sexta-feira, outubro 19, 2007

Tropa de Elite

Assisti ao filme na semana passada, numa cópia pirata, adquirida em banca de camelô, sem constrangimentos. O que vi foi uma obra parcial, destinada a mostrar a versão daqueles que vestem a farda do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar. O filme mostra o BOP como uma tropa formada por homens incorruptíveis, doutrinados militarmente para matar bandidos. Não entrarei no mérito da autencidade desse perfil, pois acho mais relevante ressaltar que a ética que norteia a tropa é a de que todos os meios são legítimos para alcançar o fim máximo: acabar, no sentido mais estrito possível, com a bandidagem. O "olho por olho" é a lei do BOP, legítimo representante de um Estado de Polícia.

Ocorre que vivemos, ao menos formalmente, em um Estado Democrático de Direito. Não somos regidos pela velha Lei de Talião, mas de uma Constituição elaborada segundo os dogmas do constitucionalismo humanista. Por vivermos em um estado democrático, cujos princípios este blog não cansa de louvar, reconhece-se o direito dos autores da obra cinematográfica de expressarem o ponto de vista que adotam em relação ao gravíssimo problema da violência em nosso país.

O ponto de vista expressado é o de que a causa do banditismo do tráfico é a cooperação indireta dos "burgueses" que sobem ao morro para comprar as drogas vendidas pelos traficantes. Não negamos essa realidade, no entanto discordamos totalmente da opinião de que seja essa a única causa do tráfico.

O filme, como manifesto, peca ao tentar simplificar exageradamente a causa e a solução para o problema. Peca também ao render-se ao desespero pela busca de paliativos imediatos, pregando que o meio em que estamos inseridos não permite outra solução senão o emprego da violência como estratégia imprescindível para combater a violência.

Apesar de discordar frontalmente da opinião externada pelos autores de Tropa de Elite, denunciando inclusive o fascismo que permeia a obra, não posso deixar de reconhecer que ao estimular o debate sobre um dos temas mais caros de nosso país o filme merece ser visto e revisto por todos que puderem.


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