sexta-feira, março 04, 2011

INFÂMIA

Uma lei do município de Porto Alegre, publicada em fevereiro de 2010,  obriga que em todos os eventos esportivos federados realizados na cidade seja executado o hino rio-grandense e o hino nacional.
O hino rio-grandense é belíssimo. Difícil conter a emoção ao vê-lo cantado, com paixão, pelos torcedores de Grêmio ou Internacional.
Façanhas que devem servir de modelo a toda Terra. Aurora precursora do farol da liberdade. 20 de setembro precursor da liberdade.
O hino-riograndense é a manifestação mais intensa do amor cívico do gaúcho. Narra ele a história da revolução farroupilha, epopéia de um povo contra a exploração do governo imperial.
Todo povo precisa sonhar. E sonham os gaúchos, afirmam sua auto-estima, enaltecendo as façanhas dos heróis farroupilhas.
História ou mito? Seriam os farrapos os precursores da liberdade? Mas que liberdade é essa?
Juremir Machado da Silva desconstrói a história oficial da revolução farroupilha.
O seu História Regional da Infâmia revela que os heróis farroupilhas  não passavam de infames fazendeiros que, com o único propósito de defender o próprio bolso, instauraram uma guerra que durante 10 anos banhou de sangue as coxilhas da Província de São Pedro.
Traição, corrupção, assassinatos covardes..esse o enredo do livro.
Se a história oficial nos conta que os farroupilhas custaram a largar as armas pelo fato de o Império não aceitar alforriar os negros que lutaram em favor da revolução, Juremir, com a autoridade de quem pesquisou em mais de 1.500 documentos e leu mais de 250 livros a respeito, afirma que a revolução foi patrocinada com recursos provenientes da venda de negros para o Uruguai.
O exército farroupilha era composto por forte contingente de negros, arregimentados com a promessa de que se lutassem pela causa farrapa ganhariam a liberdade. É dessa liberdade que fala o hino cuja execução obriga a lei porto-alegrense.
O  que revelou a pesquisa de Juremir é que os negros foram as maiores vítimas da revolução, uma vez que, para por fim a guerra e assegurar a própria anistia, os próceres farrapos firmaram um infame acordo com o pacificador Duque de Caxias, por força do qual David Canabarro, com o conhecimento de Zeca Neto, entregou os lanceiros negros para serem chacinados na Batalha de Porongos.
Onde começa a história e acaba o mito? O que é a história? “Seria a História um labirinto de espelhos que se refletem e neutralizam como uma série infinita de versões incompletas, sobre um mesmo acontecimento, narradas por cegos de olhos bem abertos e interiormente iluminados?” – pergunta Juremir nas primeiras páginas da obra.
O que celebramos no 20 de setembro? Um fato histórico ou um mito criado numa época em que o nacionalismo reinante (anos trinta) impunha a construção de uma mitologia gaúcha?
Questionei o Juremir, na Feira do Livro, se tínhamos motivos para continuar celebrando o 20 de setembro. Em resposta, disse que sim, pois houve muita bravura, afinal. Mas que bravura é essa? Se existiu bravura, não há qualquer relação entre ela e a cantada no hino rio-grandense.
Dei-me conta que formulei mal a pergunta e, em tempo, volto a formula-la: consegues celebrar o 20 de setembro, Juremir?

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