terça-feira, março 01, 2011

Agradecimento de um leitor

Ao Scliar, assim como ao Erico, escritores destacados na biblioteca do meu pai, atribuo a responsabilidade por terem me tornado um apaixonado pela literatura. Foi Cenas da Vida Minúscula, que li ainda guri lá em Jaguarão, meu verdadeiro primeiro livro. Foi o primeiro livro a me instigar a curiosidade de manusear o dicionário (na busca pelo significado da palavra homúnculo)... e também o primeiro a me fazer “viajar”( na trilha das Amazonas). Na adolescência, após ler uma crônica sua, em que parafraseava uma passagem bíblica, me senti encorajado a arriscar uma paráfrase sobre a vida de Jesus (um Cristo nascido menino de rua, sob um viaduto, e que se tornaria Rei dos Mendigos), a qual me rendeu elogios da professora de português, diante de toda a turma, incentivando ainda mais a minha voracidade pelos livros e pela escrita. Herdei do pai o hábito de ler a ZH dominical, sobretudo as crônicas do Veríssimo e do Scliar, desde os tempos do Caderno ZH e por fim no Caderno Donna. “Leste o Scliar?”...era pergunta habitual lá em casa aos domingos. É difícil assimilar a ideia de que não mais lerei o Scliar na ZH dominical. O Veríssimo ficará lá, solitário na terceira página....depois de lê-lo faltará algo....Bem que poderiam remanejar o David para lá. Penso que existe algo em comum entre eles, não pelo estilo, sei lá, acho que pelo fato de o Scliar ter prefaciado o Canibais, mas principalmente por ainda guardar em minha Caixa de Entrada a resposta do David a um e-mail que enviei-lhe alguns dias atrás: “Segue na mesma, Joaquim...” O Scliar não merecia seguir na mesma em que estava desde o início de janeiro. Na realidade, ele já não estava mais aqui, e Saturno parecia reinar no Bom Fim. Quando sair do escritório, rumando pela Independência e descendo a Telles, ainda lembrarei daquela crônica na qual ele descrevia um passeio matinal pela Vasco, pela Telles, pela Ramiro, mas não mais conservarei aquela esperança de encontrá-lo numa virada de esquina. É difícil circular pelo Bom Fim sabendo que ele não mais está aqui. Quero a Rua Moacyr Scliar! Para quem comentarei a respeito dos nomes que condicionam destinos? A quem recorrerei para encontrar novas releituras do Antigo Testamento? Adeus Scliar, obrigado por ajudar meu pai a me fazer um apaixonado pelos livros. Shalom Scliar. Na minha biblioteca estás imortalizado e as tuas histórias serão lidas pelo meu filho.. E será a tua imortalidade que me ajudará, assim como ajudaste o meu pai, a fazer do meu filho um grande leitor. E assim como aconteceu comigo, e com tantos outros, acontecerá com o Gabriel e tantos outros futuros leitores...Leitores gerados graças a Escritores com E maiúsculo, como tu e o Erico...Escritores...esses seres imortais...Como tu, caro Scliar....Obrigado Moacyr Scliar...Obrigado...Shalom.

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