sexta-feira, outubro 19, 2007

Vênus

Extraordinário. Não existe adjetivo mais apropriado para qualificar o filme e a atuação do elenco, do qual se sobrassaem Peter O´Toole e Jodie Whittaker. Ao nos depararmos com um caso de amor entre uma pessoa idosa e uma jovem tendemos, inevitavelmente, a encararmos a situação como ridícula, indecorosa. Se o mais jovem se submete aos desejos do mais idoso, o comum é interpretamos desvios de personalidade entre ambos: o primeiro ingressando na relação com objetivos materiais; o segundo motivado por senilidade e/ou perversão. O filme não se propõe a pulverizar essa corriqueira interpretação, pois tenderia ao absurdo. Maurice se apaixona por Jessie, sobrinha-neta do melhor amigo, que se muda do interior para Londres a fim de cuidar do neurastênico e rabujento tio-avô. Numa fase em que já não esperava da vida grandes acontecimentos, vê na jovem a última das inúmeras paixões que viveu. Ainda que o corpo não reaja ao desejo, a mente lhe propicia render-se ao interesse, embora teórico, pelo erotismo. Essa é a principal mensagem do filme: o erotismo não depende exclusivamente do corpo ativo. Maurice sente tesão pela jovem, deseja ardorosamente seu corpo, mesmo que dele não possa mais gozar. A atração do idoso pela ninfeta não é um amor frio, mas um desejo ardente de possuí-la fisicamente, ainda que para tanto possa prescindir da prática, limitando-se ao prazer teórico. Maurice ama Jessie na sua condição de homem, apesar da inevitável castração trazida pela velhice. O filme é belo, sem ingenuidade, sem pieguice, sem açucaramento.

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