Nervos de gelo

A Fórmula-1 já há muito tempo perdeu o alto índice de popularidade que gozava entre os brasileiros nos tempos de Ayrton Senna. A falta de um brasileiro capaz de disputar com chances reais o título do campeonato é o principal fator para esse desinteresse. Não me incluo entre as viúvas do Senna, mas reconheço que nos últimos anos o prazer de acompanhar corridas de fóruma-1 se esgotava poucas voltas após a largada. Mas o campeonato que se encerrou agora há pouco foi o mais emocionante que acompanhei nos últimos vinte anos. A sucessão de acontecimentos que culminou no título de Kimi Raikonen renderia um bom filme. Mas não é apenas o fato de o piloto que chegou na última corrida como terceiro colocado no campeonato e acabou por sagra-se campeão que remete a um bom filme hollywoodiano. Lewis Hamilton precisaria ter somado tão-somente 4 pontos nas duas últimas corridas para se tornar o mais jovem piloto, o primeiro piloto estreante e o único piloto negro da história campeão mundial de Fóruma-1: conquistou apenas 2. Faltaram nervos de aço ao inglês, os quais tem de sobra o finlandês campeão. Nas duas últimas corridas 3 pilotos poderiam chegar ao título - isso havia acontecido pela última vez em 1987, com Senna, Prost, Piquet e Mansel. Venceu o terceiro, consagrando a Ferrari, pela primeira vez na era pós-Schumacher, como campeã mundial de construtores e de pilotos. Alonso, apesar da perda do título, não conseguia esconder o forte contentamento pelo fracasso de Hamilton e Ron Dennis. Para nós brasileiros, seria muito mais prazeroso se Felipe Massa tivesse condições de conquistar o título, o qual sequer beliscou. No pódio, fomos brindados por um gafe medonha do tucano José Serra. Ao ser anunciado para entregar o troféu a Felipe Massa, o governador tucano, de taça na mão, enveredou na direção de Alonso, que, há tempo, alertou-lhe do equívoco. Na MacLaren será difícil dormir após o fracasso de hoje.