sábado, julho 01, 2006

Não se ufane do seu país

O circo acabou. Novamente os franceses nos expulsaram do picadeiro. Deveria estar me sentindo triste ante à prematura eliminação brasileira. No entanto, o sentimento que se apossa de mim após o vexame de Frankfurt é um misto de melancolia, pessimismo e indignação. Não sou daqueles que se ufanam do meu país. O slogan lulo-fascista do “Sou brasileiro e não desisto nunca” sempre soou piegas em meus ouvidos. A vida não se resume ao futebol, nem a conquista da Copa serviria de panacéia para os males da pátria, muito embora tenha certeza de que o governo , como de costume, utilizaria o hexa como sinal de que o Brasil está dando certo. A vida não se resume ao futebol, mas o desempenho pífio de nossos jogadores serve para compreendermos um pouco a personalidade brasileira. A seleção brasileira entrou nessa Copa com a plena convicção de que inevitavelmente seria a campeã. Nossos jogadores são os melhores, os mais talentosos. Os dois melhores times da Copa eram o titular e o reserva do Brasil. Há dois anos Ronaldinho Gaúcho é o melhor jogador do planeta. Ronaldo “Gordo” Nazário é o maior artilheiro da história das copas. Kaká é o melhor jogador da melhor equipe da Itália. Juninho Pernambucano é o melhor jogador da melhor equipe da França. Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Nazário são, respectivamente, os dois melhores jogadores dos dois melhores times da Espanha. Marcelinho Paraíba, que nem sequer foi convocado, é o melhor jogador da Alemanha. Zagallo é o técnico com mais títulos mundiais. Com toda essa abundância de talentos, os jogadores brasileiros tinham a convicção de que, inevitavelmente, e sem esforço, a Copa acabaria caindo em suas mãos. Com essa certeza, para que se esforçar, para que correr o risco de uma lesão, para que se extenuar em campo? Somos os melhores, sendo os melhores, sendo os mais talentosos, não precisamos de esforço para conquistar os nossos objetivos. Para que estudar para a prova, se sou inteligente? Para que se preocupar com as eleições, se todos os políticos são iguais, e as coisas não irão mudar de qualquer forma? Para que me desgastar lendo um livro, se ele não vai me encher a barriga, nem me fazer ganhar dinheiro? Por que não votar no Lula, se ele me garante ao menos R$90,00 de bolsa-família? Para que trabalhar, se meu pai é rico? O brasileiro é alegre, é esperto. Nosso país é rico em recursos naturais. Nosso país é o mais belo do globo. Não temos furacão nem terremoto. Deus, afinal de contas, é brasileiro, haja o que houver, tudo vai acabar dando certo, para que se preocupar? De que adianta protestar contra os políticos, se isso “não dá em nada”? “Caixa dois? Estão fazendo tempestade em copo d´água. Isso é intriga da oposição. Todos os partidos sempre usaram caixa dois”. Corrupção? A culpa não é nossa, é do sistema, não tem como mudar. “Nos acusam de corruptos, eles não se enxergam?” Futebol, futebol é arte, não é um mero esporte. Mais importante que o resultado é jogar bonito.

Senti vergonha após a derrota de hoje. Mas esse sentimento de vergonha não teve nada a ver com o futebol em si. Senti vergonha por ver refletido na nossa seleção a pior da personalidade brasileira. A imagem do conformismo, da preguiça, da acomodação, da soberba, da falta de iniciativa, da auto-enganação, da falta de espírito vencedor, da megalomania, da auto-ilusão, da mediocridade, da covardia, do estúpido “jeitinho brasileiro”. Me perdoem se estou sendo ranzinza. Mas não me chamem de pessimista, nem de antipatriótico – acho ridículo o tal do patriotismo. Quero deixar claro, antes de encerrar, que todas essas características mencionadas não resumem o verdadeiro espírito brasileiro. Se foram elas que afloraram após o fiasco da seleção verde-amarela, algumas horas antes, através da seleção portuguesa, o Felipão, um brasileiro que merece o nosso orgulho, mais uma vez mostrou qual o caminho que devemos trilhar para conquistar nossos objetivos: com talento, sem dúvida, é mais fácil. Mas só o talento não basta, é preciso muito trabalho. Portanto, agora que o circo acabou, não nos esqueçamos do exemplo do Felipão: muito trabalho e superação, só assim é possível vencer na vida.

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