horas e horas de hipnose televisiva. Ludovico não tem dinheiro para trocar a sua tv-de-14 polegadas-tela oval, portanto, sente-se à salvo das tentações digitais. Ludovico ainda não leu o decreto do Lula, mas está curioso para saber se o pai dos pobres assegurou a instalação da tal fábrica de semicondutores no Brasil. Apesar de não ter lido, Ludovico tem certeza que o “seu pai” não assinaria o contrato se essa condição não tivesse sido garantida pelo japoneses. Afinal de contas, Ludovico, apesar de não gostar de televisão, nem de se deixar seduzir pelas tão enaltecidas qualidades da tecnologia high tech, não vê a hora de conseguir um bom emprego. Depois da assinatura do decreto, Ludovico já definiu seu voto: votará em Lula pois, graças a ele, nunca terá o desgosto de ver os fiascos da seleção brasileira em imagem digital. Já os ricos, coitados, não podem dizer o mesmo.

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