sábado, maio 06, 2006

Eleições: 147 dias

Existem homens que tentam transformar a mídia em picadeiro. A mídia, pela necessidade de atrair a atenção das massas, submete-se a tais propósitos circenses, muitas vezes privilegiando o inusitado em detrimento do relevante. Certas atitudes que ocorrem no cenário de uma nação, por mais extraordinários que possam parecer, não deveriam ser tratados como assunto sério. Certas cretinices praticadas por homens públicos deveriam ser abordados somente em forma de sátira ou charge. Infelizmente, a Natureza não me brindou com talento para a charge. Ciente de minhas limitações, pretendia me abster de tecer quaisquer comentários acerca de um certo evento circense que vem se desenrolando no cenário político nacional. Mais relevante do que abordar o evento em si, seria comentar as denúncias que o desencadearam. Ocorre que as falcatruas que o bufão ora em evidência realizou ao longo de sua vida pública já foram tão batidas e rebatidas pela mídia, tanto pela pequena quanto pela grande, que acho desnecessário, ao menos por agora, abordá-las novamente. Mas, quanto ao fato em si, não consegui resistir à tentação de falar alguma coisa a respeito.

A greve de fome, ao menos para este que ora escreve, é uma forma de protesto que remete diretamente à luta de Gandhi em prol da independência da Índia. Gandhi valia-se da greve de fome como apenas mais um instrumento de pressão em suas campanhas contra o imperialismo britânico, sustentadas sempre numa ideologia de não-violência, que pregava a desobediência civil como o mais legítimo meio de fazer-se a revolução.

Não lembro de um presidente que tenha feito greve de fome durante o seu mandato. Também não lembro de um presidente, ao menos em um regime democrático, que não tenha sofrido fortes críticas da mídia. Até porque uma mídia que não critica o poder, ou é cega ou é correligionária dos poderosos, o que não se coaduna com a sua função social.
Desse circo que um certo demagogo carioca resolveu montar, cabe ao eleitorado brasileiro questionar-se acerca do seguinte: se esse cara, não tendo sequer sua candidatura homologada pelo PMDB, diante de críticas que estão longe de ser infundadas, resolve fazer greve de fome para evitar que suas falcatruas venham à público, o que seria capaz de fazer se viesse a eleger-se Presidente da República? Quantos meses de inanição suportaria para tentar censurar as improbidades que, considerando sua natureza e seus antecedentes, com certeza cometeria uma vez estando no Planalto?Garotinhos e sanguessugas....faltam 147 dias.

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